domingo, janeiro 17, 2016

Doce Poesia - 9º Episódio

B: Que isso, não é para tanto. Mordomo... (Rindo) Achei que isso nem existisse.
Ele continuava encarando-a, um leve sorriso esboçava em seu rosto.
- Desculpe-me, Senhora. Minha intensão não foi aborrecê-la, eu sinto muito.
Ao dizer isso, Dan abaixou-se em frente a ela, como uma reverencia.
Beatriz pensou por um momento que aquele homem talvez não tivesse um juízo perfeito.
B: Por favor, levante-se, não precisa fazer... (foi interrompida)
Ben: Dan!!! Venha até o meu escritório!
A voz de Bento era autoritária, e até um leve sobressalto o corpo de Dan esboçou ao ouvir seu nome.
Ele sequer parou para pensar, a encarou nos olhos e virou-se em direção ao escritório de Bento.
A porta fora trancada, pelo jeito Bento não queria que Beatriz soubesse o que andava ordenando aos empregados.
Andava lentamente pela grande sala, era tudo impecavelmente lindo, o cheiro da madeira do assoalho a deixava nas nuvens.
Pensava em como Bento pode esconder aquele lugar por tanto tempo.
E tudo indicava que ele vinha ali frequentemente, os objetos e a rotina da casa era familiar, e isso ao mesmo tempo que a fazia sentir-se em casa, a assustava, pois ultimamente, sentia aquele lugar como qualquer coisa, menos sua casa.
Resolveu então subir as escadas, ao tocar no corrimão, lembrou-se de horas atrás, quando acabou caindo por uma escada muito parecida com aquela.
Certo arrepio invadiu seu corpo ao pensar nisso.
Começou a subir, sequer sabia onde seria seu quarto, mas estava seguindo. Logo encontrou um corredor, em um deles já ouvia a pequena Ana Beatriz pulando e fazendo barulho em seu novo quarto, de certo deveria estar cheio de novidades da cidade grande, como Notebook, ou o tão sonhado Ipad, que Ana Beatriz empenhava-se constantemente em conseguir um do pai.
Ao fim do corredor, ela pode ver uma porta, a única que ficava de frente para o corredor, a porta era diferente das demais, parecia um tanto mais escura e com um aspecto antigo.
O impulso a fez tocar na maçaneta e iria abrir, se não fosse o fato da filha abrir a porta do quarto gritando.
O grito era ensurdecedor, e o corredor produzia um eco horrível.
B:Bia! Pelo amor de Deus, o que é isso? Que gritaria é essa?
A: Um bicho! Horrível, mãe. Chame o papai, ele vai tirá-lo daí.
B: Seu pai está no escritório conversando com o mordomo, deixe-me ver antes.
Beatriz entrou um tanto receosa no quarto da filha, afinal, era um território estranho, não sabia que tipo de animais costumavam aparecer naquela casa.
Ao entrar, percebeu que não se tratava de nada a mais e nada a menos que uma borboleta pousada em sua cama.
B: Bia, é só uma borboleta, e uma linda borboleta, não é pra tanto.
Nesse mesmo instante, Bento adentrou o quarto. Estava um tanto afoito.
Ben: O que foi filha?
A:Um bicho horrível, pai. (abraçando-o)
Bento logo seguiu em direção a cama da filha, olhou a colorida borboleta pousada sobre a mesma, e com apenas um tapa, a desmanchou por entre os dedos.
A frase de que “ não foi nada demais”, ficou presa na garganta de Beatriz;
B: O que está pensando?
Benn: Era um bicho, não vou deixar que minha filha tenha medo de ficar aqui por causa de um bicho.
Beatriz não ousou discutir, era inútil.
Benn: Dan!
Ela o olhou de canto, percebeu que ele estava ali desde o começo. Em silêncio, como se estivesse apenas aguardando as ordens de Bento.
Benn: Troque os lençóis da cama, ou melhor... Troque essa cama imediatamente. Mande as empregadas limparem todo o quarto novamente.
Ele abaixou a cabeça como já era de costume e completou.
Dan: Senhor o quarto foi limpo há uma hora e...
Benn: Está questionando minha ordem?
Dan: De maneira alguma, Senhor.
Benn: Assim espero, você não passa de um empregado, e nada mais. Que isso fique bem claro.
Beatriz queria intervir, mas sua posição não era lá grandes coisas.
A garota fingia um susto, soluçava forçadamente aos braços do pai.
A: Eu fiquei com tanto medo, papai.
Benn: Não precisa ter medo, filha. Papai sempre estará aqui pra te proteger. Agora o que quer que eu faça pra te ajudar a ficar melhor.
A: Eu queria sorvete.
Benn: Pois bem. O papai vai te levar pra tomar o maior e mais gostoso sorvete da cidade.
Ana Beatriz soltava gritinhos de alegria, e como em um passe de mágica, as lagrimas e o soluço sessaram.
Beatriz ficou sozinha no quarto, nem Bento e nem Ana cogitaram a possibilidade de leva-la ao passeio na cidade.
Estava cansada demais de tudo aquilo, agora essa mudança de cidade. Porque? Ao menos onde moravam havia a lembrança do tempo que foi feliz, feliz com sua mãe e feliz até mesmo com Bento.
Não era o homem com quem se casara. E sentia falta de sorrir, falta de ser feliz.
Deixou o quarto de Ana e voltou ao corredor, a porta que quase abrira minutos atrás parecia chama-la.
Ela aproximou-se novamente dela. As mãos tocaram a maçaneta, fechou os olhos para encarar o medo, e ao girar sentiu mesma trancada, antes de abrir os olhos, o tecido tocou em cima da sua mão.
Ela abriu os olhos e o viu, os olhos azuis a faziam perder-se nas horas ou lugar.
