sábado, março 26, 2016

Doce Poesia - 19º Episódio

B: O que está dizendo.
Dan: Vamos, meu amor! – puxando-a –
As palavras giravam em sua cabeça.
A sua frente mal sabia explicar como chegara a tal lugar, mas chegou, a cabeça com certeza ficou lá atrás, onde Dan falou tal absurdo.
A plantação acabara e agora estavam um uma trilha... Ou melhor, trilho.
Dan: Não solte a minha mão.
B: Precisamos sair daqui, ele não deve estar muito longe.
Dan: Nós vamos sair, só precisamos de mais alguns minutos.
B: O dia amanhecera, ela conseguirá sair dali com mais facilidade.
Dan: Quando isso acontecer... Estaremos... a caminho de casa.
Ele estava ofegante.
Logo a fumacinha que Beatriz olhava de sua janela, aproximava-se, acompanhada de um barulho ensurdecedor.
Dan segurou forte em suas mãos e pediu que ela pulasse junto com ele.
Correram... O mais rápido que podiam imaginar, Beatriz colocou na energia de suas pernas, toda a vontade de ser livre.
Estavam dentro de um dos vagões.
Não era um trem de viagem, e sim um trem de cargas, transportava verduras e rações.
Deixaram que seus corpos descansassem sobre as sacas de rações que ali estavam.
A respiração de ambos estava ofegante demais.
Mas Beatriz percebeu que Dan estava diferente, agora tossia.
Somente quando o sol lhes dera bom dia, Beatriz pode perceber que Dan estava sangrando.
B: Dan... Meu amor... Por favor, não faça isso comigo.
As mãos estavam tremulas, as lagrimas tomavam conta do seu rosto, mesmo pálido, Dan apenas sorria pra ela.
B: Porque está tão calmo assim?
Dan: Me chamou de meu amor... Posso morrer feliz.
B: Mordomo bobo... Como pode dizer isso?
Dan: Fique tranquila... foi só de raspão no braço.
Ela o olhou de perto, podia agora enxergar com clareza o ferimento.
B: Dan, não tem nada de raspão aqui, está perdendo muito sangue.
Dan: Estou com sede.
B: É claro que está. Onde vou encontrar... – foi interrompida –
Dan: Em minha mochila, tem um pouco...
Beatriz foi até a mochila, e encontrou a agua. Deu a agua para ele e continuou o olhando pensativa.
Chegou perto dele e pegou um pedaço de retalho caído no lugar.
B: Vai doer um pouquinho.
Dan: Ok...
Ela amarrou o braço dele onde havia a ferida para que não sangrasse mais.
B: Dan, falta muito para chegarmos?
Dan: Ainda temos uma longa viagem.
Ela aninhou-se ao lado dele e ali ficou... Protegida de tudo e de todos.
Dan: Beatriz...
B: Hum?
Dan: Porque mesmo depois de tudo o que o Senhor Bento disse sobre mim, ainda veio comigo?
B: Porque eu já sabia... Sempre soube.
Ambos ainda com os olhos fechados, aguardando o sono que demoraria vir.
B: E porque te amo. – sussurrando –

-
Um tempo se passou, e Beatriz fora despertada pelo barulho de pessoas.
O trem havia parado.
Dan estava ao seu lado, gélido e pálido.
B: Dan... Por favor, acorde.
O Vagão fora aberto, e os funcionários do trem se assustaram com a cena.
B: Por favor, ajudem-no. Um fazendeiro louco atirou nele. Precisamos leva-lo a um hospital.
Dan começou a balbuciar algumas palavras, mas sequer para abrir os olhos tinha força.
- A senhora é o que dele?
B: Sou esposa, estávamos a procura de trabalho, por favor, vamos logo.
Era uma cidade muito pequena, provavelmente bem longe de onde vieram, afinal, sequer sobra de plantação ou do mar havia ali.
Foram levados ao hospital da cidade, não era um lugar grande, e bem se via que as coisas ali eram precárias.
Mas rezava para que fosse o suficiente para salvar a vida dele.

Quatro dias se passaram, quando Dan estava pronto para sair daquele lugar.
Dan: Precisamos sair daqui, é um lugar pequeno, e as notícias espalham rápido.
B: Tem certeza de que está bem?
Dan: Estou novo em folha, meu amor. Está aqui há vários dias sem roupas limpas, sem alimento de verdade.
B: Eu estou bem melhor do que quando estava naquela casa, rodeada de roupas limpas e alimentos de verdade. – rindo –
Ele levantou-se com a ajuda dela, agora era apenas repousar logo estaria totalmente curado.
O Mordomo não era desprevenido, pagou os remédios, e um homem para leva-los até o seu destino.
Beatriz pensava que nas últimas horas, decidira o resto de sua vida.
Olhava ao lado, Dan tinha um olhar sereno, e despreocupado.
Como podia não estar apavorado com a ideia de que Bento viesse atrás deles? Porque é o que com toda a certeza aconteceria.
As suposições fervilhavam em sua cabeça, quando Dan a puxou para seus braços e a aninhou em seu peito.
Dan: Tudo vai ficar bem... Fique tranquila.
Completou a frase com um beijo delicado em sua cabeça.
O Caminho não perdurou mais que vinte minutos.
Lá estavam...
Um condomínio, era totalmente afastado dos demais lugares. Mas ao contrário do lugar de onde fugiu, quanto mais se aproximava, mais o seu coração sossegava.

O carro não entrou, Dan chegou com Beatriz na portaria e logo se apresentou.
Assim que entraram, Beatriz ficou maravilhada.
Haviam crianças por todo o lado, pessoas andavam alegres pelas calçadas, algumas arriscavam-se em cima de patins.
B: Parece que estou em outro mundo.
Dan: E está.
Ela sorriu para ele.
B: Eu devo a minha vida a você.
Dan: Você ao meu lado pra sempre já é mais que suficiente.
Ela o beijou.
Dan: Está pronta pra conhecer a nossa casa?
B: Nossa casa?
Dan: Nossa.
Foram aproximando-se de um sobrado. Não era tão modesto assim, de longe se via que era lindo e que dentro deveria ser bem amplo.
Estavam exaustos, e isso estava estampado nas roupas e no rosto dos dois.
Mas mesmo assim, Dan após abrir a porta ergueu Beatriz e seu colo, e assim que entrou na casa, disse em voz alta.
Dan: Eu te amo, Beatriz!!! Está livre. – sorrindo –
Ela sorria como uma menina. Desceu dos braços dele e contemplou o interior da casa, tudo era muito organizado e vivo!
Antes de dizer algo, Dan deu mais um grito.
Dan: Papai chegou, Filha!
Beatriz olhou assustada para ele.
E antes que qualquer frase fosse formulada em sua boca, o barulho das rodas, anunciaram a chegada da pequena Clarice.
A cadeira de rodas parecia tão frágil e pequena como a menina.
C: Papai!!
Os olhos dela eram tão verdes, que Beatriz não conseguia parar de olhá-la.
Dan: Papai demorou mas nunca mais vai te deixar.
Dan a pegou no colo com tanta leveza, que logo se via o quão leve Clarice devia ser.
C: Que ótima notícia, pai. O que é isso no seu braço?
O Mordomo a enchia de beijos nas bochechas rosadas.
Dan: Eu caí. Nada demais, logo vai estar como antes.
Logo ambos pararam e olharam para Beatriz.
A mesma os olhava vidrada, e um sorriso em seus lábios era inevitável.
B: Oi. – sorrindo –
C: É a Dona Beatriz, pai?
Dan: É sim, meu amor.
C: Então é ela que... – interrompida –
Dan: Porque não diz oi pra ela?
Ele aproximou-se com a pequena nos braços.
C: Oi, Dona Bia.
B: Oi meu anjo. Você é linda. – rindo –
C: Obrigada. Você também. – sorrindo –
Beatriz então olhou-se com certo desprezo e completou:
B: São seus olhos, ainda tão puros.
A menina sorria alegre, como se o melhor presente que pudera receber, fosse a presença do pai de volta.
Dan derretia-se ao olhar para a filha.
C: Pai, posso mostrar o meu quarto pra ela?
Dan: Claro que pode, mas depois. Está bem?
Dan a levava para a cadeira novamente.
Dan: Cadê a tia Ma?
C: Tá lavando o banheiro.
Dan: O papai precisa tomar um banho e descansar, assim como a Beatriz. Já deu uma olhada em como estamos? – rindo –
C: Ok, pai. – rindo –

