sábado, março 26, 2016

Doce Poesia - 19º Episódio

B: O que está dizendo.
Dan: Vamos, meu amor! – puxando-a –
As palavras giravam em sua cabeça.
A sua frente mal sabia explicar como chegara a tal lugar, mas chegou, a cabeça com certeza ficou lá atrás, onde Dan falou tal absurdo.
A plantação acabara e agora estavam um uma trilha... Ou melhor, trilho.
Dan: Não solte a minha mão.
B: Precisamos sair daqui, ele não deve estar muito longe.
Dan: Nós vamos sair, só precisamos de mais alguns minutos.
B: O dia amanhecera, ela conseguirá sair dali com mais facilidade.
Dan: Quando isso acontecer... Estaremos... a caminho de casa.
Ele estava ofegante.
Logo a fumacinha que Beatriz olhava de sua janela, aproximava-se, acompanhada de um barulho ensurdecedor.
Dan segurou forte em suas mãos e pediu que ela pulasse junto com ele.
Correram... O mais rápido que podiam imaginar, Beatriz colocou na energia de suas pernas, toda a vontade de ser livre.
Estavam dentro de um dos vagões.
Não era um trem de viagem, e sim um trem de cargas, transportava verduras e rações.
Deixaram que seus corpos descansassem sobre as sacas de rações que ali estavam.
A respiração de ambos estava ofegante demais.
Mas Beatriz percebeu que Dan estava diferente, agora tossia.
Somente quando o sol lhes dera bom dia, Beatriz pode perceber que Dan estava sangrando.
B: Dan... Meu amor... Por favor, não faça isso comigo.
As mãos estavam tremulas, as lagrimas tomavam conta do seu rosto, mesmo pálido, Dan apenas sorria pra ela.
B: Porque está tão calmo assim?
Dan: Me chamou de meu amor... Posso morrer feliz.
B: Mordomo bobo... Como pode dizer isso?
Dan: Fique tranquila... foi só de raspão no braço.
Ela o olhou de perto, podia agora enxergar com clareza o ferimento.
B: Dan, não tem nada de raspão aqui, está perdendo muito sangue.
Dan: Estou com sede.
B: É claro que está. Onde vou encontrar... – foi interrompida –
Dan: Em minha mochila, tem um pouco...
Beatriz foi até a mochila, e encontrou a agua. Deu a agua para ele e continuou o olhando pensativa.
Chegou perto dele e pegou um pedaço de retalho caído no lugar.
B: Vai doer um pouquinho.
Dan: Ok...
Ela amarrou o braço dele onde havia a ferida para que não sangrasse mais.
B: Dan, falta muito para chegarmos?
Dan: Ainda temos uma longa viagem.
Ela aninhou-se ao lado dele e ali ficou... Protegida de tudo e de todos.
Dan: Beatriz...
B: Hum?
Dan: Porque mesmo depois de tudo o que o Senhor Bento disse sobre mim, ainda veio comigo?
B: Porque eu já sabia... Sempre soube.
Ambos ainda com os olhos fechados, aguardando o sono que demoraria vir.
B: E porque te amo. – sussurrando –

-
Um tempo se passou, e Beatriz fora despertada pelo barulho de pessoas.
O trem havia parado.
Dan estava ao seu lado, gélido e pálido.
B: Dan... Por favor, acorde.
O Vagão fora aberto, e os funcionários do trem se assustaram com a cena.
B: Por favor, ajudem-no. Um fazendeiro louco atirou nele. Precisamos leva-lo a um hospital.
Dan começou a balbuciar algumas palavras, mas sequer para abrir os olhos tinha força.
- A senhora é o que dele?
B: Sou esposa, estávamos a procura de trabalho, por favor, vamos logo.
Era uma cidade muito pequena, provavelmente bem longe de onde vieram, afinal, sequer sobra de plantação ou do mar havia ali.
Foram levados ao hospital da cidade, não era um lugar grande, e bem se via que as coisas ali eram precárias.
Mas rezava para que fosse o suficiente para salvar a vida dele.