Era um toque gostoso, delicado, sentia –se bem. Tudo em um apto de segundo.
Beatriz puxou a mão.
Dan: Não deve entrar aí.
B: Porque?
Dan: Porque...
O mordomo levou as mãos até seu rosto, e deslizou de forma carinhosa. Beatriz fechou os olhos e sentiu aquele carinho.
Parecia sair desse mundo. Quem era aquele homem? Porque ela não conseguia ser autoritária com ele e perguntar como ele ousa tocá-la de tal maneira.
Porque sentia como se seus pés levitassem ao sentir o toque de suas mãos.
As palavras enfim formaram uma frase em sua boca, mas antes de dizê-la, foi interrompida.
Dan: Eu queria tanto te conhecer, queria tanto olhar nos seus olhos e dizer o quão lindo são eles.
B: O que...
Algumas empregadas apontaram no corredor, a nova cama e a faxina já foram providenciadas pelo Mordomo.
Ele sorriu pra ela e seguiu os demais empregados, certeza de que ia supervisionar o trabalho deles.
Agora olhou novamente a porta e a pergunta se formou em sua mente, o que poderia ter por detrás daquela porta? O porque ela não podia, ficou preso na garganta de Dan.
Saiu de perto da porta e seguiu para as demais, e enfim encontrou um quarto onde suas bagagens encontravam-se, ficou feliz em saber que a cama era de solteiro e que Bento não a obrigaria a deitar-se com ele.
-
A tarde passou rapidamente, e antes mesmo que pudesse pensar em o que mais poderia explorar naquele casarão, Beatriz ouviu o barulho do carro de Bento chegando e em seguida os gritos de alegria de Ana Beatriz.
Ela apontou nas escadas, Ana gritava de alegria. Não poderia ser só pelo sorvete que foram tomar.
B: O que foi que aconteceu, filha?
A: Olha, mãe. Eu ganhei do papai.
Logo Beatriz entendeu, o Ipad que tanto ela queria, estava nítido que não demoraria muito, Bento sempre faz o que ela quer.
Beatriz apenas sorriu forçadamente como se aprovasse tal presente e continuou a descer as escadas.
Procurava encontrar o mordomo, queria fazer-lhe algumas perguntas. Talvez pudesse saber o que Bento fazia naquela casa, o porquê decidiu morar aqui com a família.
-
Ela atravessou a sala com a inocência de que poderia passar ao outro cômodo despercebida ou não questionada por Bento.
Benn: Onde está indo, Beatriz?
B: Vou à cozinha, quero ter certeza de que o jantar sairá bem.
Benn: Os empregados cuidam disso.
B:Bento, não podemos deixar tudo nas mãos dos empregados, não acha?
Ela continuou andando em direção a cozinha.
Benn: Eu já disse que os empregados cuidam disso, Beatriz.
A mesma parou onde estava, não tinha mais argumentos para continuar, na verdade nunca teve.
Benn: Não quero você perto dos empregados, eu dito as regras, eles obedecem, qualquer mudança reporte a mim, e eu mudarei as regras. Faça o que eu mando, ou terá problemas.
Como sempre, apenas virou-se em direção a escada e começou a subi-las, o mais estranho de tudo isso, é que sua filha nunca questionava o pai, nunca entrou no meio de uma briga ou discussão.
Era criança mas é claro que já ouviu o pai humilhar a mãe, os choros de Beatriz eram inconfundíveis através das paredes da casa.
E mesmo assim nenhuma pergunta era feita ao pai.
Voltou ao quarto e respirou fundo, nada mudaria. Tudo continuaria exatamente como sempre foi.
-
Naquela noite, Bento resolveu não perturbar Beatriz.
Era uma cidade linda e provavelmente cheia de prazeres para um homem como ele, deveria estar satisfeito.
Estranhou o fato de não estar amarrada e nem trancada naquela casa, o que poderia ser diferente ali? Será que por ser uma casa afastada da cidade de nada adiantaria fugir? Correria e correria pelos campos a sua volta e não chegaria a lugar nenhum?
Ou Bento apenas estará dando sorte para o azar.
Já era madrugada e Beatriz ainda não conseguira dormir.
Mesmo no escuro continuava com os olhos fixados no teto. A casa era antiga demais, Bento deveria ter gasto muito dinheiro para reforma-la. Mas algumas coisas ainda se notada.
Como a alguns riscos no assoalho de madeira, alguns eram bem grossos.
Ela se levantou, queria saber que segredos eram escondidos naquela casa.
Talvez Bento nunca ficasse sabendo que saíra naquela madrugada para explorar a casa, Rubens ó fiel escudeiro de Bento já não existe mais para privá-la.
Aproximou-se da porta e ao fechar os olhos e contrair a boca, girou lentamente a maçaneta.
Levemente puxou a porta que infelizmente ainda tinha as dobradiças um tanto enferrujada, e mesmo que devagar, ecoou certo barulho no silencio daqueles corredores.
Apontou a cabeça no corredor e certificando-se de que não havia nada e nem ninguém, ela arriscou o primeiro passo.
E logo algo chamou sua atenção. A pequena fresta por debaixo da porta misteriosa estava acesa, alguém estava lá. Seria Bento?
O primeiro impulso de voltar para o seu quarto antes que alguém a pegasse ali, passou rapidamente.
Era curiosa demais, aproximou-se em passos silenciosos, os pés descalços a ajudavam no silencio.
Enfim em frente a porta, suava, o coração palpitava freneticamente, parecia que a certa hora sairia pela boca.
Estava com medo, mas muito curiosa ao mesmo tempo, a adrenalina de saber que não poderia ser pega a fazia sorrir de leve.