Antes que pudessem continuar, a empregada Marilda chegou a sala.
Era uma mulher de grande porte, negra, e tinha o sorriso estampado no rosto.
M: Seu Dan! Já estava preocupada. O senhor não usa nem um celular.
Dan: Me desculpe a demora, Ma. Agora não precisarei me ausentar mais.
Não precisou dizer mais nada, apenas o olhar apaixonado em direção a Beatriz, dizia tudo.
M: Fiquem a vontade, eu vou preparar um lanche, devem estar famintos.
Dan: E estamos mesmo.
C: Pai, eu vou pro meu quarto, depois leva a Dona Bia até lá.
Dan: Eu levo sim.
A Menina deixou o lugar sozinha, a cadeira era motorizada e isso facilitava seus movimentos pela casa.
Beatriz ainda não conseguia dizer nada. Fora informação demais em uma só vez.
Dan venho em sua direção e disse:
Dan: Aqui começa a sua nova vida, meu amor. Onde vamos ser felizes.
Ele segurou em suas mãos e subiram as escadas.
Isso intrigou um pouco Beatriz, como Dan escolheu uma casa com escadas com a filha naquela situação?
Não disse nada, apenas o seguiu.
Enquanto subia as escadas, pensava em como sua vida mudara.
O lugar onde estava parecia saído de outro mundo.
Onde nasceu, sempre foi um lugar um tanto precário, sem muitas coisas. E o lugar de onde saiu nem se fale, parecia saído de outra década.
Tinha a sensação de ter saído de um filme preto e branco.
Chegaram a um corredor.
A casa tinha um cheiro encantador, cheirava a giz de cera e massinha de modelar.
Ao entrar em um quarto que Dan a mostrou, pode contemplar um cheiro diferente.
Rosas...
E isso deixou Beatriz encantada.
Dan: O quarto é seu.
Ela o olhou maravilhada, havia poesias descritas em toda a parede por de trás da cama de casal.
B: Dan... é lindo.
Dan: Eu escrevi todas pra você, todo o tempo desde a primeira poesia que eu escrevi até agora, eu continuei escrevendo e as guardei pra você.
B: Eu amei.
Os olhos brilhavam ao olhar todo o interior do quarto.
Dan: Está livre agora. E eu quero que sinta isso. Vem cá.
Ele segurou em suas mãos e a levou até uma porta de vidro que existia ali.
Assim que ele abriu, o cheiro das rosas se intensificou.
Era um pequeno jardim na sacada do quarto, dali ela conseguia ver todo o condomínio.
O barulho das pessoas conversando, das crianças brincando, os vizinhos...
Havia vida!!!
B: Eu nem sei como eu posso te agradecer por tudo o que fez por mim, por e amar, por me livrar daquele maldito.
Dan: Tome um banho comigo.
Ela não podia ter ouvido aquilo.
B: Como é?
Dan: Um banho, quentinho... Ein? O que acha? Tem roupa pra você no guarda-roupas, e te garanto que é dessa década. – rindo –
Beatriz sorriu.
B: Acho uma ótima ideia.

Alguns minutos depois, lá estava Beatriz, olhava-se em frente ao espelho. Como o tempo lhe fizera mal.
Os cabelos estavam grisalhos a altura dos seios, os olhos fundos anunciavam que as últimas noites foram mal dormidas.
De fato perdera alguns quilos, os ossos de seu peito chegavam a saltar.
Como Dan pudera sentir algo por uma mulher como aquela?
Ele era tão lindo, tinha uma filha... Filha...
Os pensamentos foram interrompidos por ele que já estava na banheira a esperando.
Dan: Vem logo, Beatriz. A agua está maravilhosa.
B: Já estou indo.
Ela chegou um tanto vergonhosa pelo fato de estar nua em frente a ele.
Dan: O que tem? Está bem?
B: Dan... Algo está corroendo meus pensamentos desde quando fugimos daquele lugar.
O mordomo já sabia do que ela falava.
Dan: Sobre sua filha?
B: Sim, sobre o que disse.
Dan: Beatriz, creio que ainda não esteja na hora de saber... – foi interrompido –
B: Só pode estar brincando, não é?
Estavam frente a frente, enquanto a agua com espuma começava a cobrir o tronco de ambos.
Dan: É uma longa história.
B: Temos todo o tempo do mundo, Dan.
Dan: Está bem, está bem. Te contarei tudo. Depois do banho.
B: Dan!
Na verdade estava com medo, medo de contar aquela triste história.
Dan: Chegue aqui.
Ela virou se de costas pra ele, e o mesmo começou a ensaboa-la enquanto contava o que sabia.

Dan: Bom, como sabe, Senhor Bento já fora casada antes de te ganhar naquele jogo. Mas o que talvez não saiba é que ele deitava-se com outras mulheres.
Quando a menina Ana Beatriz nasceu, você entrou em trabalho de parto. Era antes da hora, e foi um parto difícil.
Senhor Bento já estava com tudo acertado para ir ver a menina Ana Beatriz e você deu a luz.
O bebê era fraco demais, talvez nem vivesse as próximas horas, os médicos confirmaram isso enquanto os demais empregados atendiam você.
Ele mandou que eu buscasse a menina Ana Beatriz na casa da amante dele e trouxesse para a casa de vocês.
A menina ao contrário do seu bebê, era forte e saudável. A amante deu graças ao se livrar da menina.
O maldito queria que eu a entregasse na porta de uma casa qualquer.
Beatriz a essa hora tinha a cabeça fervilhando.
B: Você teve coragem de... – sendo interrompida –
Dan: Não! Claro que não, jamais teria coragem de fazer algo com a minha filha, eu...

Dan ficou em silencio, a frase fora completada sem se dar conta.
O quebra- cabeças fora montado imediatamente na cabeça de Beatriz;

B: Clarice é a minha filha?

domingo, março 13, 2016

Doce Poesia - 18º Episódio

Beatriz estava sem entender exatamente, precisava de mais detalhes.
B: Filha? Bento já foi casado antes?
Dan: Já.
Ela estava pensativa, mil suposições passavam pela sua cabeça.
B: E o que aconteceu com a menina?
Dan: Morreu, um câncer o pulmão fez com que a menina morresse cedo, devia ter uns 6 ou 7 anos.
B: Você já trabalhava com ele?
Dan: Lembro apenas dos últimos momentos. Eu tinha acabado de chegar para essa casa, e Bento me deus outros trabalhos, quase não participei desse momento.
B: Por isso Bento é tão protetor com a Ana Beatriz.
Dan: Sim.
B: Mas porque me trata dessa forma? Eu já não o amo mais, nem ele a mim. Porque não me deixa livre, pra viver longe daqui.
Dan: Porque ele é louco.
Aquilo fez com que Beatriz ficasse assustada.
Dan: Quero que fique longe daquele quarto. Longe dessa casa fechada com o cadeado. Entendeu?
B: Entendi, mas eu só queria entender o porquê.
Dan: Porque eu estou dizendo. Não existe nesse mundo alguém que te ame mais que eu. Jamais colocaria sua vida em risco.
B: Eu só...
Dan: Vou te tirar daqui, só preciso de uma confirmação do governo sobre um assunto, e nós três reconstruiremos nossa vida.
B: O que disse?

Antes que Dan pudesse explicar o que sequer se deu conta que disse, Bento o gritou vindo de encontro a eles.
Benn: Dan, vá ver o que as cozinheiras estão fazendo para o jantar, o cheiro está impregnando a casa.
Dan: Claro, senhor.
Tanto Dan como Beatriz, deram o passeio por ali encerrado. Mas pelo jeito, Bento não compartilhava da mesma opinião.
Benn: Pra que a pressa, meu amor. Fique aqui, vamos continuar o passeio.
B: Já está tarde, talvez seja melhor me recolher.
Benn: Eu estou mandando ficar.
Ela abaixou a cabeça e Dan saiu.
Estava nervosa, gostava de ficar horas sem olhar para o rosto daquele homem que um dia disse amar.
Ele muito tranquilo, continuou ao lado dela forçando o passeio a continuar.
Benn: O que acha do nosso mordomo?
B: Dan?
Benn: Sim, que eu me lembre não temos outro.
B: Não tenho opinião sobre ele. Para mim é como qualquer um dos outros em... – foi interrompida –
Benn: Está mentindo.
B: Não, eu só...
Benn: Ouça bem, Beatriz. O mordomo, é um cachorrinho vira lata, que eu o acolhi por dó. Entenda que ele fala e faz o que eu mando ele falar ou fazer.
B: O que quer com isso?
Benn: Te deixar atenta. É mentiroso.
B: Eu não sei do que está falando.
Benn: Andei ouvindo coisas por aí e não gostei. Se eu ouvir novamente, teremos uma conversinha que você jamais vai esquecer entendeu?
Ela não conseguia distinguir o que sentia naquele momento.
Benn: Está curiosa em relação aquele lugar, não é? – apontando para a casinha com o cadeado –
B: Não.
Benn: Não minta pra mim! – batendo-a no rosto –
B: Porque está fazendo isso?
Benn: Porque não admito que me façam de idiota.
No mesmo instante ele a segurou pelo braço e começou a puxá-la com força, os passos apressados dela, quase não conseguiam acompanha-lo.
Ele estava levando-a para o lugar que ela tanto queria conhecer e Dan esconder.
Bento tirou a chave de um dos bolsos e abriu o cadeado.
Quando abriu a porta, Beatriz logo levou as mãos ao nariz, o cheiro era um pouco azedo. E lá ela pode ver uma cruzinha ao chão.
Era um tumulo. Havia um nome escrito... Luísa.
B: Quem é Luísa?
Benn: Minha falecida mulher. Assim como você era muito teimosa, eu tive que...