Quatro dias se passaram, quando Dan estava pronto para sair daquele lugar.
Dan: Precisamos sair daqui, é um lugar pequeno, e as notícias espalham rápido.
B: Tem certeza de que está bem?
Dan: Estou novo em folha, meu amor. Está aqui há vários dias sem roupas limpas, sem alimento de verdade.
B: Eu estou bem melhor do que quando estava naquela casa, rodeada de roupas limpas e alimentos de verdade. – rindo –
Ele levantou-se com a ajuda dela, agora era apenas repousar logo estaria totalmente curado.
O Mordomo não era desprevenido, pagou os remédios, e um homem para leva-los até o seu destino.
Beatriz pensava que nas últimas horas, decidira o resto de sua vida.
Olhava ao lado, Dan tinha um olhar sereno, e despreocupado.
Como podia não estar apavorado com a ideia de que Bento viesse atrás deles? Porque é o que com toda a certeza aconteceria.
As suposições fervilhavam em sua cabeça, quando Dan a puxou para seus braços e a aninhou em seu peito.
Dan: Tudo vai ficar bem... Fique tranquila.
Completou a frase com um beijo delicado em sua cabeça.
O Caminho não perdurou mais que vinte minutos.
Lá estavam...
Um condomínio, era totalmente afastado dos demais lugares. Mas ao contrário do lugar de onde fugiu, quanto mais se aproximava, mais o seu coração sossegava.

O carro não entrou, Dan chegou com Beatriz na portaria e logo se apresentou.
Assim que entraram, Beatriz ficou maravilhada.
Haviam crianças por todo o lado, pessoas andavam alegres pelas calçadas, algumas arriscavam-se em cima de patins.
B: Parece que estou em outro mundo.
Dan: E está.
Ela sorriu para ele.
B: Eu devo a minha vida a você.
Dan: Você ao meu lado pra sempre já é mais que suficiente.
Ela o beijou.
Dan: Está pronta pra conhecer a nossa casa?
B: Nossa casa?
Dan: Nossa.
Foram aproximando-se de um sobrado. Não era tão modesto assim, de longe se via que era lindo e que dentro deveria ser bem amplo.
Estavam exaustos, e isso estava estampado nas roupas e no rosto dos dois.
Mas mesmo assim, Dan após abrir a porta ergueu Beatriz e seu colo, e assim que entrou na casa, disse em voz alta.
Dan: Eu te amo, Beatriz!!! Está livre. – sorrindo –
Ela sorria como uma menina. Desceu dos braços dele e contemplou o interior da casa, tudo era muito organizado e vivo!
Antes de dizer algo, Dan deu mais um grito.
Dan: Papai chegou, Filha!
Beatriz olhou assustada para ele.
E antes que qualquer frase fosse formulada em sua boca, o barulho das rodas, anunciaram a chegada da pequena Clarice.
A cadeira de rodas parecia tão frágil e pequena como a menina.
C: Papai!!
Os olhos dela eram tão verdes, que Beatriz não conseguia parar de olhá-la.
Dan: Papai demorou mas nunca mais vai te deixar.
Dan a pegou no colo com tanta leveza, que logo se via o quão leve Clarice devia ser.
C: Que ótima notícia, pai. O que é isso no seu braço?
O Mordomo a enchia de beijos nas bochechas rosadas.
Dan: Eu caí. Nada demais, logo vai estar como antes.
Logo ambos pararam e olharam para Beatriz.
A mesma os olhava vidrada, e um sorriso em seus lábios era inevitável.
B: Oi. – sorrindo –
C: É a Dona Beatriz, pai?
Dan: É sim, meu amor.
C: Então é ela que... – interrompida –
Dan: Porque não diz oi pra ela?
Ele aproximou-se com a pequena nos braços.
C: Oi, Dona Bia.
B: Oi meu anjo. Você é linda. – rindo –
C: Obrigada. Você também. – sorrindo –
Beatriz então olhou-se com certo desprezo e completou:
B: São seus olhos, ainda tão puros.
A menina sorria alegre, como se o melhor presente que pudera receber, fosse a presença do pai de volta.
Dan derretia-se ao olhar para a filha.
C: Pai, posso mostrar o meu quarto pra ela?
Dan: Claro que pode, mas depois. Está bem?
Dan a levava para a cadeira novamente.
Dan: Cadê a tia Ma?
C: Tá lavando o banheiro.
Dan: O papai precisa tomar um banho e descansar, assim como a Beatriz. Já deu uma olhada em como estamos? – rindo –
C: Ok, pai. – rindo –

