2° Confidências/Part 2/Por você

Em Fiore...

Fernando havia imposto a sua presença durante toda à tarde na casa de Lívia. Quando ele foi embora a mesma foi até o quarto de Julia.

Bateu levemente junto a porta.

L:Filha?

Julia nada respondia.

L:Ana Julia!

Ela levantou-se da cama e foi abrir a porta.

J:O que foi mãe? (com a cara emburrada)

L:Acho que eu mereço uma explicação.

Julia voltou até a cama e Lívia a seguiu.

L:Julia, o que está acontecendo?

J:Mãe, olha pra gente?

L:O que tem a gente?

J:Estamos vivendo como foragidas.

L:Julia, nós já conversamos sobre isso.

J:Até quando mãe? Eu não aguento mais, eu não posso ter nenhuma rede social, eu não posso sair com meus novos amigos, moramos praticamente no meio do mato, eu estou com saudades do Matheus, da tia Vivian... Mãe... (com a voz embargada)

L:Filha, você sabe o que a mamãe fez, você sabe o que o Otávio decidiu. Ele pode ter colocado a polícia atrás da gente e... (foi interrompida)

Julia segurou com as duas mãos o rosto da mãe.

J:Mãe, o seu Otávio não fez isso. Se a polícia estivesse atrás da gente, a gente ia tá no jornal. E se você ligasse pra ele? (soltando-a)

L:Não! Julia, você é muito pequena pra entender certas coisas, a primeira coisa que o Otávio iria fazer quando me encontrasse, seria tirar as suas irmãs de mim.

J:Ele nem sabe que elas existem, mãe.

Aquelas palavras ditas assim, tão fáceis, machucaram Lívia de um jeito que ela não esperava.

L:É.

Julia percebeu.

J:E esse Fernando. Não deixa a gente em paz.

L:Você está sendo injusta com ele. Ele tem sido um grande amigo.

J:O seu Otávio não gosta dele.

L:De onde você tirou isso? (nervosa)

J:Esse homem tava no dia do seu casamento, mãe. E o Seu Otávio não o queria lá, eu ouvi.

Lívia ficou pensativa e lembrou-se de quando encontrou Fernando em Fiore.

Há dez meses.

Lívia havia acabado de completar dois meses na cidade de Fiore. Mas queria mudar-se para uma casa longe da cidade.

A mesma já apontava uma barriga de quatro meses. Estava com Julia em um aconchegante café a espera do então vendedor do imóvel. O mesmo fazia questão de fechar o negócio com a compradora.

J:Mãe, eu posso ver os enfeites daquela loja? (apontando para uma loja em frente ao café)

L:Julia, por favor não saia de lá para outra loja sem me avisar, não conhecemos essa cidade direito.

J:Tudo bem, mãe. (saindo)

Assim que ele chegou, fingiu uma cara de surpresa e começou a destilar suas mentiras.

F:Lívia!

L:Fernando? O que você está fazendo aqui? (assustada e já olhando para os lados)

F:Você está... Grávida? (quase vomitando tais palavras)

Ela não percebeu, mas Fernando olhava sua barriga com certo desprezo, com ódio.

L:Sim (sorrindo)

Mas logo caiu em si.

L:O que você está fazendo aqui? Como me encontrou? Você disse pra alguém que sabe onde eu estou? (levantando-se)

F:Ei, o que é isso? Porque todo esse desespero? (a segurando pelos ombros)

L:Eu só pensei que... (foi interrompida)

F:Não pensei que após o casamento Otávio e você fossem se mudar para uma cidade pequena dessas, e ainda morar em uma casa praticamente do campo. (rindo)

L:Eu... Eu não me casei. (já com a voz embargada)

F:Como? Mas...

L:Você não soube?

F:Quando eu fiquei sabendo do seu casamento, eu resolvi me mudar, consegui um trabalho de bancário em uma dessas agências aqui, cidade pequena, novas coisas. Precisava te esquecer. Afinal você já havia refeito a sua vida.

L:Eu contei tudo a ele.

F:Lívia, mas porque você fez isso? Você já estava inocentada. Por quê?