As palavras foram sumindo dos ouvidos dela, a imagem não saía de seus olhos.
Os olhos pesaram, a visão ficou turva e logo não viu mais nada.
Queria sumir.

-
O Cheiro de cravo era forte, estava de novo naquele quarto.
Abriu os olhos devagar e pode perceber que uma de suas mãos doía, ao levantar a mesma, viu que tinha um curativo.
Ouviu um barulho no quarto, não estava sozinha.
Olhou para o lado e ele estava de pé, ajeitava uma bandeja.
Ao se virar para ela, não pode acreditar.
Um dos olhos não abria, o inchaço tomava conta de quase todo o rosto.
B: O que foi que aconteceu, Dan?
Dan: Senhor Bento, soube que te tirei do quarto aquele dia, e que estamos próximos demais.
B: Meu Deus, eu sinto muito.
Ela ia dar um beijo em seus lábios, mas ele afastou.
B: O que foi?
Dan: Ele não me afastou de você.
B: Graças a Deus, se me tirassem você agora, eu não teria mais sentido pra viver.
Dan ficou apenas vidrado nela, tais palavras ficaram ecoando em sua cabeça.
Dan: Ouvir isso, é bem mais do que eu cheguei a sonhar.
Ela sorriu e foi beijá-lo novamente, e pela segunda vez ele se afastou.
B: Dan, o que está acontecendo?
Dan: Tão frágil... – sorrindo –
Dan: Ele deve estar nos vigiando.
B: Vigiando?! Mas de que maneira?
Dan: Isso eu ainda não sei, câmeras, gravadores ou algum empregado.
B: O que faremos?
Dan aproximou-se do ouvido dela e sussurrou.
Dan: Aqui dentro não é mais seguro. Preciso te tirar daqui o quanto antes.
B: E minha filha?
Dan: Eu te juro, que ela vai estar te esperando.
Ela sorriu.
B: Ele me mostrou o que tinha dentro daquela casinha abandonada lá no jardim.
Dan: Mostrou? – surpreso –
B: E me ameaçou também.
Dan: Te ameaçou?
B: Foi o que ele quis dizer, que a falecida mulher estava morta por ser igual a mim.
Dan: Escuta uma coisa... Eu dou a minha vida pela sua se for preciso, mas nada vai acontecer a você.

Uma corrida contra ao tempo? Tempo de quê?
Bento já demonstrou que não tem dó de ninguém, além dele próprio e a filha mimada.
Dan e Beatriz não sabiam o que pensar. Bento deu uma bela surra em Dan por saber que ele está aproximando demais de Beatriz, mas não o afastou dela.
Porque?

Lá estava Beatriz em sua janela, mas uma vez esperando a fumacinha lá no fundo aparecer.
O que seria de sua vida agora?
Apaixonada por um homem que conhecera há alguns meses, casada com um louco psicopata que costuma prender as mulheres e a tortura-las.
De fato pensava que nunca perdoaria aquele velho que se dizia seu pai.
-
O Sol ainda não havia amanhecido, e Beatriz continuava perambulando pelo quarto. Estava inquieta. Alguma coisa fazia com que ela ficasse acordada.
Seu coração quase saiu pela boca quando ouviu a porta se abrir.
Era Dan, o traje de mordomo não o acompanhava mais.
Em suas mãos trazia uma sacola, com roupas e um par de tênis.
Dan: Beatriz... – sussurrando –
B: Dan? O que faz acordado a essa hora? Aconteceu alguma coisa?
Dan: Ainda não. Mas logo irá acontecer. Pegue, vista isso. – entregando-lhe –
B: Está me assustando. O que são essas roupas?
Dan: Seja rápida, vamos sair daqui.
B: Mas agora? Assim desse jeito?
Dan: Assim desse jeito. Desistiu?
B: Mas é claro que não.
Ela rapidamente trocou a roupa de dormir, colocou os sapatos que ele lhe trouxera.
Dan: Pronta?
B: Estou com medo.
Dan virou-se de frente pra ela e a beijou, as línguas massageando uma a outra.
Dan: Sabe o que eu fiz?
Ela riu
Dan: Acabei de roubar todo o seu medo pra mim. Agora me dê sua mão e diga Adeus a esse lugar.

Tentaram fazer o mínimo de barulho possível.
As escadas da entrada principal parecia não colaborar.
A cada passou, o degrau anunciava.
Tudo estava completamente escuro, apenas a luz da lua que ultrapassavam as janelas de vidro é que davam alguma noção de onde andavam.
Abriram a porta principal e saíram daquela casa. Beatriz sentia o coração pulsar na boca.
Certa hora parecia não conseguir sequer respirar direito.
O Portão da entrada foi aberto, e agora a luz da lua não fazia mais companhia, Dan então tirou a mochila discreta em suas costas e dentro dela pegou uma lanterna.
B: Dan?
Dan: O que foi?
B: Tem algo estranho, estou com medo.
Ele sentia ela apertar suas mãos em seus braços.
Dan ouviu algo, sentiu Beatriz se afastar e logo o grito dela veio em seguida, ele acendeu a lanterna e pode ver.
Bento segurava Beatriz pelos braços, e quando Dan foi aproximar-se um pouco mais, o fazendeiro sacou a arma e apontou para o mordomo.
Benn: Fique quietinho aí.
B: Não, por favor. Sou eu quem você quer, não precisa atirar nele.
Bento riu.
Benn: Está apaixonada... Idiota!
Beatriz agora estava quase deitada aos ombros de Bento, o mesmo puxava seus cabelos com muita força.
Benn: O que acharam? Que iam sair na calada da noite enquanto eu ficava lá na minha cama contando carneirinhos?
Dan: Senhor Bento, por favor. Não machuque ela.
Benn: é a MINHA mulher, vira lata. Como eu a trato, é problema meu.
Ao dizer isso, Bento a jogou no chão.
A visão de todos estava horrível, somente a lanterna que Dan carregava em uma das mãos ajudava um pouco.
Bento parecia tranquilo, e isso era muito perturbador.
Benn: Você é uma imbecil mesmo, Beatriz.
Acreditou mesmo que um vira-lata ia mesmo me enfrentar pra te tirar daqui? Ele mente, sempre mentiu pra você.
B: Está mentindo!
Benn: Cala a boca! – puxando o cabelo dela –
Dan: Não a machuque, por favor. Me mate se quiser, mas não faça nada a ela.
Benn: Dan foi quem escrevia as poesias pra você.
Beatriz olhou para Dan, a expressão em seu rosto era indecifrável, e a escuridão da noite, atrapalhava ainda mais.
Benn: Assim também como foi ele quem comprou as correntes que por tantos dias te prendeu.
B: Como é?
Benn: Isso mesmo meu amor, o seu amado mordomo sempre me ajudou em tudo. Mentiu pra você desde o início. Vai confiar mesmo nele? É mais cruel do que eu.
Beatriz precisava se soltar, o mais rápido possível.
Benn: Você volta comigo. – encarando, Beatriz –
Dan continuava parado não queria pôr a vida de Beatriz em risco.
Mas ela estava disposta a isso.
Virou-se de maneira brusca e acertou uma cotovelada na boca do estomago de Bento, o mesmo arqueou-se com a dor, mas logo mirou a arma para eles e atirou.
Beatriz e Dan começaram a correr por entre as plantações, quase nada era visto a frente deles. Mas logo atrás Bento os seguia.
B: Nunca mais irá ver sua filha, sua vagabunda!
Ela parou, e assustou Dan por tal ato.
B: Minha filha ele disse...

Dan: Ela não é a sua filha, Beatriz. Vamos logo.

quinta-feira, março 03, 2016

Doce Poesia - 17º Episódio

Algo estava muito propício.
Talvez aquele não fosse o momento, Bento acabara de chegar e é certo que logo viria vê-la.
Não iria gostar de nada disso se o visse.
Estava ousada, algo a incorporou naquela madrugada e despejou toda a ousadia e coragem que pensou não ter mais.
Colocou a chave no trinco e girou cuidadosamente.
Lá estava...
Um quarto cheio de teias de aranha, mas completamente organizado.
Havia uma pequenina janela que já estava fechada pelas taboas, talvez por isso Beatriz não a percebera pelo lado de fora da casa.
Uma cama, um tanto pequena para um adulto.
Ao lado da cama, uma barra de ferro com ganchos, Beatriz sabia do que se tratava, era um suporte para carregar bolsas de sangue ou soro.
Mas o que mais chamou a atenção dela, foi que o quarto era forrado de bonecas e ursos, dos mais variáveis tamanhos e formas.
Já vira o suficiente, precisava sair, Bento logo estaria em seu quarto e não saberia dizer qual seria sua reação se a pegasse ali.
Beatriz já estava fechando a porta do armário ao guardar a chave no mesmo lugar quando Bento adentrou seu quarto.

