1° Confidências/Part 2/Por você

Confidências

Parte2/Por você

Estava chovendo forte, graças a Deus, Esmeralda e Pérola dormiam tranquilamente sem problema algum, já Julia precisou deitar-se junto à mãe.

Lívia não reclamara, afinal... Sentia que não conseguiria dormir também sem a filha ali.

Sentia a falta de Otávio, mais do que gostaria de sentir.

Ainda tinha medo de tempestades assim, os pesadelos nunca mais a atormentaram, mas se fosse para que Otávio viesse abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, que ele estaria o seu lado, não se importaria em sofrê-los por todas as noites.

Ela levantou-se sem fazer muito barulho e foi até o quarto ao lado, aproximou-se dos berços e lá estava, a lembrança mais linda que teria daquela linda história de amor.

L:Eu sinto tanto a sua falta, Otávio. (sussurrou)

No Rio de Janeiro.

O:Lívia! (respirando forte)

Ele levantou em um sobressalto de sua cama, dormia inquietamente, chuvas fortes como aquela o fazia lembrar-se dela, ela dormia sempre depois de muito tempo abraçada a ele.

Sonhava quase sempre com ela, ela o chamava... Às vezes em gritos, às vezes em meio a soluços de choro, e às vezes em leves sussurros.

Otávio estava vivendo agora na casa onde passou os melhores dias da sua vida ao lado dela... Lívia.

Ainda sentia o cheiro dela impregnado na casa e nos lençóis.

Todo dia imaginava como estaria a sua mulher, sim, sua mulher, não casaram, mas eram marido e mulher. E as filhas? Será que já andavam? Será que já balbuciavam palavras? Será que Lívia falava sobre ele para elas?

Eram tantas perguntas. Por onde começar?

Lívia estava em uma cidade chamada “Fiore”, uma cidade do interior do Rio de Janeiro, morava em uma casa de campo, afastada do “centro” da cidade.

Havia deixado a Frosch no comando de uma funcionária de confiança, os lucros eram repassados para Vivian, a mesma depositava em uma conta para Lívia.

Era uma manhã de sábado quando bateram na porta da casa de Lívia.

Julia estava à mesa terminando o café da manhã enquanto a mãe segurava Pérola no colo e Esmeralda brincava no cercadinho.

J:Deixa eu abro, mãe. (largando o suco e indo em direção à porta)

Assim que Julia abriu a porta ela o viu, com um sorriso enorme no rosto e uma caixa na mão.

F:Bom dia, Juli... (foi interrompido)

J:Minha mãe não tá! (fechando a porta)

L:Julia? (gritando da cozinha)

J:Oi, mãe? (voltando até a cozinha)

L:Quem era filha? (colocando Pérola junto à irmã)

J:Vendedor de assinatura de Tv paga! (sentando-se novamente junto à mesa)

L:Ana Julia?

Lívia a olhava desconfiada sabia que a filha fez aquilo novamente! Foi em direção à porta e a abriu.

Quando abriu, ele continuava com o sorriso.

L:Querido, me desculpe, entra!(o puxando para dentro)

F:Tudo bem. (entrando)

Ele deu um beijo rápido no rosto dela e em seguida entregou a caixa.

L:O que é isso? (sorrindo)

F:Um bolo, pensei que iria gostar. (seguindo-a até a cozinha)

L:Julia, peça desculpas ao Fernando, essa não é a primeira vez que você faz isso. Eu não te ensinei isso.

J:E não será dessa vez que eu vou pedir desculpas! (saindo da mesa)

L:Julia! Ana Julia! Volte aqui! (indo atrás)

F:Deixe ela... (segurando-a pelo braço)

L:Ela não pode continuar assim, tão sem educação.

F:Ela só deve estar entediada pelas férias. Afinal ela já é quase uma adolescente.

L:Nossa... (o encarando)

F:O que foi?

L:Talvez você tenha razão.

Ele sorriu para ela e a soltou.

Lívia gostava das visitas de Fernando, embora até agora não acreditasse que ele a encontrou na cidade de Fiore por acaso. Mas ela não tinha direito de mandá-lo embora, a cidade não era dela, e não iria mudar-se só porque ele a encontrou, afinal Fernando prometera que não contaria a ninguém seu “esconderijo”.

Mal sabia ela que o que ele mais queria era ela assim, livre para ele.

Fernando aproximou-se do cercadinho e pegou Esmeralda no colo.