_ O que está fazendo aqui?

domingo, janeiro 10, 2016

Doce Poesia - 8º Episódio

Vestia uma calça discreta e uma camisa azul marinho, um tanto social. Em um lado de suas mãos, carregava duas malas, uma delas notava-se de longe que pertencia a pequena Ana Beatriz.
A: Onde está indo, mãe?
A garota aproximou-se da escada, mas não ousou aproximar e ajudar Beatriz com as malas.
Beatriz estava no alto da escada, pensava consigo de que chegara a hora. Bento não estava em casa, e essa era a sua chance.
B: Onde “nós” estamos indo, filha. Vamos nos mudar, sumir desse lugar. Vamos, me ajude com as malas.
A: Eu não vou a lugar nenhum sem o meu pai.
B: Você não se manda, Bia. Pegue logo sua mala e vamos sair daqui.
A mulher que um dia adorou poesias, não esperava o que estava por vir, e foi pega de surpresa, assim como o próprio Bento.
Ana Beatriz encheu os pulmões e gritou um sonoro:
A: Socorro, Pai!!! (gritando)
B: Filha, o que está fazendo? Para de gritar!
A: Pai, pai!!!! Aaaaaaah!
B: Porque está fazendo isso, Bia?
Ela o sentiu, aproximar-se.
Be: Porque “você” está fazendo isso, Beatriz?
Não poderia imaginar que o marido estaria em casa, aquilo fora uma armadilha? Ele sabia todo o tempo que ela tentaria fugir? A própria filha ajudando aquele monstro?
As vezes Beatriz não conseguia acreditar que aquela menininha fosse sua filha. Como poderia estar do lado do pai depois de tudo o que acontece naquela casa?
Será que não via o inchado contemplando um de seus olhos?
Ela sentiu a mão do marido a puxando pelo cabelo.
Be: Será que não poderei mais sair de casa?
B: Me solta, Bento. Está me machucando.
Ele puxava um pouco mais forte, e a arqueava para trás.
Be: Bia, vá para o seu quarto e só saia de lá quando eu mandar.
Obedientemente ela deixou o local, sem esboçar qualquer reação diante da cena que via.
Beatriz virou-se de frente para ele.
B:Maldito! Eu desejo que você morra!
As lagrimas já acompanhavam a frase, o inferno estava longe de acabar.
Bento abriu a mão e deu um forte tapa no rosto dela, que com o impulso de tamanha força, esquivou para trás e sem ter tempo de segurar em nada, caiu pela escada abaixo.
O barulho chamou atenção de todos os empregados que fingiam não ouvir as constantes brigas que aconteciam naquela casa.
Mas agora o barulho fora mais forte e ignorá-lo era impossível.
Ao menos quatro dos empregados compareceram em frente a escada.
B: O que estão olhando? Andem logo e me ajudem a leva-la até o meu quarto.
Uma empregada atreveu-se a questioná-lo.
_ Mas Senhor, ela está desacordada, e a cabeça está sangrando!
B:Eu perguntei a sua opinião? Perguntei?
A empregada gaguejou um pouco, mas antes que pudesse formular outra pergunta, ele completou;
B:Eu mato você, todos vocês se ousarem a contar isso pra alguém.
Sem mais titubear, os empregados o ajudaram a colocar Beatriz no quarto.
Foi quase uma hora inteira para que ela recobrasse os sentidos.
O cheiro de cravo invadiu suas narinas, era forte, olhou ao lado e não vira ninguém, percebeu que sua cabeça latejava, e eu passar a mão por ela, percebeu um pequeno curativo.
Agora lembrava-se do que havia acontecido, discutiu com Bento e a ousadia foi tanto, que ela acabou caindo da escada.
Do lado de sua cama estava a mala, pronta, pensou por um momento em pegá-la e tentar sair novamente, mas seus pensamentos foram interrompidos pela voz de Bento, que entrou falando sem nenhum cuidado.
Ben: Olha só que acordou, como se sente? (sorrindo)
B:Como acha que me sinto? (chorando)
Ben: Ótima pelo visto, sua voz está forte e autoritária, até parece que pode decidir as coisas por conta própria.
B: Eu quero ir embora daqui, você não... (foi interrompida)
Ben: O que está pensando? Com pode pensar que pode fazer algo tão estupido como esse? Você me pertence, Beatriz. Sabe muito bem disso.
B: Eu vou pedir o divórcio, assim que eu mostrar na delegacia o que acabou de fazer comigo, lei nenhuma me obrigará a ficar com você.
Bento deixou sair por seus lábios a risada mais malévola que Beatriz já ouvira. Como podia ter mudado tanto? Era doce compreensivo, romântico, escrevia-lhe poesias. Foi por esse Bento que Beatriz se apaixonou, e não por esse monstro com quem está casada.