Benn: O que está fazendo? – intrigado –
B: Procurando algo para vestir depois do banho, de quem são essas roupas, Bento?
Benn: Foram de alguém que não te interessa.
B: O que quer aqui? Porque ainda vem me ver? Logo morrerei se é o que quer?
Benn: Eu não quero que morra meu amor. – aproximando-se –
Ele beijou seus lábios lentamente.
Ela não conseguiu ter nenhuma reação. Sentia nojo de chegar perto dele, sentia-se estranha ao beijar o próprio marido ao invés do mordomo.
Bento completou:
Benn: Eu só quero que não se intrometa aonde não é chamada.
Ele dizia tais palavras, aos sorrisos e caricias, e isso deixava Beatriz incrédula.
Benn: Mas eu vim aqui pra te dizer outra coisa.
Beatriz não imaginava o que poderia ser.
Benn: Ana Beatriz está em um internato, só virá para casa nas férias e nos feriados prolongados.
B: Como? Porque fez isso? Você a adora, como pode ter coragem?
Benn: Ela entende que é o melhor para ela, a escola mais próxima daqui é precária, quero que minha filha tenha uma educação de primeira.
E nesse fim de mundo isso será impossível.
B: Ela concordou?
Benn: Ela não tem o que concordar, é uma criança e quem manda nela sou eu.
Beatriz ainda assimilava a notícia.
B: Mas sequer se despediu de mim.
Benn: Ela não sente a sua falta. Nem lembra que você existe.
B: Claro, você fez questão de ajuda-la nisso, não é? – alterando- a voz –
Bento irritou-se com a maneira com que Beatriz falou com ele.
Ele foi até ela e a segurou pelo queixo.
Benn: Está muito petulante, Beatriz. O que anda acontecendo enquanto não estou com você? Será que precisarei te vigiar dia e noite?

Não, Beatriz não poderia dar mais motivos para que Bento desconfiasse dela, e se percebesse que Dan e ela estavam mais próximos?
E se os afastasse?
Ou pior, se algo de ruim acontecesse com ele?
Não suportaria, Dan é a única coisa que mantem Beatriz firme e forte agora.
Por isso ela tratou logo de mudar o foco.
Dobrou os joelhos ao chão e começou a chorar.
B: Minha filha não...
As lagrimas estranhamente eram forçadas demais e isso não era problema para ela.
B: Como pode? Ela é tudo pra mim, Bento... Minha filha. Como vou viver agora.
Ele agora percebia de que ela estava falando sério.
Então ele a abraçou e ela logo se assustou.
Ficou assim por alguns minutos.
Benn: É o melhor pra ela. Se conforme com isso.
Ao dizer isso ela a deixou e saiu do quarto, e ela pode ouvi-lo chamar Dan logo que saiu dali.

Estava apreciando a paisagem de sua janela.
Já havia tomado um banho e agora deixava os pensamentos tomarem conta de sua cabeça enquanto olhava a pequena fumacinha ao longe.
Ele chegou em silêncio, e fechou a porta.
Aproximou-se dela e envolveu-a em um abraço.
Dan: Eu sinto muito por sua filha.
B: Sabe Dan... – virando-se para ele –
Estranhamente, eu não estou sentindo nada.
Dan: Como assim?  Não está triste por Senhor Bento ter levado a criança Ana Beatriz?
Beatriz riu discretamente.
Dan: O que foi?
B: Acho engraçado quando a chama assim.
Dan: É apenas um trejeito.
B: Triste... Não sei se é essa a palavra, mas estou normal. Como se nada de mais tivesse acontecido.
Dan: É tempo demais afastada dela, Senhor Bento nunca deixou uma aproximação maior. Isso é natural.
B: Não pode ser natural, Dan. Uma mãe e uma filha, por mais distante que estivessem, deveriam ter uma ligação forte, só entre as duas.
Dan: Quando pais adotam crianças órfãs, ou abandonadas, as crianças nunca tiveram os pais verdadeiros, sequer sabem como é o rosto deles... Para essas crianças, os verdadeiros pais são quem esteve ali com eles, todo o tempo, todos os dias.
Essa ligação que você diz, só é forte, quando existe um sentimento entre elas.
B: Quer dizer que eu não amo a minha filha?
Dan: Estou dizendo muitas coisas, decifre-as com o tempo. – sorrindo –
B: Você me acalma... – sorrindo –
Dan: É ótimo ouvir isso. Agora vamos?
B: Vamos aonde?
Dan: Vamos passear pelo jardim, Senhor Bento pediu que eu te levasse já que a sentiu muito abalada com a notícia da partida da criança.
B: Adoraria um passeio pelo jardim.
Dan parou na frente dela e completou.
Dan: Sem fazer nada imprudente, ou os passeios no jardim não farão mais parte da sua rotina.
B: Que malvado. – rindo –

Era curiosa demais, e isso poderia ser perigoso, tanto para Dan que poderia ser severamente punido por Bento, como para ela, que poderia até voltar a usar as correntes.
E se isso acontecesse, tirar Beatriz daquele lugar, seria praticamente impossível.
No jardim Beatriz reclamava das roupas.
B: Muito pouco das minhas roupas estão naquele quarto, porque não trouxeram toda a minha bagagem?
Dan: Ordens do senhor Bento.
B: De quem são aquelas roupas no armário?
Dan: De ninguém, Senhor Bento as comprou pra você.
B: Está mentindo.
Dan permaneceu em silêncio.
B: São vestidos antigos, cheiram a naftalina.
Dan riu.
Dan: Cheiram mesmo, eu disse para as empregadas não colocarem isso.
Beatriz pulou a sua frente e completou.
B: Rá rá! Eu sabia. Os vestidos não são novos. Já pertenceram a alguém. Quem?
Dan passou as mãos cobertas pelo tecido levemente em seu rosto.
Dan: É Curiosa demais, Beatriz. Vamos mudar de assunto, está bem?
B: Não, porque não pode me dizer nada?
Dan: Para o seu bem, para a sua segurança. Quanto menos souber, melhor.
B: Mas logo vamos fugir mesmo.
Ele rapidamente tampou a boca de Beatriz.
Dan: Shiiiiiiii, não repita mais isso, meu amor. Aqui, até as arvores tem ouvido.
Ela ficou parada.
Dan: O que foi? Desistiu do passeio? Olha que não poderemos voltar mais a tarde, temos que aproveitar agora.
Beatriz sorria, e Dan não se deu conta do porquê.
Dan: Beatriz?
B: Você disse meu amor... – sorrindo –
Dan: Eu disse?
B: Disse sim.
Dan: Me desculpe, saiu sem eu perceber.
Ela aproximou-se dele.
B: Não precisa se desculpar, eu gostei.
Dan: Sério? – sorrindo –
B: Eu não minto sobre o meu coração.
Dan aproximou-se um pouco mais dela e completou:
Dan: Não me olha dessa maneira, não te beijar é uma verdadeira tortura.
Ela sorriu e se afastou um pouco.
Novamente estavam próximos a casinha que Beatriz tentou abrir.
B: Dan, porque não pega um suco de laranja pra mim? Me deu uma sede agora.
Ele sorriu para ela.
Dan: Porque eu não caio mais nessa.
B: O que tem ali dentro?
Dan: Nada.
B: Nada? Podia ter inventado algo, como é que um cadeado daquele tamanho tranca nada?
Dan: Beatriz...
B: Do mesmo modo que estava trancado aquele quarto escondido com o meu?
O Mordomo ficou pálido. Não podia ter ouvido aquilo, talvez pensou que ouviu, mas de fato não ouviu nada.
Dan: O que foi que disse?
B: Como acharam que eu não o encontraria?
Dan: Do que está falando?
B: Dan... Eu me entreguei a você, confio em você. Está na hora dessa confiança ser recíproco.
Ela aproximou-se um pouco mais e sussurrou.
B: Confia em mim...

Dan a olhava apaixonado, sabia que se Bento sequer desconfiasse que Beatriz sabia algo a mais do que precisava saber, tudo estaria perdido.
Todo o tempo que levou para construir a sua vida.
B: Por favor, Dan.
Dan: Está bem, só promete que nunca mencionará isso com ninguém. Nem ficar repetindo isso sozinha, alguém pode ouvir.
B: Eu já entendi, me diz logo.
Ele olhou para os lados certificando-se de que não eram observados.
E sem parar de andar com ela, começou:
Dan: Aquele quarto, era da Alice Montenegro.
B: Alice?
Dan: Filha do senhor Bento.