F:Oi? Oi bebê linda? Como você está?Ein? Diz papai, ein Pérola? Diz papai! (sorrindo e erguendo a pequena para o alto)

No mesmo instante, Lívia a pegou do colo dele.

F:Lívia?

L:O que você está fazendo? (brava)

F:Eu só... (foi interrompido)

L:Primeiro, ela tem um pai e não é você! (Colocando-a de volta no cercadinho)

F:Me desculpe, eu não queria... (foi interrompido novamente)

L:Segundo, ela não é a Pérola, ela é a Esmeralda! (olhando profundamente para ele)

Ele abaixou a cabeça e fez uma expressão de arrependimento que começou a desarmar, Lívia.

L:Desculpe... Não queria ser grossa, você está sendo muito amigo nesses últimos meses.

F:Podemos mudar isso, Lívia. (se aproximando dela)

Ela foi indo para trás até encostar-se a pia.

L:Fernando, eu já disse... (constrangida)

F:Eu posso te fazer feliz! O tempo não para, Lívia. O que você quer esperar? (aproximando-se de seus lábios)

L:Fernando...

F: Eu posso te ajudar a cuidar delas. (a olhando apaixonado)

L:Fernando, eu ainda amo o Otávio, com todas as minhas forças.

F:Vai esperá-lo até quando, Lívia? (irritado)

L:Até o meu coração desistir desse amor.

Fernando se aproximou novamente e voltou com a voz doce e calma, segurou delicadamente o rosto dela.

F:Já ouviu dizer que só um novo amor é capaz de superar um antigo?

L:E você já ouviu que um verdadeiro e intenso amor é insuperável?

Ele se afastou.

L:Sem contar que você nem é um novo amor, Fernando. (rindo)

F:Lívia...

Ela mudou a fisionomia no mesmo instante.

L:Se continuar a insistir nisso, acho melhor não nos vermos mais, Fernando.

F:Ok, me desculpe, eu acabei sendo inconveniente.

Ela se afastou dele e começou a tirar a mesa do café da manhã.

F:Eu, eu acho que devíamos passear durante a tarde. (ajudando-a)

L:Não, talvez não seja uma boa ideia.

F:Julia está de férias, deve estar entediada. Não?

L:Julia não te suporta, Fernando, realmente não seria uma boa ideia.

F:Eu só quero cuidar de vocês. (com a voz triste)

L:Eu sei (se aproximando) e sou grata por isso (acariciando seu rosto). Mas não vamos nos machucar mais, por favor! (saindo de perto e continuando a tirar a mesa)

Ele ficou em silêncio, Fernando sabia que seria somente uma questão de tempo até que ela cedesse. Mas ao mesmo tempo ele pensava consigo... “E se ele descobre tudo?” Tempo... Não tinha como saber até quando poderia contar com ele.

Na antiga casa de Otávio e Lívia.

Vivian e Luiz haviam ido até lá fazer um almoço, afinal, se convidassem ele não iria então eles apenas avisaram.

Ele estava no computador quando chegaram.

Luiz e Vivian foram entrando.

L.F:Bom dia!

V:Bom dia, você não passou a madrugada aí, não?

O:Não, só das cinco da manhã em diante.

Math:Encontrou alguma coisa, Seu Otávio? (se aproximando)

O:Não, não é dessa vez que você irá ver a Julia. (sorrindo tristemente e bagunçando o cabelo do menino)

Otávio saiu de frente ao computador e levantou-se para levar a xícara de café até a cozinha.

L.F:Tenho certeza que você terá uma pista.

O:Eu fui até o banco. (sério)

V:E aí?

L.F:Disseram alguma coisa?

O:Não (desapontado)

V:Era de se esperar, afinal nem para a responsável atual pela Frosch eles disseram a cidade onde a conta foi aberta.

L.F:O que também não adiantaria muito, ela poderia ter aberto em qualquer cidade, até mesmo aqui no Rio de Janeiro.

O:Não, ela abriria em uma cidade próxima ou até mesmo na cidade onde ela está, se não, não teria o porque desse mistério todo.

V:Você não pode abrir um processo pela guarda das meninas só para achá-la e depois remover?

L.F: Não, meu amor. Isso certamente iria nos ajudar a encontrá-la, mas também a prejudicaria e muito.

O:E isso eu não quero.

V:Mas, desde quando você descobriu a verdade já se passou dois meses e nada. Nenhuma pista.

O:Eu contratei um detetive.

L.F:Detetive? (rindo)

O:Eu preciso apelar a todos os recursos que eu tiver.

