5° Confidências 2/ Por Você

V:Que coisa mais linda. (sorrindo)

Julia ainda não havia percebido eles ali.

Otávio abriu o portão e nesse momento Julia virou-se.

Ela correu para um abraço forte em Matheus que se aproximava correndo em direção à ela.

J:Você veio! (sorrindo)

Math:Vim! (rindo)

J:Tia! (abraçando-a)

O:Eu...

Otávio estava engasgado. As palavras que tinha em pensamento chegavam até a sua boca, mas paravam.

Julia segurou na mão dele e o levou até onde estavam as pequenas, balançavam os bracinhos roliços e balbuciavam alguma coisa.

Otávio há essa hora sentia as lágrimas em seu rosto descerem descontroladamente.

O:Filhas, minhas filhas (agachando junto a elas)

J:Está é Pérola e essa é a Esme... (sorrindo)

O:Oi meus amores. Vocês são a coisa mais linda que eu já vi em toda a minha vida. (Sorrindo em meio a lágrimas)

Vivian olhava para ele com tanta pena, perdeu o momento mais mágico que poderia ter vivido ao lado de Lívia.

Ainda ajoelhado em frente à elas ele continuava a olhá-las vidrado.

O:Pérola e Esmeralda Drayer. (sorrindo) Minhas filhas.

Ele beijou Pérola na bochecha e a mesma mostrou um lindo sorriso. Será que sabia quem era aquele homem? Será que sentia que aquele beijo viera de seu pai? Ou apenas sorria devido ao roçar da barba de Otávio em suas bochechas?

Fez o mesmo com Esmeralda.

O:Vamos ficar juntos. Todos juntos. Ouviram? Papai veio buscar vocês.

Nesse momento Vivian se aproximou também.

V:Os olhos são seus, Otávio.

J:Minha mãe sempre diz isso à elas.

O:Lívia fala de mim?

J:Sempre.

Otávio sorriu ao dizer isso.

Julia e Matheus abaixaram junto com Vivian para pegar as pequenas Esme e Pérola no colo.

V:Eu sabia que Lívia falaria dele para elas. (sorrindo enquanto ajeitava Esme em seu colo)

J:Fico feliz em saber que conseguiram nos achar a tempo.

V:A tempo do que?
J:Nós íamos nos mudar essa tarde.

V:Mas... Otávio, você... (ficou em silêncio ao perceber que o mesmo não estava)

J:Ele... (nervosa)

Math:Entrou! Foi atrás da tia.

J:Não! Ele vai entender tudo errado. (colocando Pérola no carrinho)

V:Entender errado? Não me diz que aquele outro carro...

Julia apenas assentiu com a cabeça.

Já era, não havia nada mas a ser feito.

Minutos antes de Otávio entrar, Lívia conversava com Fernando.

L:Eu realmente não tenho tempo e nem paciência para conversar esse assunto novamente com você. (tentando sair daquela situação)

F:Você não pode esperar por alguém que não te quer mais, que não soube te entender, que te julgou na primeira oportunidade que teve.

L:Acho que isso é um problema que cabe a mim resolver, não?

F:Eu te entendo, só eu consigo entender o que foi aquela noite.

Otávio entrou e se encontrou em uma enorme sala, olhou pausadamente por todo o cômodo, seu coração estava acelerado, o cheiro que sentiu da mulher da sua vida o despertou para a realidade, estava perto e não era um sonho.

Em passos lentos avançou...

Na cozinha...

L:Aquilo ficou no passado.

Fernando aproximava-se de sua boca.

F:Lívia... (sussurrando) Me dá uma chance.

As bocas estavam próximas demais.

Otávio se aproximava da cozinha, não ouvia um barulho sequer. O barulho que seu coração fazia o tirava a concentração.

F:Me deixa ficar com você. (fechando os olhos)

L:Aquilo ficou no passado...

F:Isso...

L:Junto com você. (o olhando profundamente)

Sentiu um gelo pairar sobre seu estomago, como uma vertigem.

O:Lívia? (quase como um sopro)

L:Otávio! (se afastando de Fernando)

Ela não acreditava que era ele, estava lindo, como o dia em que ele a esperava no altar.

Os olhos azuis como bolas de gude, a saudade que sentia dele a deixou alheia a situação em si, somente após alguns segundos a ficha caiu.

L:Otávio, não...

O:Já vi isso antes. (a interrompendo)

A voz de Otávio mal saía de sua boca, parecia que o gole de algum vinho ruim havia parado em sua garganta e quanto mais ele forçava, mais ardia.

L:Não! Não é isso... (nervosa)

O:O que esse homem está fazendo aqui?

F:Vim convidá-la para almoçar em minha casa hoje, ela e as meninas. (sorrindo)

O:Em minhas filhas você não encosta a mão, ou eu...

F:Você o que? (o provocando)

L:Parem com isso, Fernando, você também.

O:Sai, eu preciso falar com ela. (nervoso)

F:A casa não é sua, eu só saio se a Lívia pedir.

Otávio apenas olhou para Lívia e a mesma entendeu.

L:Fernando, por favor, vá para casa. Outra hora conversamos.