Antes que pudessem continuar, a empregada Marilda chegou a sala.
Era uma mulher de grande porte, negra, e tinha o sorriso estampado no rosto.
M: Seu Dan! Já estava preocupada. O senhor não usa nem um celular.
Dan: Me desculpe a demora, Ma. Agora não precisarei me ausentar mais.
Não precisou dizer mais nada, apenas o olhar apaixonado em direção a Beatriz, dizia tudo.
M: Fiquem a vontade, eu vou preparar um lanche, devem estar famintos.
Dan: E estamos mesmo.
C: Pai, eu vou pro meu quarto, depois leva a Dona Bia até lá.
Dan: Eu levo sim.
A Menina deixou o lugar sozinha, a cadeira era motorizada e isso facilitava seus movimentos pela casa.
Beatriz ainda não conseguia dizer nada. Fora informação demais em uma só vez.
Dan venho em sua direção e disse:
Dan: Aqui começa a sua nova vida, meu amor. Onde vamos ser felizes.
Ele segurou em suas mãos e subiram as escadas.
Isso intrigou um pouco Beatriz, como Dan escolheu uma casa com escadas com a filha naquela situação?
Não disse nada, apenas o seguiu.
Enquanto subia as escadas, pensava em como sua vida mudara.
O lugar onde estava parecia saído de outro mundo.
Onde nasceu, sempre foi um lugar um tanto precário, sem muitas coisas. E o lugar de onde saiu nem se fale, parecia saído de outra década.
Tinha a sensação de ter saído de um filme preto e branco.
Chegaram a um corredor.
A casa tinha um cheiro encantador, cheirava a giz de cera e massinha de modelar.
Ao entrar em um quarto que Dan a mostrou, pode contemplar um cheiro diferente.
Rosas...
E isso deixou Beatriz encantada.
Dan: O quarto é seu.
Ela o olhou maravilhada, havia poesias descritas em toda a parede por de trás da cama de casal.
B: Dan... é lindo.
Dan: Eu escrevi todas pra você, todo o tempo desde a primeira poesia que eu escrevi até agora, eu continuei escrevendo e as guardei pra você.
B: Eu amei.
Os olhos brilhavam ao olhar todo o interior do quarto.
Dan: Está livre agora. E eu quero que sinta isso. Vem cá.
Ele segurou em suas mãos e a levou até uma porta de vidro que existia ali.
Assim que ele abriu, o cheiro das rosas se intensificou.
Era um pequeno jardim na sacada do quarto, dali ela conseguia ver todo o condomínio.
O barulho das pessoas conversando, das crianças brincando, os vizinhos...
Havia vida!!!
B: Eu nem sei como eu posso te agradecer por tudo o que fez por mim, por e amar, por me livrar daquele maldito.
Dan: Tome um banho comigo.
Ela não podia ter ouvido aquilo.
B: Como é?
Dan: Um banho, quentinho... Ein? O que acha? Tem roupa pra você no guarda-roupas, e te garanto que é dessa década. – rindo –
Beatriz sorriu.
B: Acho uma ótima ideia.