-

sábado, março 26, 2016

Doce Poesia - 19º Episódio

B: O que está dizendo.
Dan: Vamos, meu amor! – puxando-a –
As palavras giravam em sua cabeça.
A sua frente mal sabia explicar como chegara a tal lugar, mas chegou, a cabeça com certeza ficou lá atrás, onde Dan falou tal absurdo.
A plantação acabara e agora estavam um uma trilha... Ou melhor, trilho.
Dan: Não solte a minha mão.
B: Precisamos sair daqui, ele não deve estar muito longe.
Dan: Nós vamos sair, só precisamos de mais alguns minutos.
B: O dia amanhecera, ela conseguirá sair dali com mais facilidade.
Dan: Quando isso acontecer... Estaremos... a caminho de casa.
Ele estava ofegante.
Logo a fumacinha que Beatriz olhava de sua janela, aproximava-se, acompanhada de um barulho ensurdecedor.
Dan segurou forte em suas mãos e pediu que ela pulasse junto com ele.
Correram... O mais rápido que podiam imaginar, Beatriz colocou na energia de suas pernas, toda a vontade de ser livre.
Estavam dentro de um dos vagões.
Não era um trem de viagem, e sim um trem de cargas, transportava verduras e rações.
Deixaram que seus corpos descansassem sobre as sacas de rações que ali estavam.
A respiração de ambos estava ofegante demais.
Mas Beatriz percebeu que Dan estava diferente, agora tossia.
Somente quando o sol lhes dera bom dia, Beatriz pode perceber que Dan estava sangrando.
B: Dan... Meu amor... Por favor, não faça isso comigo.
As mãos estavam tremulas, as lagrimas tomavam conta do seu rosto, mesmo pálido, Dan apenas sorria pra ela.
B: Porque está tão calmo assim?
Dan: Me chamou de meu amor... Posso morrer feliz.
B: Mordomo bobo... Como pode dizer isso?
Dan: Fique tranquila... foi só de raspão no braço.
Ela o olhou de perto, podia agora enxergar com clareza o ferimento.
B: Dan, não tem nada de raspão aqui, está perdendo muito sangue.
Dan: Estou com sede.
B: É claro que está. Onde vou encontrar... – foi interrompida –
Dan: Em minha mochila, tem um pouco...
Beatriz foi até a mochila, e encontrou a agua. Deu a agua para ele e continuou o olhando pensativa.
Chegou perto dele e pegou um pedaço de retalho caído no lugar.
B: Vai doer um pouquinho.
Dan: Ok...
Ela amarrou o braço dele onde havia a ferida para que não sangrasse mais.
B: Dan, falta muito para chegarmos?
Dan: Ainda temos uma longa viagem.
Ela aninhou-se ao lado dele e ali ficou... Protegida de tudo e de todos.
Dan: Beatriz...
B: Hum?
Dan: Porque mesmo depois de tudo o que o Senhor Bento disse sobre mim, ainda veio comigo?
B: Porque eu já sabia... Sempre soube.
Ambos ainda com os olhos fechados, aguardando o sono que demoraria vir.
B: E porque te amo. – sussurrando –

-
Um tempo se passou, e Beatriz fora despertada pelo barulho de pessoas.
O trem havia parado.
Dan estava ao seu lado, gélido e pálido.
B: Dan... Por favor, acorde.
O Vagão fora aberto, e os funcionários do trem se assustaram com a cena.
B: Por favor, ajudem-no. Um fazendeiro louco atirou nele. Precisamos leva-lo a um hospital.
Dan começou a balbuciar algumas palavras, mas sequer para abrir os olhos tinha força.
- A senhora é o que dele?
B: Sou esposa, estávamos a procura de trabalho, por favor, vamos logo.
Era uma cidade muito pequena, provavelmente bem longe de onde vieram, afinal, sequer sobra de plantação ou do mar havia ali.
Foram levados ao hospital da cidade, não era um lugar grande, e bem se via que as coisas ali eram precárias.
Mas rezava para que fosse o suficiente para salvar a vida dele.

Quatro dias se passaram, quando Dan estava pronto para sair daquele lugar.
Dan: Precisamos sair daqui, é um lugar pequeno, e as notícias espalham rápido.
B: Tem certeza de que está bem?
Dan: Estou novo em folha, meu amor. Está aqui há vários dias sem roupas limpas, sem alimento de verdade.
B: Eu estou bem melhor do que quando estava naquela casa, rodeada de roupas limpas e alimentos de verdade. – rindo –
Ele levantou-se com a ajuda dela, agora era apenas repousar logo estaria totalmente curado.
O Mordomo não era desprevenido, pagou os remédios, e um homem para leva-los até o seu destino.
Beatriz pensava que nas últimas horas, decidira o resto de sua vida.
Olhava ao lado, Dan tinha um olhar sereno, e despreocupado.
Como podia não estar apavorado com a ideia de que Bento viesse atrás deles? Porque é o que com toda a certeza aconteceria.
As suposições fervilhavam em sua cabeça, quando Dan a puxou para seus braços e a aninhou em seu peito.
Dan: Tudo vai ficar bem... Fique tranquila.
Completou a frase com um beijo delicado em sua cabeça.
O Caminho não perdurou mais que vinte minutos.
Lá estavam...
Um condomínio, era totalmente afastado dos demais lugares. Mas ao contrário do lugar de onde fugiu, quanto mais se aproximava, mais o seu coração sossegava.

O carro não entrou, Dan chegou com Beatriz na portaria e logo se apresentou.
Assim que entraram, Beatriz ficou maravilhada.
Haviam crianças por todo o lado, pessoas andavam alegres pelas calçadas, algumas arriscavam-se em cima de patins.
B: Parece que estou em outro mundo.
Dan: E está.
Ela sorriu para ele.
B: Eu devo a minha vida a você.
Dan: Você ao meu lado pra sempre já é mais que suficiente.
Ela o beijou.
Dan: Está pronta pra conhecer a nossa casa?
B: Nossa casa?
Dan: Nossa.
Foram aproximando-se de um sobrado. Não era tão modesto assim, de longe se via que era lindo e que dentro deveria ser bem amplo.
Estavam exaustos, e isso estava estampado nas roupas e no rosto dos dois.
Mas mesmo assim, Dan após abrir a porta ergueu Beatriz e seu colo, e assim que entrou na casa, disse em voz alta.
Dan: Eu te amo, Beatriz!!! Está livre. – sorrindo –
Ela sorria como uma menina. Desceu dos braços dele e contemplou o interior da casa, tudo era muito organizado e vivo!
Antes de dizer algo, Dan deu mais um grito.
Dan: Papai chegou, Filha!
Beatriz olhou assustada para ele.
E antes que qualquer frase fosse formulada em sua boca, o barulho das rodas, anunciaram a chegada da pequena Clarice.
A cadeira de rodas parecia tão frágil e pequena como a menina.
C: Papai!!
Os olhos dela eram tão verdes, que Beatriz não conseguia parar de olhá-la.
Dan: Papai demorou mas nunca mais vai te deixar.
Dan a pegou no colo com tanta leveza, que logo se via o quão leve Clarice devia ser.
C: Que ótima notícia, pai. O que é isso no seu braço?
O Mordomo a enchia de beijos nas bochechas rosadas.
Dan: Eu caí. Nada demais, logo vai estar como antes.
Logo ambos pararam e olharam para Beatriz.
A mesma os olhava vidrada, e um sorriso em seus lábios era inevitável.
B: Oi. – sorrindo –
C: É a Dona Beatriz, pai?
Dan: É sim, meu amor.
C: Então é ela que... – interrompida –
Dan: Porque não diz oi pra ela?
Ele aproximou-se com a pequena nos braços.
C: Oi, Dona Bia.
B: Oi meu anjo. Você é linda. – rindo –
C: Obrigada. Você também. – sorrindo –
Beatriz então olhou-se com certo desprezo e completou:
B: São seus olhos, ainda tão puros.
A menina sorria alegre, como se o melhor presente que pudera receber, fosse a presença do pai de volta.
Dan derretia-se ao olhar para a filha.
C: Pai, posso mostrar o meu quarto pra ela?
Dan: Claro que pode, mas depois. Está bem?
Dan a levava para a cadeira novamente.
Dan: Cadê a tia Ma?
C: Tá lavando o banheiro.
Dan: O papai precisa tomar um banho e descansar, assim como a Beatriz. Já deu uma olhada em como estamos? – rindo –
C: Ok, pai. – rindo –