Ben: Isso não vai acontecer, meu amor. (rindo) Vamos sair da cidade.
B:Sair da cidade? Não! De jeito nenhum eu... (foi interrompida)
Ele segurou forte em seu rosto, Beatriz se debatia na cama, nem o machucado em sua cabeça a fez ficar quieta.
Ben: Vai sim, vai sim e isso não se discute mais. E tente algo estupido como esse que tentou fazer a pouco, que vai se arrepender amargamente, Beatriz.
Ela chorou, não havia mais saída, não havia mais nada. Estava entregue as loucuras de Bento, até o dia de sua morte.
Um tempo depois, lá estava ela, em frente a porta esperando a filha que desceu as escadas sorridente ao lado do pai.
As vezes nem a sentia como filha, como se não tivesse saído de seu próprio ventre, nunca esteve ao seu lado, nunca demonstrou nenhum tipo de carinho.
Para a menina, era Deus no céu e Bento na terra.
Beatriz entrou no carro, como quem entrava no corredor da morte, os olhos já sem esperança, esperando apenas a morte vir busca-la.
Não usava maquiagem pois Bento não deixava, seus vestidos sempre para baixo do joelho, vivia como se estivesse em outra década.
A cidade do interior a privava de muitas coisas, gostava de ler e sequer havia uma biblioteca na cidade inteira, que dirá uma loja onde pudesse comprar algum.
Por muito tempo se pegou pensando em como Bento escrevia poesias, de onde vinham suas inspirações.
Como pudera mudar tanto assim?
-
Foram cansativas horas de viagem até que pudessem avistar o lugar onde iriam morar, Beatriz nunca havia visto um lugar tão lindo em toda a sua vida.
Podia ver tantas pessoas lindas, vestidas com roupas da moda e coloridas, pensara se algum dia poderia vestir-se assim também.
A cabeça insistia em latejar, o marido não falou com ela durante a viajem inteira, ao contrário da filha que não fechou a boca por um segundo, Bento falava para ela do lugar, da escola, de como seria a nossa nova casa.
Beatriz estava alheia a tudo isso até que Ana Beatriz gritou entusiasmada.
A: É o mar? Aquilo é o mar, pai?
Ben: Sim, meu amor. É o mar, não é lindo? (sorrindo)
A: É sim, é lindo, pai. Vai me trazer aqui?
Ben: Claro que sim, mas só depois que arrumarmos todas as coisas na nossa nova casa.
Ambos não percebiam, mas Beatriz não conseguia tirar os olhos daquele imenso azul. Era lindo, o som era fascinante.
A: Como é o nome dessa cidade, pai?
Ben: Lírio.
A: Como?
Ben: Um nome peculiar. Não acha, Beatriz?
Ela acordou como se estivesse em um sonho.
Be: O que? (distraída)
Ben: O nome da cidade, não acha um tanto... (foi interrompido)
Be: Lindo, minha mãe cultivou essas flores por um tempo, são lindas.
A:Flores? (curiosa)
Ben: Sim, Lírio é uma flor, uma linda flor. (sorrindo)
Permaneceram em silêncio pelo resto do caminho. Principalmente Beatriz, lembrar-se de sua mãe nunca lhe trazia boas recordações, eram sempre tristes e sofridas.
Ela percebeu que afastavam-se da cidade, que seja lá onde iriam morar, era longe de tudo e todos.
Foram aproximadamente uma hora longe da cidade, quando chegaram em frente a um enorme casarão, o aspecto um tanto antigo, parecia casa de filmes que viu na televisão.
Logo um empregado saiu preocupado, oferecendo-se para carregar as malas ou ajuda-los em qualquer coisa que fosse.
Beatriz não era boba, sabia que aquela casa já existia nos planos de Bento há muito tempo, os empregados sabiam exatamente como trata-lo, do jeito que os da sua antiga casa também o tratavam. Faltava jogarem um tapete vermelho no chão para que Bento pudesse passar.
Ele entrou primeiro, queria ter certeza de que estava tudo bem, tudo do jeito que ele pediu.
Ana Beatriz já entrou correndo pela casa, subiu as escadas sem sequer saber para onde ia.
Bento já fora adentrando os demais cômodos e xingando os empregados, por demorarem em atender suas ordens.
Ela carregava a sua própria mala, estava um tanto pesada, e por isso assustou-se quando a sentiu ficar leve.
Ao olhar para o lado, se perdeu naquele olhar, era azul, como o mar que vira a algumas horas atrás.
- Deixe-me ajuda-la, senhora Beatriz.
A voz era doce, era como quase que pudesse senti-la em seu rosto. Quem era ele? Parecia um...