Alguns minutos depois, lá estava Beatriz, olhava-se em frente ao espelho. Como o tempo lhe fizera mal.
Os cabelos estavam grisalhos a altura dos seios, os olhos fundos anunciavam que as últimas noites foram mal dormidas.
De fato perdera alguns quilos, os ossos de seu peito chegavam a saltar.
Como Dan pudera sentir algo por uma mulher como aquela?
Ele era tão lindo, tinha uma filha... Filha...
Os pensamentos foram interrompidos por ele que já estava na banheira a esperando.
Dan: Vem logo, Beatriz. A agua está maravilhosa.
B: Já estou indo.
Ela chegou um tanto vergonhosa pelo fato de estar nua em frente a ele.
Dan: O que tem? Está bem?
B: Dan... Algo está corroendo meus pensamentos desde quando fugimos daquele lugar.
O mordomo já sabia do que ela falava.
Dan: Sobre sua filha?
B: Sim, sobre o que disse.
Dan: Beatriz, creio que ainda não esteja na hora de saber... – foi interrompido –
B: Só pode estar brincando, não é?
Estavam frente a frente, enquanto a agua com espuma começava a cobrir o tronco de ambos.
Dan: É uma longa história.
B: Temos todo o tempo do mundo, Dan.
Dan: Está bem, está bem. Te contarei tudo. Depois do banho.
B: Dan!
Na verdade estava com medo, medo de contar aquela triste história.
Dan: Chegue aqui.
Ela virou se de costas pra ele, e o mesmo começou a ensaboa-la enquanto contava o que sabia.

Dan: Bom, como sabe, Senhor Bento já fora casada antes de te ganhar naquele jogo. Mas o que talvez não saiba é que ele deitava-se com outras mulheres.
Quando a menina Ana Beatriz nasceu, você entrou em trabalho de parto. Era antes da hora, e foi um parto difícil.
Senhor Bento já estava com tudo acertado para ir ver a menina Ana Beatriz e você deu a luz.
O bebê era fraco demais, talvez nem vivesse as próximas horas, os médicos confirmaram isso enquanto os demais empregados atendiam você.
Ele mandou que eu buscasse a menina Ana Beatriz na casa da amante dele e trouxesse para a casa de vocês.
A menina ao contrário do seu bebê, era forte e saudável. A amante deu graças ao se livrar da menina.
O maldito queria que eu a entregasse na porta de uma casa qualquer.
Beatriz a essa hora tinha a cabeça fervilhando.
B: Você teve coragem de... – sendo interrompida –
Dan: Não! Claro que não, jamais teria coragem de fazer algo com a minha filha, eu...

Dan ficou em silencio, a frase fora completada sem se dar conta.
O quebra- cabeças fora montado imediatamente na cabeça de Beatriz;

B: Clarice é a minha filha?

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sábado, março 26, 2016

Doce Poesia - 19º Episódio

B: O que está dizendo.
Dan: Vamos, meu amor! – puxando-a –
As palavras giravam em sua cabeça.
A sua frente mal sabia explicar como chegara a tal lugar, mas chegou, a cabeça com certeza ficou lá atrás, onde Dan falou tal absurdo.
A plantação acabara e agora estavam um uma trilha... Ou melhor, trilho.
Dan: Não solte a minha mão.
B: Precisamos sair daqui, ele não deve estar muito longe.
Dan: Nós vamos sair, só precisamos de mais alguns minutos.
B: O dia amanhecera, ela conseguirá sair dali com mais facilidade.
Dan: Quando isso acontecer... Estaremos... a caminho de casa.
Ele estava ofegante.
Logo a fumacinha que Beatriz olhava de sua janela, aproximava-se, acompanhada de um barulho ensurdecedor.
Dan segurou forte em suas mãos e pediu que ela pulasse junto com ele.
Correram... O mais rápido que podiam imaginar, Beatriz colocou na energia de suas pernas, toda a vontade de ser livre.
Estavam dentro de um dos vagões.
Não era um trem de viagem, e sim um trem de cargas, transportava verduras e rações.
Deixaram que seus corpos descansassem sobre as sacas de rações que ali estavam.
A respiração de ambos estava ofegante demais.
Mas Beatriz percebeu que Dan estava diferente, agora tossia.
Somente quando o sol lhes dera bom dia, Beatriz pode perceber que Dan estava sangrando.
B: Dan... Meu amor... Por favor, não faça isso comigo.
As mãos estavam tremulas, as lagrimas tomavam conta do seu rosto, mesmo pálido, Dan apenas sorria pra ela.
B: Porque está tão calmo assim?
Dan: Me chamou de meu amor... Posso morrer feliz.
B: Mordomo bobo... Como pode dizer isso?
Dan: Fique tranquila... foi só de raspão no braço.
Ela o olhou de perto, podia agora enxergar com clareza o ferimento.
B: Dan, não tem nada de raspão aqui, está perdendo muito sangue.
Dan: Estou com sede.
B: É claro que está. Onde vou encontrar... – foi interrompida –
Dan: Em minha mochila, tem um pouco...
Beatriz foi até a mochila, e encontrou a agua. Deu a agua para ele e continuou o olhando pensativa.
Chegou perto dele e pegou um pedaço de retalho caído no lugar.
B: Vai doer um pouquinho.
Dan: Ok...
Ela amarrou o braço dele onde havia a ferida para que não sangrasse mais.
B: Dan, falta muito para chegarmos?
Dan: Ainda temos uma longa viagem.
Ela aninhou-se ao lado dele e ali ficou... Protegida de tudo e de todos.
Dan: Beatriz...
B: Hum?
Dan: Porque mesmo depois de tudo o que o Senhor Bento disse sobre mim, ainda veio comigo?
B: Porque eu já sabia... Sempre soube.
Ambos ainda com os olhos fechados, aguardando o sono que demoraria vir.
B: E porque te amo. – sussurrando –