L:Eu não conseguia, eu precisava contar a verdade pra ele. Eu estava atormentada, minha consciência pesava.

F:E o que ele fez? Ele colocou a polícia atrás de você?

L:Não! Não sei... Eu havia dado uma opção pra ele, mas ele não quis, isso quer dizer que ele não me perdoou.

F:Você disse que foi em legitima defesa?

L:Disse.

F:Eu sinto muito, Lívia.

Voltando aos dias de hoje, ainda no quarto de Julia.

J:Mãe? Mãe!

L:Oi? O que? (despertando-se das lembranças)

J:A Esme tá chorando.

L:Ah, sim... Eu... Eu estou indo. (levantando-se da cama e indo em direção ao choro)

Ele mentiu...

Isso a deixou pensativa, o que mais ele poderia ter mentido? Ou melhor, será que alguma coisa que ele disse foi verdade?

Enquanto isso Julia pensava em uma maneira de se comunicar novamente com Matheus.

Afinal, depois que conseguiu ligar para ele do celular da mãe, a mesma faz vista grossa.

Uma semana se passou Otávio, Luiz e Matheus não encontraram nenhuma pista, como esperado.

Otávio estava em sua sala olhando alguns processos, mas definitivamente só olhando quando Vivian entra apressada por sua sala.

O: Vivian? (levantando)

V:Ela mandou uma carta! Leia! (sorrindo)

Otávio a essa altura já tremia e nem sabe como conseguiu ler.

A carta dizia assim...

-

Vivian minha amiga, que saudades eu sinto de vocês, do Rio. Ainda que eu tenha a visão do mar, não é a mesma coisa que aí.

Graças a Deus aos poucos essa dor que insiste em ficar em meu peito está amenizando.

Você iria adorar ver Esme e Pérola, Julia as ensinou a mexer com a boca para fazer barulho.

Imagino o que Otávio sentiria ao vê-las assim. Mas tinha que ser. Estou pensando em me mudar para outra cidade devido a certas coisas que eu descobri.

Antes de eu me mudar te mando notícias, talvez possamos nos encontrar!

Por enquanto te deixo essa foto, para nunca esquecer que te adoramos! Julia está mandando lembranças ao Matheus.

Beijos                                              Lívia Portegas

-

O:Onde está essa foto? Onde? Eu quero ver! (Eufórico)

Vivian pegou outro envelope e entregou a Otávio.

Lá estava, a donas dos olhos verdes mais lindos do mundo, junto a Julia e as pequenas Esmeralda e Pérola.

O sorriso que ela tinha naquela foto o deixava em pedaços.

O:Eu posso...

V:Claro que pode ficar com ela, mas quando a encontrarmos eu vou querer de volta. (sorrindo)

Os olhos de Otávio não conseguiam segurar uma lágrima sequer.

Nesse momento Luiz entrou na sala.

L.F:Estava com um cliente, só pude vir agora, e aí?

Vivian entregou a carta a ele.

Alguns minutos depois.

L.F:Ela poder ver o mar não ajuda muito.

O:Ela disse que vai se mudar.

V:Mas disse que vamos nos encontrar.

L.F:Que “talvez”.

V:Luiz!

L.F:Mas é verdade, meu amor.

O:Devido a certas coisas que ela descobriu. (pensativo)

V:É, também achei estranho.

Enquanto isso em Fiore.

Julia havia acabado de sair da escola quando deu de cara logo com quem?

Fernando.

F:Oi?

J:Oi (andando)

F:Eu vim te buscar.

J:Eu posso ir sozinha.

F:Sua mãe não ia gostar de saber que você foi sozinha.

Fernando sabia que se conquistasse Julia, seria meio caminho andado para ficar com Lívia.

Julia parou  e virou-se de frente para ele.

J:Porque minha mãe não veio me buscar?

F:Porque eu me ofereci para você tirar essa impressão ruim de mim.

Julia ainda estava desconfiada.

J:Eu não tenho impressão ruim de você.

F:Ótimo, assim você e... (foi interrompido)

J:Eu não gosto de você.