Antes que pudessem continuar, a empregada Marilda chegou a sala.
Era uma mulher de grande porte, negra, e tinha o sorriso estampado no rosto.
M: Seu Dan! Já estava preocupada. O senhor não usa nem um celular.
Dan: Me desculpe a demora, Ma. Agora não precisarei me ausentar mais.
Não precisou dizer mais nada, apenas o olhar apaixonado em direção a Beatriz, dizia tudo.
M: Fiquem a vontade, eu vou preparar um lanche, devem estar famintos.
Dan: E estamos mesmo.
C: Pai, eu vou pro meu quarto, depois leva a Dona Bia até lá.
Dan: Eu levo sim.
A Menina deixou o lugar sozinha, a cadeira era motorizada e isso facilitava seus movimentos pela casa.
Beatriz ainda não conseguia dizer nada. Fora informação demais em uma só vez.
Dan venho em sua direção e disse:
Dan: Aqui começa a sua nova vida, meu amor. Onde vamos ser felizes.
Ele segurou em suas mãos e subiram as escadas.
Isso intrigou um pouco Beatriz, como Dan escolheu uma casa com escadas com a filha naquela situação?
Não disse nada, apenas o seguiu.
Enquanto subia as escadas, pensava em como sua vida mudara.
O lugar onde estava parecia saído de outro mundo.
Onde nasceu, sempre foi um lugar um tanto precário, sem muitas coisas. E o lugar de onde saiu nem se fale, parecia saído de outra década.
Tinha a sensação de ter saído de um filme preto e branco.
Chegaram a um corredor.
A casa tinha um cheiro encantador, cheirava a giz de cera e massinha de modelar.
Ao entrar em um quarto que Dan a mostrou, pode contemplar um cheiro diferente.
Rosas...
E isso deixou Beatriz encantada.
Dan: O quarto é seu.
Ela o olhou maravilhada, havia poesias descritas em toda a parede por de trás da cama de casal.
B: Dan... é lindo.
Dan: Eu escrevi todas pra você, todo o tempo desde a primeira poesia que eu escrevi até agora, eu continuei escrevendo e as guardei pra você.
B: Eu amei.
Os olhos brilhavam ao olhar todo o interior do quarto.
Dan: Está livre agora. E eu quero que sinta isso. Vem cá.
Ele segurou em suas mãos e a levou até uma porta de vidro que existia ali.
Assim que ele abriu, o cheiro das rosas se intensificou.
Era um pequeno jardim na sacada do quarto, dali ela conseguia ver todo o condomínio.
O barulho das pessoas conversando, das crianças brincando, os vizinhos...
Havia vida!!!
B: Eu nem sei como eu posso te agradecer por tudo o que fez por mim, por e amar, por me livrar daquele maldito.
Dan: Tome um banho comigo.
Ela não podia ter ouvido aquilo.
B: Como é?
Dan: Um banho, quentinho... Ein? O que acha? Tem roupa pra você no guarda-roupas, e te garanto que é dessa década. – rindo –
Beatriz sorriu.
B: Acho uma ótima ideia.

Alguns minutos depois, lá estava Beatriz, olhava-se em frente ao espelho. Como o tempo lhe fizera mal.
Os cabelos estavam grisalhos a altura dos seios, os olhos fundos anunciavam que as últimas noites foram mal dormidas.
De fato perdera alguns quilos, os ossos de seu peito chegavam a saltar.
Como Dan pudera sentir algo por uma mulher como aquela?
Ele era tão lindo, tinha uma filha... Filha...
Os pensamentos foram interrompidos por ele que já estava na banheira a esperando.
Dan: Vem logo, Beatriz. A agua está maravilhosa.
B: Já estou indo.
Ela chegou um tanto vergonhosa pelo fato de estar nua em frente a ele.
Dan: O que tem? Está bem?
B: Dan... Algo está corroendo meus pensamentos desde quando fugimos daquele lugar.
O mordomo já sabia do que ela falava.
Dan: Sobre sua filha?
B: Sim, sobre o que disse.
Dan: Beatriz, creio que ainda não esteja na hora de saber... – foi interrompido –
B: Só pode estar brincando, não é?
Estavam frente a frente, enquanto a agua com espuma começava a cobrir o tronco de ambos.
Dan: É uma longa história.
B: Temos todo o tempo do mundo, Dan.
Dan: Está bem, está bem. Te contarei tudo. Depois do banho.
B: Dan!
Na verdade estava com medo, medo de contar aquela triste história.
Dan: Chegue aqui.
Ela virou se de costas pra ele, e o mesmo começou a ensaboa-la enquanto contava o que sabia.

Dan: Bom, como sabe, Senhor Bento já fora casada antes de te ganhar naquele jogo. Mas o que talvez não saiba é que ele deitava-se com outras mulheres.
Quando a menina Ana Beatriz nasceu, você entrou em trabalho de parto. Era antes da hora, e foi um parto difícil.
Senhor Bento já estava com tudo acertado para ir ver a menina Ana Beatriz e você deu a luz.
O bebê era fraco demais, talvez nem vivesse as próximas horas, os médicos confirmaram isso enquanto os demais empregados atendiam você.
Ele mandou que eu buscasse a menina Ana Beatriz na casa da amante dele e trouxesse para a casa de vocês.
A menina ao contrário do seu bebê, era forte e saudável. A amante deu graças ao se livrar da menina.
O maldito queria que eu a entregasse na porta de uma casa qualquer.
Beatriz a essa hora tinha a cabeça fervilhando.
B: Você teve coragem de... – sendo interrompida –
Dan: Não! Claro que não, jamais teria coragem de fazer algo com a minha filha, eu...

Dan ficou em silencio, a frase fora completada sem se dar conta.
O quebra- cabeças fora montado imediatamente na cabeça de Beatriz;

B: Clarice é a minha filha?

domingo, março 13, 2016

Doce Poesia - 18º Episódio

Beatriz estava sem entender exatamente, precisava de mais detalhes.
B: Filha? Bento já foi casado antes?
Dan: Já.
Ela estava pensativa, mil suposições passavam pela sua cabeça.
B: E o que aconteceu com a menina?
Dan: Morreu, um câncer o pulmão fez com que a menina morresse cedo, devia ter uns 6 ou 7 anos.
B: Você já trabalhava com ele?
Dan: Lembro apenas dos últimos momentos. Eu tinha acabado de chegar para essa casa, e Bento me deus outros trabalhos, quase não participei desse momento.
B: Por isso Bento é tão protetor com a Ana Beatriz.
Dan: Sim.
B: Mas porque me trata dessa forma? Eu já não o amo mais, nem ele a mim. Porque não me deixa livre, pra viver longe daqui.
Dan: Porque ele é louco.
Aquilo fez com que Beatriz ficasse assustada.
Dan: Quero que fique longe daquele quarto. Longe dessa casa fechada com o cadeado. Entendeu?
B: Entendi, mas eu só queria entender o porquê.
Dan: Porque eu estou dizendo. Não existe nesse mundo alguém que te ame mais que eu. Jamais colocaria sua vida em risco.
B: Eu só...
Dan: Vou te tirar daqui, só preciso de uma confirmação do governo sobre um assunto, e nós três reconstruiremos nossa vida.
B: O que disse?

Antes que Dan pudesse explicar o que sequer se deu conta que disse, Bento o gritou vindo de encontro a eles.
Benn: Dan, vá ver o que as cozinheiras estão fazendo para o jantar, o cheiro está impregnando a casa.
Dan: Claro, senhor.
Tanto Dan como Beatriz, deram o passeio por ali encerrado. Mas pelo jeito, Bento não compartilhava da mesma opinião.
Benn: Pra que a pressa, meu amor. Fique aqui, vamos continuar o passeio.
B: Já está tarde, talvez seja melhor me recolher.
Benn: Eu estou mandando ficar.
Ela abaixou a cabeça e Dan saiu.
Estava nervosa, gostava de ficar horas sem olhar para o rosto daquele homem que um dia disse amar.
Ele muito tranquilo, continuou ao lado dela forçando o passeio a continuar.
Benn: O que acha do nosso mordomo?
B: Dan?
Benn: Sim, que eu me lembre não temos outro.
B: Não tenho opinião sobre ele. Para mim é como qualquer um dos outros em... – foi interrompida –
Benn: Está mentindo.
B: Não, eu só...
Benn: Ouça bem, Beatriz. O mordomo, é um cachorrinho vira lata, que eu o acolhi por dó. Entenda que ele fala e faz o que eu mando ele falar ou fazer.
B: O que quer com isso?
Benn: Te deixar atenta. É mentiroso.
B: Eu não sei do que está falando.
Benn: Andei ouvindo coisas por aí e não gostei. Se eu ouvir novamente, teremos uma conversinha que você jamais vai esquecer entendeu?
Ela não conseguia distinguir o que sentia naquele momento.
Benn: Está curiosa em relação aquele lugar, não é? – apontando para a casinha com o cadeado –
B: Não.
Benn: Não minta pra mim! – batendo-a no rosto –
B: Porque está fazendo isso?
Benn: Porque não admito que me façam de idiota.
No mesmo instante ele a segurou pelo braço e começou a puxá-la com força, os passos apressados dela, quase não conseguiam acompanha-lo.
Ele estava levando-a para o lugar que ela tanto queria conhecer e Dan esconder.
Bento tirou a chave de um dos bolsos e abriu o cadeado.
Quando abriu a porta, Beatriz logo levou as mãos ao nariz, o cheiro era um pouco azedo. E lá ela pode ver uma cruzinha ao chão.
Era um tumulo. Havia um nome escrito... Luísa.
B: Quem é Luísa?
Benn: Minha falecida mulher. Assim como você era muito teimosa, eu tive que...