-
Um tempo se passou, e Beatriz fora despertada pelo barulho de pessoas.
O trem havia parado.
Dan estava ao seu lado, gélido e pálido.
B: Dan... Por favor, acorde.
O Vagão fora aberto, e os funcionários do trem se assustaram com a cena.
B: Por favor, ajudem-no. Um fazendeiro louco atirou nele. Precisamos leva-lo a um hospital.
Dan começou a balbuciar algumas palavras, mas sequer para abrir os olhos tinha força.
- A senhora é o que dele?
B: Sou esposa, estávamos a procura de trabalho, por favor, vamos logo.
Era uma cidade muito pequena, provavelmente bem longe de onde vieram, afinal, sequer sobra de plantação ou do mar havia ali.
Foram levados ao hospital da cidade, não era um lugar grande, e bem se via que as coisas ali eram precárias.
Mas rezava para que fosse o suficiente para salvar a vida dele.

Quatro dias se passaram, quando Dan estava pronto para sair daquele lugar.
Dan: Precisamos sair daqui, é um lugar pequeno, e as notícias espalham rápido.
B: Tem certeza de que está bem?
Dan: Estou novo em folha, meu amor. Está aqui há vários dias sem roupas limpas, sem alimento de verdade.
B: Eu estou bem melhor do que quando estava naquela casa, rodeada de roupas limpas e alimentos de verdade. – rindo –
Ele levantou-se com a ajuda dela, agora era apenas repousar logo estaria totalmente curado.
O Mordomo não era desprevenido, pagou os remédios, e um homem para leva-los até o seu destino.
Beatriz pensava que nas últimas horas, decidira o resto de sua vida.
Olhava ao lado, Dan tinha um olhar sereno, e despreocupado.
Como podia não estar apavorado com a ideia de que Bento viesse atrás deles? Porque é o que com toda a certeza aconteceria.
As suposições fervilhavam em sua cabeça, quando Dan a puxou para seus braços e a aninhou em seu peito.
Dan: Tudo vai ficar bem... Fique tranquila.
Completou a frase com um beijo delicado em sua cabeça.
O Caminho não perdurou mais que vinte minutos.
Lá estavam...
Um condomínio, era totalmente afastado dos demais lugares. Mas ao contrário do lugar de onde fugiu, quanto mais se aproximava, mais o seu coração sossegava.