F:Tudo bem, se precisar é só me ligar, eu venho na mesma hora. (olhando para Otávio)

Assim que ele saiu.

O silêncio tomou conta da cozinha.

Os olhos dela o desejavam, a vontade que sentia era de se jogar nos braços de Otávio, em um beijo longo e demorado, esquecer-se do dia, da hora e seja lá o que mais, matar aquela sede dos lábios que só ele sabia saciar, matar a fome daquele corpo, dos carinhos, dos toques que só ele sabia fazer.

Ela se entregava apenas pelos olhos, que gritavam para que ele a tomasse em seus braços e a amasse, a amasse como não faziam há um ano.

Já os olhos de Otávio tinham perguntas, muitas perguntas e ela não conseguia decifrar, apenas sabia diferenciar, que aqueles olhos não a olhavam com o mesmo jeito que ela o olhava.

Otávio queria o mesmo, ou melhor, chegou ali para o mesmo, para chegar naquela cozinha e receber Lívia em seus braços e beijá-la como nunca, amá-la ali mesmo, esquecer-se de tudo e de todos. Mas ela o deixou sem ação ao aceitar outro em seu lugar. Porque era isso que Otávio imaginou.

O:Eu... Eu vim...

L:...

O:Eu vim porque eu não me importava e não me importo com o que te aconteceu no passado.

L:Otávio.

O:Eu vim porque quando eu soube que eu tinha lindas filhas eu fiquei maluco.

Lívia sentia as lágrimas já brotarem em seus olhos.

O:Eu vim porque eu pensei que podíamos retomar de onde paramos, de vivermos esse amor que aqui (apontando em seu peito) ainda está intacto.

L:Eu te... (foi interrompida)

O:Mas eu vi que estava errado. Fui um idiota em achar que você havia me esperado.

L:Eu te esperei! (se aproximando)

Otávio continuava com a expressão séria.

O:Não precisa continuar mentindo. (baixinho)

L:Eu não estou mentindo. (se aproximando)

O:O que foi isso que eu vi?

L:Um homem tentando desesperadamente um coração que já tem um dono, Otávio.

Ele realmente não esperava aquilo. Ficou balançado.

O:Porque, Lívia?

L:Eu não fiz nada, Otávio. (o segurando pelos braços)

O contato dela o deixou arrepiado. Ele ainda a ama como nunca, a quer como nunca quis mulher nenhuma, mas Otávio é orgulhoso e não iria engolir aquilo sem uma grande explicação.

O:Eu não quero esse homem ao lado das minhas filhas.

L:Ele foi um grande amigo nesse tempo que eu fiquei sozinha.

O:Eu imagino a amizade que ele te deu.

L:Não diz coisas que depois não terão volta.

O:Eu não me arrependo de dizer isso. Está doendo tanto Lívia. Eu parei a minha vida por você.

L:Eu também. (o encarando)

O:Mas ele estava aqui, Lívia! Se você iria fugir, porque com ele?

L:Eu não fugi com ele!

Lívia não acreditava que Otávio não se importava com a grande mentira que ela disse sobre o assassinato de Paulo, mas estava jogando a felicidade de ambos no lixo, por um mal entendido.

O:Não é o que parece.

L:Otávio, eu não acredito nisso.

O:Não acredita em que? Não acredita que eu te peguei no flagra?

L:Não acredito que você não vai me pegar em seus braços, que vai dizer que sentiu minha falta, que está louco pra me levar pra cama, louco pra matar essa saudade de me amar, como eu também estou de você.

Ele ficou em silêncio, era realmente o que ele queria dizer, o que queria fazer, mas... Não.

Ela o implorava com os olhos.

Como se estivesse sendo hipnotizado por aquele olhar, Otávio desviou-se do mesmo e disse firme:

O:Você vai voltar para o Rio de Janeiro!

L:O que?

O:Quero minhas filhas perto de mim. (virando-se)

Ela o segurou pelo braço.

L:Porque você é tão cabeça dura?

O:E porque você não para de mentir pra mim?

L:Quando você perceber a injustiça que você está fazendo comigo, talvez seja tarde demais.

O:Eu vou levá-las.

L:Você o que?

Lívia sentiu o sangue subir a cabeça, ele tirar conclusões precipitadas é uma coisa, afinal ela o conhece, sabe que ele é orgulhoso, talvez precisasse de um pouco mais de tempo, foi tudo muito rápido.

Agora levar as suas filhas? Não! Isso não!

Antes mesmo que Lívia pudesse dizer algo, Vivian entrou pela cozinha direto para um abraço. Percebeu que o clima ali estava pesado.

Nem ousou dizer algo como “Que bom que agora vamos ficar felizes”

V:Que saudade! (soltando-se de Lívia)

L:Eu também, Vivian. (sem tirar os olhos de Otávio)

V:Acho que interrompi uma conversa séria aqui.

O:Não interrompeu nada, eu apenas disse para a Lívia que eu estou levando as minhas filhas.

V:Levando?

L:Você não pode chegar aqui e levá-las!

O:Você não pode sumir no mundo com minhas filhas.

L:Eu tive os meus motivos! (alterando a voz)

O:E eu os meus! (nervoso)