As palavras foram sumindo dos ouvidos dela, a imagem não saía de seus olhos.
Os olhos pesaram, a visão ficou turva e logo não viu mais nada.
Queria sumir.

-
O Cheiro de cravo era forte, estava de novo naquele quarto.
Abriu os olhos devagar e pode perceber que uma de suas mãos doía, ao levantar a mesma, viu que tinha um curativo.
Ouviu um barulho no quarto, não estava sozinha.
Olhou para o lado e ele estava de pé, ajeitava uma bandeja.
Ao se virar para ela, não pode acreditar.
Um dos olhos não abria, o inchaço tomava conta de quase todo o rosto.
B: O que foi que aconteceu, Dan?
Dan: Senhor Bento, soube que te tirei do quarto aquele dia, e que estamos próximos demais.
B: Meu Deus, eu sinto muito.
Ela ia dar um beijo em seus lábios, mas ele afastou.
B: O que foi?
Dan: Ele não me afastou de você.
B: Graças a Deus, se me tirassem você agora, eu não teria mais sentido pra viver.
Dan ficou apenas vidrado nela, tais palavras ficaram ecoando em sua cabeça.
Dan: Ouvir isso, é bem mais do que eu cheguei a sonhar.
Ela sorriu e foi beijá-lo novamente, e pela segunda vez ele se afastou.
B: Dan, o que está acontecendo?
Dan: Tão frágil... – sorrindo –
Dan: Ele deve estar nos vigiando.
B: Vigiando?! Mas de que maneira?
Dan: Isso eu ainda não sei, câmeras, gravadores ou algum empregado.
B: O que faremos?
Dan aproximou-se do ouvido dela e sussurrou.
Dan: Aqui dentro não é mais seguro. Preciso te tirar daqui o quanto antes.
B: E minha filha?
Dan: Eu te juro, que ela vai estar te esperando.
Ela sorriu.
B: Ele me mostrou o que tinha dentro daquela casinha abandonada lá no jardim.
Dan: Mostrou? – surpreso –
B: E me ameaçou também.
Dan: Te ameaçou?
B: Foi o que ele quis dizer, que a falecida mulher estava morta por ser igual a mim.
Dan: Escuta uma coisa... Eu dou a minha vida pela sua se for preciso, mas nada vai acontecer a você.

Uma corrida contra ao tempo? Tempo de quê?
Bento já demonstrou que não tem dó de ninguém, além dele próprio e a filha mimada.
Dan e Beatriz não sabiam o que pensar. Bento deu uma bela surra em Dan por saber que ele está aproximando demais de Beatriz, mas não o afastou dela.
Porque?

Lá estava Beatriz em sua janela, mas uma vez esperando a fumacinha lá no fundo aparecer.
O que seria de sua vida agora?
Apaixonada por um homem que conhecera há alguns meses, casada com um louco psicopata que costuma prender as mulheres e a tortura-las.
De fato pensava que nunca perdoaria aquele velho que se dizia seu pai.
-
O Sol ainda não havia amanhecido, e Beatriz continuava perambulando pelo quarto. Estava inquieta. Alguma coisa fazia com que ela ficasse acordada.
Seu coração quase saiu pela boca quando ouviu a porta se abrir.
Era Dan, o traje de mordomo não o acompanhava mais.
Em suas mãos trazia uma sacola, com roupas e um par de tênis.
Dan: Beatriz... – sussurrando –
B: Dan? O que faz acordado a essa hora? Aconteceu alguma coisa?
Dan: Ainda não. Mas logo irá acontecer. Pegue, vista isso. – entregando-lhe –
B: Está me assustando. O que são essas roupas?
Dan: Seja rápida, vamos sair daqui.
B: Mas agora? Assim desse jeito?
Dan: Assim desse jeito. Desistiu?
B: Mas é claro que não.
Ela rapidamente trocou a roupa de dormir, colocou os sapatos que ele lhe trouxera.
Dan: Pronta?
B: Estou com medo.
Dan virou-se de frente pra ela e a beijou, as línguas massageando uma a outra.
Dan: Sabe o que eu fiz?
Ela riu
Dan: Acabei de roubar todo o seu medo pra mim. Agora me dê sua mão e diga Adeus a esse lugar.

Tentaram fazer o mínimo de barulho possível.
As escadas da entrada principal parecia não colaborar.
A cada passou, o degrau anunciava.
Tudo estava completamente escuro, apenas a luz da lua que ultrapassavam as janelas de vidro é que davam alguma noção de onde andavam.
Abriram a porta principal e saíram daquela casa. Beatriz sentia o coração pulsar na boca.
Certa hora parecia não conseguir sequer respirar direito.
O Portão da entrada foi aberto, e agora a luz da lua não fazia mais companhia, Dan então tirou a mochila discreta em suas costas e dentro dela pegou uma lanterna.
B: Dan?
Dan: O que foi?
B: Tem algo estranho, estou com medo.
Ele sentia ela apertar suas mãos em seus braços.
Dan ouviu algo, sentiu Beatriz se afastar e logo o grito dela veio em seguida, ele acendeu a lanterna e pode ver.
Bento segurava Beatriz pelos braços, e quando Dan foi aproximar-se um pouco mais, o fazendeiro sacou a arma e apontou para o mordomo.
Benn: Fique quietinho aí.
B: Não, por favor. Sou eu quem você quer, não precisa atirar nele.
Bento riu.
Benn: Está apaixonada... Idiota!
Beatriz agora estava quase deitada aos ombros de Bento, o mesmo puxava seus cabelos com muita força.
Benn: O que acharam? Que iam sair na calada da noite enquanto eu ficava lá na minha cama contando carneirinhos?
Dan: Senhor Bento, por favor. Não machuque ela.
Benn: é a MINHA mulher, vira lata. Como eu a trato, é problema meu.
Ao dizer isso, Bento a jogou no chão.
A visão de todos estava horrível, somente a lanterna que Dan carregava em uma das mãos ajudava um pouco.
Bento parecia tranquilo, e isso era muito perturbador.
Benn: Você é uma imbecil mesmo, Beatriz.
Acreditou mesmo que um vira-lata ia mesmo me enfrentar pra te tirar daqui? Ele mente, sempre mentiu pra você.
B: Está mentindo!
Benn: Cala a boca! – puxando o cabelo dela –
Dan: Não a machuque, por favor. Me mate se quiser, mas não faça nada a ela.
Benn: Dan foi quem escrevia as poesias pra você.
Beatriz olhou para Dan, a expressão em seu rosto era indecifrável, e a escuridão da noite, atrapalhava ainda mais.
Benn: Assim também como foi ele quem comprou as correntes que por tantos dias te prendeu.
B: Como é?
Benn: Isso mesmo meu amor, o seu amado mordomo sempre me ajudou em tudo. Mentiu pra você desde o início. Vai confiar mesmo nele? É mais cruel do que eu.
Beatriz precisava se soltar, o mais rápido possível.
Benn: Você volta comigo. – encarando, Beatriz –
Dan continuava parado não queria pôr a vida de Beatriz em risco.
Mas ela estava disposta a isso.
Virou-se de maneira brusca e acertou uma cotovelada na boca do estomago de Bento, o mesmo arqueou-se com a dor, mas logo mirou a arma para eles e atirou.
Beatriz e Dan começaram a correr por entre as plantações, quase nada era visto a frente deles. Mas logo atrás Bento os seguia.
B: Nunca mais irá ver sua filha, sua vagabunda!
Ela parou, e assustou Dan por tal ato.
B: Minha filha ele disse...

Dan: Ela não é a sua filha, Beatriz. Vamos logo.

quinta-feira, março 03, 2016

Doce Poesia - 17º Episódio

Algo estava muito propício.
Talvez aquele não fosse o momento, Bento acabara de chegar e é certo que logo viria vê-la.
Não iria gostar de nada disso se o visse.
Estava ousada, algo a incorporou naquela madrugada e despejou toda a ousadia e coragem que pensou não ter mais.
Colocou a chave no trinco e girou cuidadosamente.
Lá estava...
Um quarto cheio de teias de aranha, mas completamente organizado.
Havia uma pequenina janela que já estava fechada pelas taboas, talvez por isso Beatriz não a percebera pelo lado de fora da casa.
Uma cama, um tanto pequena para um adulto.
Ao lado da cama, uma barra de ferro com ganchos, Beatriz sabia do que se tratava, era um suporte para carregar bolsas de sangue ou soro.
Mas o que mais chamou a atenção dela, foi que o quarto era forrado de bonecas e ursos, dos mais variáveis tamanhos e formas.
Já vira o suficiente, precisava sair, Bento logo estaria em seu quarto e não saberia dizer qual seria sua reação se a pegasse ali.
Beatriz já estava fechando a porta do armário ao guardar a chave no mesmo lugar quando Bento adentrou seu quarto.