O carro não entrou, Dan chegou com Beatriz na portaria e logo se apresentou.
Assim que entraram, Beatriz ficou maravilhada.
Haviam crianças por todo o lado, pessoas andavam alegres pelas calçadas, algumas arriscavam-se em cima de patins.
B: Parece que estou em outro mundo.
Dan: E está.
Ela sorriu para ele.
B: Eu devo a minha vida a você.
Dan: Você ao meu lado pra sempre já é mais que suficiente.
Ela o beijou.
Dan: Está pronta pra conhecer a nossa casa?
B: Nossa casa?
Dan: Nossa.
Foram aproximando-se de um sobrado. Não era tão modesto assim, de longe se via que era lindo e que dentro deveria ser bem amplo.
Estavam exaustos, e isso estava estampado nas roupas e no rosto dos dois.
Mas mesmo assim, Dan após abrir a porta ergueu Beatriz e seu colo, e assim que entrou na casa, disse em voz alta.
Dan: Eu te amo, Beatriz!!! Está livre. – sorrindo –
Ela sorria como uma menina. Desceu dos braços dele e contemplou o interior da casa, tudo era muito organizado e vivo!
Antes de dizer algo, Dan deu mais um grito.
Dan: Papai chegou, Filha!
Beatriz olhou assustada para ele.
E antes que qualquer frase fosse formulada em sua boca, o barulho das rodas, anunciaram a chegada da pequena Clarice.
A cadeira de rodas parecia tão frágil e pequena como a menina.
C: Papai!!
Os olhos dela eram tão verdes, que Beatriz não conseguia parar de olhá-la.
Dan: Papai demorou mas nunca mais vai te deixar.
Dan a pegou no colo com tanta leveza, que logo se via o quão leve Clarice devia ser.
C: Que ótima notícia, pai. O que é isso no seu braço?
O Mordomo a enchia de beijos nas bochechas rosadas.
Dan: Eu caí. Nada demais, logo vai estar como antes.
Logo ambos pararam e olharam para Beatriz.
A mesma os olhava vidrada, e um sorriso em seus lábios era inevitável.
B: Oi. – sorrindo –
C: É a Dona Beatriz, pai?
Dan: É sim, meu amor.
C: Então é ela que... – interrompida –
Dan: Porque não diz oi pra ela?
Ele aproximou-se com a pequena nos braços.
C: Oi, Dona Bia.
B: Oi meu anjo. Você é linda. – rindo –
C: Obrigada. Você também. – sorrindo –
Beatriz então olhou-se com certo desprezo e completou:
B: São seus olhos, ainda tão puros.
A menina sorria alegre, como se o melhor presente que pudera receber, fosse a presença do pai de volta.
Dan derretia-se ao olhar para a filha.
C: Pai, posso mostrar o meu quarto pra ela?
Dan: Claro que pode, mas depois. Está bem?
Dan a levava para a cadeira novamente.
Dan: Cadê a tia Ma?
C: Tá lavando o banheiro.
Dan: O papai precisa tomar um banho e descansar, assim como a Beatriz. Já deu uma olhada em como estamos? – rindo –
C: Ok, pai. – rindo –

Antes que pudessem continuar, a empregada Marilda chegou a sala.
Era uma mulher de grande porte, negra, e tinha o sorriso estampado no rosto.
M: Seu Dan! Já estava preocupada. O senhor não usa nem um celular.
Dan: Me desculpe a demora, Ma. Agora não precisarei me ausentar mais.
Não precisou dizer mais nada, apenas o olhar apaixonado em direção a Beatriz, dizia tudo.
M: Fiquem a vontade, eu vou preparar um lanche, devem estar famintos.
Dan: E estamos mesmo.
C: Pai, eu vou pro meu quarto, depois leva a Dona Bia até lá.
Dan: Eu levo sim.
A Menina deixou o lugar sozinha, a cadeira era motorizada e isso facilitava seus movimentos pela casa.
Beatriz ainda não conseguia dizer nada. Fora informação demais em uma só vez.
Dan venho em sua direção e disse:
Dan: Aqui começa a sua nova vida, meu amor. Onde vamos ser felizes.
Ele segurou em suas mãos e subiram as escadas.
Isso intrigou um pouco Beatriz, como Dan escolheu uma casa com escadas com a filha naquela situação?
Não disse nada, apenas o seguiu.
Enquanto subia as escadas, pensava em como sua vida mudara.
O lugar onde estava parecia saído de outro mundo.
Onde nasceu, sempre foi um lugar um tanto precário, sem muitas coisas. E o lugar de onde saiu nem se fale, parecia saído de outra década.
Tinha a sensação de ter saído de um filme preto e branco.
Chegaram a um corredor.
A casa tinha um cheiro encantador, cheirava a giz de cera e massinha de modelar.
Ao entrar em um quarto que Dan a mostrou, pode contemplar um cheiro diferente.
Rosas...
E isso deixou Beatriz encantada.
Dan: O quarto é seu.
Ela o olhou maravilhada, havia poesias descritas em toda a parede por de trás da cama de casal.
B: Dan... é lindo.
Dan: Eu escrevi todas pra você, todo o tempo desde a primeira poesia que eu escrevi até agora, eu continuei escrevendo e as guardei pra você.
B: Eu amei.
Os olhos brilhavam ao olhar todo o interior do quarto.
Dan: Está livre agora. E eu quero que sinta isso. Vem cá.
Ele segurou em suas mãos e a levou até uma porta de vidro que existia ali.
Assim que ele abriu, o cheiro das rosas se intensificou.
Era um pequeno jardim na sacada do quarto, dali ela conseguia ver todo o condomínio.
O barulho das pessoas conversando, das crianças brincando, os vizinhos...
Havia vida!!!
B: Eu nem sei como eu posso te agradecer por tudo o que fez por mim, por e amar, por me livrar daquele maldito.
Dan: Tome um banho comigo.
Ela não podia ter ouvido aquilo.
B: Como é?
Dan: Um banho, quentinho... Ein? O que acha? Tem roupa pra você no guarda-roupas, e te garanto que é dessa década. – rindo –
Beatriz sorriu.
B: Acho uma ótima ideia.