L.F:Claro, mas é que isso é tão... Tão coisa de TV, filmes... Entende? (rindo)

V:Entendemos meu amor, entendemos.

O:Agora tem uma outra coisa que eu havia me esquecido. (pensativo)

Math: Alguma pista?

O:Fernando...

V:Fernando? O que tem ele?

O:Ele nunca mais apareceu depois daquele dia na igreja.

L.F:Otávio, você não pode voltar a acreditar que a Lívia e ele... (foi interrompido)

O:Não! Não...

V:Eu já estava me preparando para te dar uma bronca.

O:Mas isso me incomoda, que ele rasurou aquele caderno eu não tenho duvidas, mas algo me diz que ele está perto dela.

L.F:Ela jamais o aceitaria, ainda mais assim... Tão rápido.

V:Luiz! (dando um tapa no ombro dele)

...

V:Nem tão rápido e nem depois. Lívia jamais o aceitaria. A história dela com o Fernando já deu o que tinha que dar.

Otávio começou a andar de um lado para o outro.

O:Acho que eu vou enlouquecer.

L.F:Ela não te mandou mais nada, Vivian?

V:Nada!

Math: Nem a Julia me ligou mais.

Nesse mesmo instante, Vivian, Luiz e Otávio o olharam surpresos.

V:Filho? Você não havia nos dito nada!

Math: Não?

V:Matheus! (o repreendendo)

Math:Eu...

O:Isso faz quanto tempo?

V: Umas três semanas.

O: O que ela disse?

Math:Disse que sentia a nossa falta, que a nova escola não era legal e quando ela começou a descrever o lugar onde ela morava a ligação caiu.

L.F:Ela ia dizer onde elas estavam? (animado)

Math:Disse que não tinham muitos vizinhos porque não moravam na cidade, aí quando eu perguntei como assim. A ligação caiu.

V:Filho...

O:Tudo bem, ele contou só agora, mas contou.

L.F:Podemos procurar o nome da Julia nas escolas das cidades vizinhas.

O:Bom, isso já é um começo.

Math:Quando ela ligar eu conto que o Seu Otávio que voltar com a tia Lívia?

V:Não, você vai perguntar o nome da cidade onde elas então.

O:E também contar para a Julia que eu quero a Lívia de volta.

Math:Tudo bem.

L.F:Porque não grampeamos os telefones da casa da Vivian?

O:Claro!

V:Ela não me liga a muito tempo, talvez continue apenas com cartas.

O:Mas ela parou com as cartas também, não parou?

V:Sim, mas me prometeu que mandaria notícias. Ela não iria simplesmente não me mandar mais.

L.F:Talvez a questão agora, seja apenas esperar.

O:Não posso ficar esperando muito tempo, eu estou perdendo a vida ao lado da mulher que eu amo e das minhas filhas.

Vivian e Luiz o olhavam, penalizados, sabiam o tamanho do sofrimento dele e o quanto ele desejava um filho.

L.F:E se você não depositasse os lucros da Frosch? Seria uma maneira de ela precisar entrar em contato com você, Vivian.

O:Não! Não quero colocar a saúde das minhas filhas em risco. E se devido a isso faltar alguma coisa para elas? Não, de jeito nenhum.

V: Ela logo dará notícias. Ela me prometeu.

O:Vocês lembram do meu amigo policial?

L.F:Aquele que te deixou ter acesso aos arquivos que...(foi interrompido)

O:Isso! Ele mesmo, talvez ele possa me ajudar.

V:Como? Vai colocar a polícia atrás dela? É isso que ela deve estar pensando que você irá fazer.

O:Não! Ele pode me ajudar com as escutas no seu telefone.

Math: No meu celular também, Julia pode ligar.

L.F: Sim, mas como eu te disse... Agora é só esperar.

O:Não, eu vou nas cidades vizinhas.

V:E vai bater de porta em porta?

O:Se for preciso eu vou.

L.F:Então eu vou também.

V:Luiz!

Math:Porque não nos dividimos?

Mais uma vez todos olharam para Matheus, o pequeno rapaz se mostrava mais lógico do que todos ali.

V:Tudo bem. Mas e se ela ligar?

Math:Eu não irei desgrudar do meu celular.

V:Então eu fico.

L.F:Então Otávio vai para uma cidade ao norte e Matheus e eu vamos para o sul.

V:Qualquer coisa eu ligo.

O:Ótimo, então vamos. (já com as chaves do carro na mão)

V:Vai aonde? Vamos almoçar primeiro, depois vocês vão.

Com muita reluta Otávio almoçou.

Em Fiore...