- Meu nome é Dan, sou o mordomo. E minha vida, está ao seu dispor, senhora Beatriz.

domingo, janeiro 17, 2016

Doce Poesia - 9º Episódio

B: Que isso, não é para tanto. Mordomo... (Rindo) Achei que isso nem existisse.
Ele continuava encarando-a, um leve sorriso esboçava em seu rosto.
- Desculpe-me, Senhora. Minha intensão não foi aborrecê-la, eu sinto muito.
Ao dizer isso, Dan abaixou-se em frente a ela, como uma reverencia.
Beatriz pensou por um momento que aquele homem talvez não tivesse um juízo perfeito.
B: Por favor, levante-se, não precisa fazer... (foi interrompida)
Ben: Dan!!! Venha até o meu escritório!
A voz de Bento era autoritária, e até um leve sobressalto o corpo de Dan esboçou ao ouvir seu nome.
Ele sequer parou para pensar, a encarou nos olhos e virou-se em direção ao escritório de Bento.
A porta fora trancada, pelo jeito Bento não queria que Beatriz soubesse o que andava ordenando aos empregados.
Andava lentamente pela grande sala, era tudo impecavelmente lindo, o cheiro da madeira do assoalho a deixava nas nuvens.
Pensava em como Bento pode esconder aquele lugar por tanto tempo.
E tudo indicava que ele vinha ali frequentemente, os objetos e a rotina da casa era familiar, e isso ao mesmo tempo que a fazia sentir-se em casa, a assustava, pois ultimamente, sentia aquele lugar como qualquer coisa, menos sua casa.
Resolveu então subir as escadas, ao tocar no corrimão, lembrou-se de horas atrás, quando acabou caindo por uma escada muito parecida com aquela.
Certo arrepio invadiu seu corpo ao pensar nisso.
Começou a subir, sequer sabia onde seria seu quarto, mas estava seguindo. Logo encontrou um corredor, em um deles já ouvia a pequena Ana Beatriz pulando e fazendo barulho em seu novo quarto, de certo deveria estar cheio de novidades da cidade grande, como Notebook, ou o tão sonhado Ipad, que Ana Beatriz empenhava-se constantemente em conseguir um do pai.
Ao fim do corredor, ela pode ver uma porta, a única que ficava de frente para o corredor, a porta era diferente das demais, parecia um tanto mais escura e com um aspecto antigo.
O impulso a fez tocar na maçaneta e iria abrir, se não fosse o fato da filha abrir a porta do quarto gritando.
O grito era ensurdecedor, e o corredor produzia um eco horrível.
B:Bia! Pelo amor de Deus, o que é isso? Que gritaria é essa?
A: Um bicho! Horrível, mãe. Chame o papai, ele vai tirá-lo daí.
B: Seu pai está no escritório conversando com o mordomo, deixe-me ver antes.
Beatriz entrou um tanto receosa no quarto da filha, afinal, era um território estranho, não sabia que tipo de animais costumavam aparecer naquela casa.
Ao entrar, percebeu que não se tratava de nada a mais e nada a menos que uma borboleta pousada em sua cama.
B: Bia, é só uma borboleta, e uma linda borboleta, não é pra tanto.
Nesse mesmo instante, Bento adentrou o quarto. Estava um tanto afoito.
Ben: O que foi filha?
A:Um bicho horrível, pai. (abraçando-o)
Bento logo seguiu em direção a cama da filha, olhou a colorida borboleta pousada sobre a mesma, e com apenas um tapa, a desmanchou por entre os dedos.
A frase de que “ não foi nada demais”, ficou presa na garganta de Beatriz;
B: O que está pensando?
Benn: Era um bicho, não vou deixar que minha filha tenha medo de ficar aqui por causa de um bicho.
Beatriz não ousou discutir, era inútil.
Benn: Dan!
Ela o olhou de canto, percebeu que ele estava ali desde o começo. Em silêncio, como se estivesse apenas aguardando as ordens de Bento.
Benn: Troque os lençóis da cama, ou melhor... Troque essa cama imediatamente. Mande as empregadas limparem todo o quarto novamente.
Ele abaixou a cabeça como já era de costume e completou.
Dan: Senhor o quarto foi limpo há uma hora e...
Benn: Está questionando minha ordem?
Dan: De maneira alguma, Senhor.
Benn: Assim espero, você não passa de um empregado, e nada mais. Que isso fique bem claro.
Beatriz queria intervir, mas sua posição não era lá grandes coisas.
A garota fingia um susto, soluçava forçadamente aos braços do pai.
A: Eu fiquei com tanto medo, papai.
Benn: Não precisa ter medo, filha. Papai sempre estará aqui pra te proteger. Agora o que quer que eu faça pra te ajudar a ficar melhor.
A: Eu queria sorvete.
Benn: Pois bem. O papai vai te levar pra tomar o maior e mais gostoso sorvete da cidade.
Ana Beatriz soltava gritinhos de alegria, e como em um passe de mágica, as lagrimas e o soluço sessaram.
Beatriz ficou sozinha no quarto, nem Bento e nem Ana cogitaram a possibilidade de leva-la ao passeio na cidade.
Estava cansada demais de tudo aquilo, agora essa mudança de cidade. Porque? Ao menos onde moravam havia a lembrança do tempo que foi feliz, feliz com sua mãe e feliz até mesmo com Bento.
Não era o homem com quem se casara. E sentia falta de sorrir, falta de ser feliz.
Deixou o quarto de Ana e voltou ao corredor, a porta que quase abrira minutos atrás parecia chama-la.
Ela aproximou-se novamente dela. As mãos tocaram a maçaneta, fechou os olhos para encarar o medo, e ao girar sentiu mesma trancada, antes de abrir os olhos, o tecido tocou em cima da sua mão.
Ela abriu os olhos e o viu, os olhos azuis a faziam perder-se nas horas ou lugar.