Benn: O que está fazendo? – intrigado –
B: Procurando algo para vestir depois do banho, de quem são essas roupas, Bento?
Benn: Foram de alguém que não te interessa.
B: O que quer aqui? Porque ainda vem me ver? Logo morrerei se é o que quer?
Benn: Eu não quero que morra meu amor. – aproximando-se –
Ele beijou seus lábios lentamente.
Ela não conseguiu ter nenhuma reação. Sentia nojo de chegar perto dele, sentia-se estranha ao beijar o próprio marido ao invés do mordomo.
Bento completou:
Benn: Eu só quero que não se intrometa aonde não é chamada.
Ele dizia tais palavras, aos sorrisos e caricias, e isso deixava Beatriz incrédula.
Benn: Mas eu vim aqui pra te dizer outra coisa.
Beatriz não imaginava o que poderia ser.
Benn: Ana Beatriz está em um internato, só virá para casa nas férias e nos feriados prolongados.
B: Como? Porque fez isso? Você a adora, como pode ter coragem?
Benn: Ela entende que é o melhor para ela, a escola mais próxima daqui é precária, quero que minha filha tenha uma educação de primeira.
E nesse fim de mundo isso será impossível.
B: Ela concordou?
Benn: Ela não tem o que concordar, é uma criança e quem manda nela sou eu.
Beatriz ainda assimilava a notícia.
B: Mas sequer se despediu de mim.
Benn: Ela não sente a sua falta. Nem lembra que você existe.
B: Claro, você fez questão de ajuda-la nisso, não é? – alterando- a voz –
Bento irritou-se com a maneira com que Beatriz falou com ele.
Ele foi até ela e a segurou pelo queixo.
Benn: Está muito petulante, Beatriz. O que anda acontecendo enquanto não estou com você? Será que precisarei te vigiar dia e noite?

Não, Beatriz não poderia dar mais motivos para que Bento desconfiasse dela, e se percebesse que Dan e ela estavam mais próximos?
E se os afastasse?
Ou pior, se algo de ruim acontecesse com ele?
Não suportaria, Dan é a única coisa que mantem Beatriz firme e forte agora.
Por isso ela tratou logo de mudar o foco.
Dobrou os joelhos ao chão e começou a chorar.
B: Minha filha não...
As lagrimas estranhamente eram forçadas demais e isso não era problema para ela.
B: Como pode? Ela é tudo pra mim, Bento... Minha filha. Como vou viver agora.
Ele agora percebia de que ela estava falando sério.
Então ele a abraçou e ela logo se assustou.
Ficou assim por alguns minutos.
Benn: É o melhor pra ela. Se conforme com isso.
Ao dizer isso ela a deixou e saiu do quarto, e ela pode ouvi-lo chamar Dan logo que saiu dali.

Estava apreciando a paisagem de sua janela.
Já havia tomado um banho e agora deixava os pensamentos tomarem conta de sua cabeça enquanto olhava a pequena fumacinha ao longe.
Ele chegou em silêncio, e fechou a porta.
Aproximou-se dela e envolveu-a em um abraço.
Dan: Eu sinto muito por sua filha.
B: Sabe Dan... – virando-se para ele –
Estranhamente, eu não estou sentindo nada.
Dan: Como assim?  Não está triste por Senhor Bento ter levado a criança Ana Beatriz?
Beatriz riu discretamente.
Dan: O que foi?
B: Acho engraçado quando a chama assim.
Dan: É apenas um trejeito.
B: Triste... Não sei se é essa a palavra, mas estou normal. Como se nada de mais tivesse acontecido.
Dan: É tempo demais afastada dela, Senhor Bento nunca deixou uma aproximação maior. Isso é natural.
B: Não pode ser natural, Dan. Uma mãe e uma filha, por mais distante que estivessem, deveriam ter uma ligação forte, só entre as duas.
Dan: Quando pais adotam crianças órfãs, ou abandonadas, as crianças nunca tiveram os pais verdadeiros, sequer sabem como é o rosto deles... Para essas crianças, os verdadeiros pais são quem esteve ali com eles, todo o tempo, todos os dias.
Essa ligação que você diz, só é forte, quando existe um sentimento entre elas.
B: Quer dizer que eu não amo a minha filha?
Dan: Estou dizendo muitas coisas, decifre-as com o tempo. – sorrindo –
B: Você me acalma... – sorrindo –
Dan: É ótimo ouvir isso. Agora vamos?
B: Vamos aonde?
Dan: Vamos passear pelo jardim, Senhor Bento pediu que eu te levasse já que a sentiu muito abalada com a notícia da partida da criança.
B: Adoraria um passeio pelo jardim.
Dan parou na frente dela e completou.
Dan: Sem fazer nada imprudente, ou os passeios no jardim não farão mais parte da sua rotina.
B: Que malvado. – rindo –

Era curiosa demais, e isso poderia ser perigoso, tanto para Dan que poderia ser severamente punido por Bento, como para ela, que poderia até voltar a usar as correntes.
E se isso acontecesse, tirar Beatriz daquele lugar, seria praticamente impossível.
No jardim Beatriz reclamava das roupas.
B: Muito pouco das minhas roupas estão naquele quarto, porque não trouxeram toda a minha bagagem?
Dan: Ordens do senhor Bento.
B: De quem são aquelas roupas no armário?
Dan: De ninguém, Senhor Bento as comprou pra você.
B: Está mentindo.
Dan permaneceu em silêncio.
B: São vestidos antigos, cheiram a naftalina.
Dan riu.
Dan: Cheiram mesmo, eu disse para as empregadas não colocarem isso.
Beatriz pulou a sua frente e completou.
B: Rá rá! Eu sabia. Os vestidos não são novos. Já pertenceram a alguém. Quem?
Dan passou as mãos cobertas pelo tecido levemente em seu rosto.
Dan: É Curiosa demais, Beatriz. Vamos mudar de assunto, está bem?
B: Não, porque não pode me dizer nada?
Dan: Para o seu bem, para a sua segurança. Quanto menos souber, melhor.
B: Mas logo vamos fugir mesmo.
Ele rapidamente tampou a boca de Beatriz.
Dan: Shiiiiiiii, não repita mais isso, meu amor. Aqui, até as arvores tem ouvido.
Ela ficou parada.
Dan: O que foi? Desistiu do passeio? Olha que não poderemos voltar mais a tarde, temos que aproveitar agora.
Beatriz sorria, e Dan não se deu conta do porquê.
Dan: Beatriz?
B: Você disse meu amor... – sorrindo –
Dan: Eu disse?
B: Disse sim.
Dan: Me desculpe, saiu sem eu perceber.
Ela aproximou-se dele.
B: Não precisa se desculpar, eu gostei.
Dan: Sério? – sorrindo –
B: Eu não minto sobre o meu coração.
Dan aproximou-se um pouco mais dela e completou:
Dan: Não me olha dessa maneira, não te beijar é uma verdadeira tortura.
Ela sorriu e se afastou um pouco.
Novamente estavam próximos a casinha que Beatriz tentou abrir.
B: Dan, porque não pega um suco de laranja pra mim? Me deu uma sede agora.
Ele sorriu para ela.
Dan: Porque eu não caio mais nessa.
B: O que tem ali dentro?
Dan: Nada.
B: Nada? Podia ter inventado algo, como é que um cadeado daquele tamanho tranca nada?
Dan: Beatriz...
B: Do mesmo modo que estava trancado aquele quarto escondido com o meu?
O Mordomo ficou pálido. Não podia ter ouvido aquilo, talvez pensou que ouviu, mas de fato não ouviu nada.
Dan: O que foi que disse?
B: Como acharam que eu não o encontraria?
Dan: Do que está falando?
B: Dan... Eu me entreguei a você, confio em você. Está na hora dessa confiança ser recíproco.
Ela aproximou-se um pouco mais e sussurrou.
B: Confia em mim...

Dan a olhava apaixonado, sabia que se Bento sequer desconfiasse que Beatriz sabia algo a mais do que precisava saber, tudo estaria perdido.
Todo o tempo que levou para construir a sua vida.
B: Por favor, Dan.
Dan: Está bem, só promete que nunca mencionará isso com ninguém. Nem ficar repetindo isso sozinha, alguém pode ouvir.
B: Eu já entendi, me diz logo.
Ele olhou para os lados certificando-se de que não eram observados.
E sem parar de andar com ela, começou:
Dan: Aquele quarto, era da Alice Montenegro.
B: Alice?
Dan: Filha do senhor Bento.

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