Alguns minutos depois, lá estava Beatriz, olhava-se em frente ao espelho. Como o tempo lhe fizera mal.
Os cabelos estavam grisalhos a altura dos seios, os olhos fundos anunciavam que as últimas noites foram mal dormidas.
De fato perdera alguns quilos, os ossos de seu peito chegavam a saltar.
Como Dan pudera sentir algo por uma mulher como aquela?
Ele era tão lindo, tinha uma filha... Filha...
Os pensamentos foram interrompidos por ele que já estava na banheira a esperando.
Dan: Vem logo, Beatriz. A agua está maravilhosa.
B: Já estou indo.
Ela chegou um tanto vergonhosa pelo fato de estar nua em frente a ele.
Dan: O que tem? Está bem?
B: Dan... Algo está corroendo meus pensamentos desde quando fugimos daquele lugar.
O mordomo já sabia do que ela falava.
Dan: Sobre sua filha?
B: Sim, sobre o que disse.
Dan: Beatriz, creio que ainda não esteja na hora de saber... – foi interrompido –
B: Só pode estar brincando, não é?
Estavam frente a frente, enquanto a agua com espuma começava a cobrir o tronco de ambos.
Dan: É uma longa história.
B: Temos todo o tempo do mundo, Dan.
Dan: Está bem, está bem. Te contarei tudo. Depois do banho.
B: Dan!
Na verdade estava com medo, medo de contar aquela triste história.
Dan: Chegue aqui.
Ela virou se de costas pra ele, e o mesmo começou a ensaboa-la enquanto contava o que sabia.

Dan: Bom, como sabe, Senhor Bento já fora casada antes de te ganhar naquele jogo. Mas o que talvez não saiba é que ele deitava-se com outras mulheres.
Quando a menina Ana Beatriz nasceu, você entrou em trabalho de parto. Era antes da hora, e foi um parto difícil.
Senhor Bento já estava com tudo acertado para ir ver a menina Ana Beatriz e você deu a luz.
O bebê era fraco demais, talvez nem vivesse as próximas horas, os médicos confirmaram isso enquanto os demais empregados atendiam você.
Ele mandou que eu buscasse a menina Ana Beatriz na casa da amante dele e trouxesse para a casa de vocês.
A menina ao contrário do seu bebê, era forte e saudável. A amante deu graças ao se livrar da menina.
O maldito queria que eu a entregasse na porta de uma casa qualquer.
Beatriz a essa hora tinha a cabeça fervilhando.
B: Você teve coragem de... – sendo interrompida –
Dan: Não! Claro que não, jamais teria coragem de fazer algo com a minha filha, eu...

Dan ficou em silencio, a frase fora completada sem se dar conta.
O quebra- cabeças fora montado imediatamente na cabeça de Beatriz;

B: Clarice é a minha filha?

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