Era um toque gostoso, delicado, sentia –se bem. Tudo em um apto de segundo.
Beatriz puxou a mão.
Dan: Não deve entrar aí.
B: Porque?
Dan: Porque...
O mordomo levou as mãos até seu rosto, e deslizou de forma carinhosa. Beatriz fechou os olhos e sentiu aquele carinho.
Parecia sair desse mundo. Quem era aquele homem? Porque ela não conseguia ser autoritária com ele e perguntar como ele ousa tocá-la de tal maneira.
Porque sentia como se seus pés levitassem ao sentir o toque de suas mãos.
As palavras enfim formaram uma frase em sua boca, mas antes de dizê-la, foi interrompida.
Dan: Eu queria tanto te conhecer, queria tanto olhar nos seus olhos e dizer o quão lindo são eles.
B: O que...
Algumas empregadas apontaram no corredor, a nova cama e a faxina já foram providenciadas pelo Mordomo.
Ele sorriu pra ela e seguiu os demais empregados, certeza de que ia supervisionar o trabalho deles.
Agora olhou novamente a porta e a pergunta se formou em sua mente, o que poderia ter por detrás daquela porta? O porque ela não podia, ficou preso na garganta de Dan.
Saiu de perto da porta e seguiu para as demais, e enfim encontrou um quarto onde suas bagagens encontravam-se, ficou feliz em saber que a cama era de solteiro e que Bento não a obrigaria a deitar-se com ele.
-
A tarde passou rapidamente, e antes mesmo que pudesse pensar em o que mais poderia explorar naquele casarão, Beatriz ouviu o barulho do carro de Bento chegando e em seguida os gritos de alegria de Ana Beatriz.
Ela apontou nas escadas, Ana gritava de alegria. Não poderia ser só pelo sorvete que foram tomar.
B: O que foi que aconteceu, filha?
A: Olha, mãe. Eu ganhei do papai.
Logo Beatriz entendeu, o Ipad que tanto ela queria, estava nítido que não demoraria muito, Bento sempre faz o que ela quer.
Beatriz apenas sorriu forçadamente como se aprovasse tal presente e continuou a descer as escadas.
Procurava encontrar o mordomo, queria fazer-lhe algumas perguntas. Talvez pudesse saber o que Bento fazia naquela casa, o porquê decidiu morar aqui com a família.
-
Ela atravessou a sala com a inocência de que poderia passar ao outro cômodo despercebida ou não questionada por Bento.
Benn: Onde está indo, Beatriz?
B: Vou à cozinha, quero ter certeza de que o jantar sairá bem.
Benn: Os empregados cuidam disso.
B:Bento, não podemos deixar tudo nas mãos dos empregados, não acha?
Ela continuou andando em direção a cozinha.
Benn: Eu já disse que os empregados cuidam disso, Beatriz.
A mesma parou onde estava, não tinha mais argumentos para continuar, na verdade nunca teve.
Benn: Não quero você perto dos empregados, eu dito as regras, eles obedecem, qualquer mudança reporte a mim, e eu mudarei as regras. Faça o que eu mando, ou terá problemas.
Como sempre, apenas virou-se em direção a escada e começou a subi-las, o mais estranho de tudo isso, é que sua filha nunca questionava o pai, nunca entrou no meio de uma briga ou discussão.
Era criança mas é claro que já ouviu o pai humilhar a mãe, os choros de Beatriz eram inconfundíveis através das paredes da casa.
E mesmo assim nenhuma pergunta era feita ao pai.
Voltou ao quarto e respirou fundo, nada mudaria. Tudo continuaria exatamente como sempre foi.
-
Naquela noite, Bento resolveu não perturbar Beatriz.
Era uma cidade linda e provavelmente cheia de prazeres para um homem como ele, deveria estar satisfeito.
Estranhou o fato de não estar amarrada e nem trancada naquela casa, o que poderia ser diferente ali? Será que por ser uma casa afastada da cidade de nada adiantaria fugir? Correria e correria pelos campos a sua volta e não chegaria a lugar nenhum?
Ou Bento apenas estará dando sorte para o azar.
Já era madrugada e Beatriz ainda não conseguira dormir.
Mesmo no escuro continuava com os olhos fixados no teto. A casa era antiga demais, Bento deveria ter gasto muito dinheiro para reforma-la. Mas algumas coisas ainda se notada.
Como a alguns riscos no assoalho de madeira, alguns eram bem grossos.
Ela se levantou, queria saber que segredos eram escondidos naquela casa.
Talvez Bento nunca ficasse sabendo que saíra naquela madrugada para explorar a casa, Rubens ó fiel escudeiro de Bento já não existe mais para privá-la.
Aproximou-se da porta e ao fechar os olhos e contrair a boca, girou lentamente a maçaneta.
Levemente puxou a porta que infelizmente ainda tinha as dobradiças um tanto enferrujada, e mesmo que devagar, ecoou certo barulho no silencio daqueles corredores.
Apontou a cabeça no corredor e certificando-se de que não havia nada e nem ninguém, ela arriscou o primeiro passo.
E logo algo chamou sua atenção. A pequena fresta por debaixo da porta misteriosa estava acesa, alguém estava lá. Seria Bento?
O primeiro impulso de voltar para o seu quarto antes que alguém a pegasse ali, passou rapidamente.
Era curiosa demais, aproximou-se em passos silenciosos, os pés descalços a ajudavam no silencio.
Enfim em frente a porta, suava, o coração palpitava freneticamente, parecia que a certa hora sairia pela boca.
Estava com medo, mas muito curiosa ao mesmo tempo, a adrenalina de saber que não poderia ser pega a fazia sorrir de leve.

