Vestia uma
calça discreta e uma camisa azul marinho, um tanto social. Em um lado de suas
mãos, carregava duas malas, uma delas notava-se de longe que pertencia a
pequena Ana Beatriz.
A: Onde está
indo, mãe?
A garota
aproximou-se da escada, mas não ousou aproximar e ajudar Beatriz com as malas.
Beatriz
estava no alto da escada, pensava consigo de que chegara a hora. Bento não
estava em casa, e essa era a sua chance.
B: Onde
“nós” estamos indo, filha. Vamos nos mudar, sumir desse lugar. Vamos, me ajude
com as malas.
A: Eu não
vou a lugar nenhum sem o meu pai.
B: Você não
se manda, Bia. Pegue logo sua mala e vamos sair daqui.
A mulher que
um dia adorou poesias, não esperava o que estava por vir, e foi pega de
surpresa, assim como o próprio Bento.
Ana Beatriz
encheu os pulmões e gritou um sonoro:
A: Socorro,
Pai!!! (gritando)
B: Filha, o
que está fazendo? Para de gritar!
A: Pai, pai!!!!
Aaaaaaah!
B: Porque
está fazendo isso, Bia?
Ela o
sentiu, aproximar-se.
Be: Porque
“você” está fazendo isso, Beatriz?
Não poderia
imaginar que o marido estaria em casa, aquilo fora uma armadilha? Ele sabia
todo o tempo que ela tentaria fugir? A própria filha ajudando aquele monstro?
As vezes
Beatriz não conseguia acreditar que aquela menininha fosse sua filha. Como
poderia estar do lado do pai depois de tudo o que acontece naquela casa?
Será que não
via o inchado contemplando um de seus olhos?
Ela sentiu a
mão do marido a puxando pelo cabelo.
Be: Será que
não poderei mais sair de casa?
B: Me solta,
Bento. Está me machucando.
Ele puxava
um pouco mais forte, e a arqueava para trás.
Be: Bia, vá
para o seu quarto e só saia de lá quando eu mandar.
Obedientemente
ela deixou o local, sem esboçar qualquer reação diante da cena que via.
Beatriz
virou-se de frente para ele.
B:Maldito!
Eu desejo que você morra!
As lagrimas
já acompanhavam a frase, o inferno estava longe de acabar.
Bento abriu
a mão e deu um forte tapa no rosto dela, que com o impulso de tamanha força,
esquivou para trás e sem ter tempo de segurar em nada, caiu pela escada abaixo.
O barulho
chamou atenção de todos os empregados que fingiam não ouvir as constantes
brigas que aconteciam naquela casa.
Mas agora o
barulho fora mais forte e ignorá-lo era impossível.
Ao menos
quatro dos empregados compareceram em frente a escada.
B: O que
estão olhando? Andem logo e me ajudem a leva-la até o meu quarto.
Uma
empregada atreveu-se a questioná-lo.
_ Mas Senhor,
ela está desacordada, e a cabeça está sangrando!
B:Eu
perguntei a sua opinião? Perguntei?
A empregada
gaguejou um pouco, mas antes que pudesse formular outra pergunta, ele
completou;
B:Eu mato
você, todos vocês se ousarem a contar isso pra alguém.
Sem mais
titubear, os empregados o ajudaram a colocar Beatriz no quarto.
Foi quase
uma hora inteira para que ela recobrasse os sentidos.
O cheiro de
cravo invadiu suas narinas, era forte, olhou ao lado e não vira ninguém,
percebeu que sua cabeça latejava, e eu passar a mão por ela, percebeu um
pequeno curativo.
Agora
lembrava-se do que havia acontecido, discutiu com Bento e a ousadia foi tanto,
que ela acabou caindo da escada.
Do lado de
sua cama estava a mala, pronta, pensou por um momento em pegá-la e tentar sair
novamente, mas seus pensamentos foram interrompidos pela voz de Bento, que
entrou falando sem nenhum cuidado.
Ben: Olha só
que acordou, como se sente? (sorrindo)
B:Como acha
que me sinto? (chorando)
Ben: Ótima
pelo visto, sua voz está forte e autoritária, até parece que pode decidir as
coisas por conta própria.
B: Eu quero
ir embora daqui, você não... (foi interrompida)
Ben: O que está pensando? Com pode pensar que pode fazer algo tão estupido como esse? Você me pertence, Beatriz. Sabe muito bem disso.
Ben: O que está pensando? Com pode pensar que pode fazer algo tão estupido como esse? Você me pertence, Beatriz. Sabe muito bem disso.
B: Eu vou
pedir o divórcio, assim que eu mostrar na delegacia o que acabou de fazer
comigo, lei nenhuma me obrigará a ficar com você.
Bento deixou
sair por seus lábios a risada mais malévola que Beatriz já ouvira. Como podia
ter mudado tanto? Era doce compreensivo, romântico, escrevia-lhe poesias. Foi
por esse Bento que Beatriz se apaixonou, e não por esse monstro com quem está
casada.
Ben: Isso
não vai acontecer, meu amor. (rindo) Vamos sair da cidade.
B:Sair da
cidade? Não! De jeito nenhum eu... (foi interrompida)
Ele segurou forte em seu rosto, Beatriz se debatia na cama, nem o machucado em sua cabeça a fez ficar quieta.
Ele segurou forte em seu rosto, Beatriz se debatia na cama, nem o machucado em sua cabeça a fez ficar quieta.
Ben: Vai
sim, vai sim e isso não se discute mais. E tente algo estupido como esse que
tentou fazer a pouco, que vai se arrepender amargamente, Beatriz.
Ela chorou,
não havia mais saída, não havia mais nada. Estava entregue as loucuras de
Bento, até o dia de sua morte.
Um tempo
depois, lá estava ela, em frente a porta esperando a filha que desceu as
escadas sorridente ao lado do pai.
As vezes nem
a sentia como filha, como se não tivesse saído de seu próprio ventre, nunca
esteve ao seu lado, nunca demonstrou nenhum tipo de carinho.
Para a
menina, era Deus no céu e Bento na terra.
Beatriz
entrou no carro, como quem entrava no corredor da morte, os olhos já sem
esperança, esperando apenas a morte vir busca-la.
Não usava
maquiagem pois Bento não deixava, seus vestidos sempre para baixo do joelho,
vivia como se estivesse em outra década.
A cidade do
interior a privava de muitas coisas, gostava de ler e sequer havia uma
biblioteca na cidade inteira, que dirá uma loja onde pudesse comprar algum.
Por muito
tempo se pegou pensando em como Bento escrevia poesias, de onde vinham suas
inspirações.
Como pudera
mudar tanto assim?
-
Foram
cansativas horas de viagem até que pudessem avistar o lugar onde iriam morar,
Beatriz nunca havia visto um lugar tão lindo em toda a sua vida.
Podia ver
tantas pessoas lindas, vestidas com roupas da moda e coloridas, pensara se
algum dia poderia vestir-se assim também.
A cabeça
insistia em latejar, o marido não falou com ela durante a viajem inteira, ao
contrário da filha que não fechou a boca por um segundo, Bento falava para ela
do lugar, da escola, de como seria a nossa nova casa.
Beatriz
estava alheia a tudo isso até que Ana Beatriz gritou entusiasmada.
A: É o mar?
Aquilo é o mar, pai?
Ben: Sim,
meu amor. É o mar, não é lindo? (sorrindo)
A: É sim, é
lindo, pai. Vai me trazer aqui?
Ben: Claro
que sim, mas só depois que arrumarmos todas as coisas na nossa nova casa.
Ambos não
percebiam, mas Beatriz não conseguia tirar os olhos daquele imenso azul. Era
lindo, o som era fascinante.
A: Como é o
nome dessa cidade, pai?
Ben: Lírio.
A: Como?
Ben: Um nome
peculiar. Não acha, Beatriz?
Ela acordou
como se estivesse em um sonho.
Be: O que?
(distraída)
Ben: O nome da cidade, não acha um tanto... (foi interrompido)
Be: Lindo, minha mãe cultivou essas flores por um tempo, são lindas.
Ben: O nome da cidade, não acha um tanto... (foi interrompido)
Be: Lindo, minha mãe cultivou essas flores por um tempo, são lindas.
A:Flores?
(curiosa)
Ben: Sim, Lírio é uma flor, uma linda flor. (sorrindo)
Ben: Sim, Lírio é uma flor, uma linda flor. (sorrindo)
Permaneceram
em silêncio pelo resto do caminho. Principalmente Beatriz, lembrar-se de sua
mãe nunca lhe trazia boas recordações, eram sempre tristes e sofridas.
Ela percebeu
que afastavam-se da cidade, que seja lá onde iriam morar, era longe de tudo e
todos.
Foram
aproximadamente uma hora longe da cidade, quando chegaram em frente a um enorme
casarão, o aspecto um tanto antigo, parecia casa de filmes que viu na
televisão.
Logo um
empregado saiu preocupado, oferecendo-se para carregar as malas ou ajuda-los em
qualquer coisa que fosse.
Beatriz não
era boba, sabia que aquela casa já existia nos planos de Bento há muito tempo,
os empregados sabiam exatamente como trata-lo, do jeito que os da sua antiga
casa também o tratavam. Faltava jogarem um tapete vermelho no chão para que
Bento pudesse passar.
Ele entrou
primeiro, queria ter certeza de que estava tudo bem, tudo do jeito que ele
pediu.
Ana Beatriz
já entrou correndo pela casa, subiu as escadas sem sequer saber para onde ia.
Bento já
fora adentrando os demais cômodos e xingando os empregados, por demorarem em
atender suas ordens.
Ela
carregava a sua própria mala, estava um tanto pesada, e por isso assustou-se
quando a sentiu ficar leve.
Ao olhar
para o lado, se perdeu naquele olhar, era azul, como o mar que vira a algumas
horas atrás.
- Deixe-me
ajuda-la, senhora Beatriz.
A voz era
doce, era como quase que pudesse senti-la em seu rosto. Quem era ele? Parecia
um...
- Meu nome é
Dan, sou o mordomo. E minha vida, está ao seu dispor, senhora Beatriz.
1 comentários:
Q raiva desse homem!desgraçado eu fiquei com dó da Beatriz....até q fim chegou o Salvador Dan!
Postar um comentário