_ O que está fazendo aqui?

domingo, janeiro 10, 2016

Doce Poesia - 8º Episódio

Vestia uma calça discreta e uma camisa azul marinho, um tanto social. Em um lado de suas mãos, carregava duas malas, uma delas notava-se de longe que pertencia a pequena Ana Beatriz.
A: Onde está indo, mãe?
A garota aproximou-se da escada, mas não ousou aproximar e ajudar Beatriz com as malas.
Beatriz estava no alto da escada, pensava consigo de que chegara a hora. Bento não estava em casa, e essa era a sua chance.
B: Onde “nós” estamos indo, filha. Vamos nos mudar, sumir desse lugar. Vamos, me ajude com as malas.
A: Eu não vou a lugar nenhum sem o meu pai.
B: Você não se manda, Bia. Pegue logo sua mala e vamos sair daqui.
A mulher que um dia adorou poesias, não esperava o que estava por vir, e foi pega de surpresa, assim como o próprio Bento.
Ana Beatriz encheu os pulmões e gritou um sonoro:
A: Socorro, Pai!!! (gritando)
B: Filha, o que está fazendo? Para de gritar!
A: Pai, pai!!!! Aaaaaaah!
B: Porque está fazendo isso, Bia?
Ela o sentiu, aproximar-se.
Be: Porque “você” está fazendo isso, Beatriz?
Não poderia imaginar que o marido estaria em casa, aquilo fora uma armadilha? Ele sabia todo o tempo que ela tentaria fugir? A própria filha ajudando aquele monstro?
As vezes Beatriz não conseguia acreditar que aquela menininha fosse sua filha. Como poderia estar do lado do pai depois de tudo o que acontece naquela casa?
Será que não via o inchado contemplando um de seus olhos?
Ela sentiu a mão do marido a puxando pelo cabelo.
Be: Será que não poderei mais sair de casa?
B: Me solta, Bento. Está me machucando.
Ele puxava um pouco mais forte, e a arqueava para trás.
Be: Bia, vá para o seu quarto e só saia de lá quando eu mandar.
Obedientemente ela deixou o local, sem esboçar qualquer reação diante da cena que via.
Beatriz virou-se de frente para ele.
B:Maldito! Eu desejo que você morra!
As lagrimas já acompanhavam a frase, o inferno estava longe de acabar.
Bento abriu a mão e deu um forte tapa no rosto dela, que com o impulso de tamanha força, esquivou para trás e sem ter tempo de segurar em nada, caiu pela escada abaixo.
O barulho chamou atenção de todos os empregados que fingiam não ouvir as constantes brigas que aconteciam naquela casa.
Mas agora o barulho fora mais forte e ignorá-lo era impossível.
Ao menos quatro dos empregados compareceram em frente a escada.
B: O que estão olhando? Andem logo e me ajudem a leva-la até o meu quarto.
Uma empregada atreveu-se a questioná-lo.
_ Mas Senhor, ela está desacordada, e a cabeça está sangrando!
B:Eu perguntei a sua opinião? Perguntei?
A empregada gaguejou um pouco, mas antes que pudesse formular outra pergunta, ele completou;
B:Eu mato você, todos vocês se ousarem a contar isso pra alguém.
Sem mais titubear, os empregados o ajudaram a colocar Beatriz no quarto.
Foi quase uma hora inteira para que ela recobrasse os sentidos.
O cheiro de cravo invadiu suas narinas, era forte, olhou ao lado e não vira ninguém, percebeu que sua cabeça latejava, e eu passar a mão por ela, percebeu um pequeno curativo.
Agora lembrava-se do que havia acontecido, discutiu com Bento e a ousadia foi tanto, que ela acabou caindo da escada.
Do lado de sua cama estava a mala, pronta, pensou por um momento em pegá-la e tentar sair novamente, mas seus pensamentos foram interrompidos pela voz de Bento, que entrou falando sem nenhum cuidado.
Ben: Olha só que acordou, como se sente? (sorrindo)
B:Como acha que me sinto? (chorando)
Ben: Ótima pelo visto, sua voz está forte e autoritária, até parece que pode decidir as coisas por conta própria.
B: Eu quero ir embora daqui, você não... (foi interrompida)
Ben: O que está pensando? Com pode pensar que pode fazer algo tão estupido como esse? Você me pertence, Beatriz. Sabe muito bem disso.
B: Eu vou pedir o divórcio, assim que eu mostrar na delegacia o que acabou de fazer comigo, lei nenhuma me obrigará a ficar com você.
Bento deixou sair por seus lábios a risada mais malévola que Beatriz já ouvira. Como podia ter mudado tanto? Era doce compreensivo, romântico, escrevia-lhe poesias. Foi por esse Bento que Beatriz se apaixonou, e não por esse monstro com quem está casada.
Ben: Isso não vai acontecer, meu amor. (rindo) Vamos sair da cidade.
B:Sair da cidade? Não! De jeito nenhum eu... (foi interrompida)
Ele segurou forte em seu rosto, Beatriz se debatia na cama, nem o machucado em sua cabeça a fez ficar quieta.
Ben: Vai sim, vai sim e isso não se discute mais. E tente algo estupido como esse que tentou fazer a pouco, que vai se arrepender amargamente, Beatriz.
Ela chorou, não havia mais saída, não havia mais nada. Estava entregue as loucuras de Bento, até o dia de sua morte.
Um tempo depois, lá estava ela, em frente a porta esperando a filha que desceu as escadas sorridente ao lado do pai.
As vezes nem a sentia como filha, como se não tivesse saído de seu próprio ventre, nunca esteve ao seu lado, nunca demonstrou nenhum tipo de carinho.
Para a menina, era Deus no céu e Bento na terra.
Beatriz entrou no carro, como quem entrava no corredor da morte, os olhos já sem esperança, esperando apenas a morte vir busca-la.
Não usava maquiagem pois Bento não deixava, seus vestidos sempre para baixo do joelho, vivia como se estivesse em outra década.
A cidade do interior a privava de muitas coisas, gostava de ler e sequer havia uma biblioteca na cidade inteira, que dirá uma loja onde pudesse comprar algum.
Por muito tempo se pegou pensando em como Bento escrevia poesias, de onde vinham suas inspirações.
Como pudera mudar tanto assim?
-
Foram cansativas horas de viagem até que pudessem avistar o lugar onde iriam morar, Beatriz nunca havia visto um lugar tão lindo em toda a sua vida.
Podia ver tantas pessoas lindas, vestidas com roupas da moda e coloridas, pensara se algum dia poderia vestir-se assim também.
A cabeça insistia em latejar, o marido não falou com ela durante a viajem inteira, ao contrário da filha que não fechou a boca por um segundo, Bento falava para ela do lugar, da escola, de como seria a nossa nova casa.
Beatriz estava alheia a tudo isso até que Ana Beatriz gritou entusiasmada.
A: É o mar? Aquilo é o mar, pai?
Ben: Sim, meu amor. É o mar, não é lindo? (sorrindo)
A: É sim, é lindo, pai. Vai me trazer aqui?
Ben: Claro que sim, mas só depois que arrumarmos todas as coisas na nossa nova casa.
Ambos não percebiam, mas Beatriz não conseguia tirar os olhos daquele imenso azul. Era lindo, o som era fascinante.
A: Como é o nome dessa cidade, pai?
Ben: Lírio.
A: Como?
Ben: Um nome peculiar. Não acha, Beatriz?
Ela acordou como se estivesse em um sonho.
Be: O que? (distraída)
Ben: O nome da cidade, não acha um tanto... (foi interrompido)
Be: Lindo, minha mãe cultivou essas flores por um tempo, são lindas.
A:Flores? (curiosa)
Ben: Sim, Lírio é uma flor, uma linda flor. (sorrindo)
Permaneceram em silêncio pelo resto do caminho. Principalmente Beatriz, lembrar-se de sua mãe nunca lhe trazia boas recordações, eram sempre tristes e sofridas.
Ela percebeu que afastavam-se da cidade, que seja lá onde iriam morar, era longe de tudo e todos.
Foram aproximadamente uma hora longe da cidade, quando chegaram em frente a um enorme casarão, o aspecto um tanto antigo, parecia casa de filmes que viu na televisão.
Logo um empregado saiu preocupado, oferecendo-se para carregar as malas ou ajuda-los em qualquer coisa que fosse.
Beatriz não era boba, sabia que aquela casa já existia nos planos de Bento há muito tempo, os empregados sabiam exatamente como trata-lo, do jeito que os da sua antiga casa também o tratavam. Faltava jogarem um tapete vermelho no chão para que Bento pudesse passar.
Ele entrou primeiro, queria ter certeza de que estava tudo bem, tudo do jeito que ele pediu.
Ana Beatriz já entrou correndo pela casa, subiu as escadas sem sequer saber para onde ia.
Bento já fora adentrando os demais cômodos e xingando os empregados, por demorarem em atender suas ordens.
Ela carregava a sua própria mala, estava um tanto pesada, e por isso assustou-se quando a sentiu ficar leve.
Ao olhar para o lado, se perdeu naquele olhar, era azul, como o mar que vira a algumas horas atrás.
- Deixe-me ajuda-la, senhora Beatriz.
A voz era doce, era como quase que pudesse senti-la em seu rosto. Quem era ele? Parecia um...

- Meu nome é Dan, sou o mordomo. E minha vida, está ao seu dispor, senhora Beatriz.
 

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