É claro que
isso a apavorou, mas mal se importou, apenas esperou o relógio anunciar a hora.
Não fez
comida alguma e sequer se arrumou, e para a sua surpresa a visita que teve em
sua a casa, fora de um empregado apareceu dizendo que por ordem de Bento, ainda
não moraria no casarão.
Ele queria
conquistá-la, e esperaria até que ela viesse por livre e espontânea vontade.
No começo, Beatriz
pensou ser algum tipo de brincadeira.
Como podia
deixar que ela escolhesse ir com ele?
Nunca! Nunca se casaria com um homem que aceitou uma
aposta valendo sua preciosa liberdade com o pai caindo de bêbado.
Para ela,
Bento era como o próprio pai, não passava de um aproveitador.
-
Mas aquele
dia foi diferente, um garotinho veio entregar o envelope, e com um doce
sorriso, não deixou a caixa de Correios até que ela mesma pegasse o envelope de
suas mãos.
B: Olá. Como
se chama?
O garoto das
bochechas rosadas, respondeu:
_ Cupido. E
vim te entregar, isso. (Estendendo-lhe as mãos gordinhas com o envelope)
Beatriz
achou graça no garoto, e riu quando viu que ele continuava olhando-a.
B: O que
foi?
_Abre.
B: Eu irei
abrir quando entrar, pode? (sorrindo)
_Não, tem
que abrir agora.
Mesmo
pronunciando as palavras um tanto erradas, Beatriz entendeu. Bento dessa vez
fora esperto.
Foi então
que ela abriu o envelope que recebera tantas vezes.
E nele,
continha a Poesia mais linda que já havia lido.
E no fim do
papel, uma pequena pétala era colada.
Ela deu um
beijo na bochecha do garotinho, e disse para que ele fosse pra casa.
Beatriz não
conteve a curiosidade de entrar as pressas em seu quarto e abrir as tantas
cartas ao lado de sua cama.
Mal percebeu
as horas voarem como as pétalas coladas ao pé da folha de cada linda poesia que
leu naquela tarde.
Eram lindas,
como se tivessem sido escritas por um anjo.
Sentia o
amor aumentar em cada poesia.
Podia agora
sentir seu próprio coração pular ao ler a última. Será que receberia mais? Será
que deveria responde-las?
O pai chegou
e caiu bêbado na sala, mas Beatriz sequer ouviu o barulho da porta ou do corpo
se deixando cair.
Estava
entretida demais tentando desesperadamente escrever uma resposta delicada o
suficiente para Bento.
Queria dizer
que não estava pronta para casar-se com ele, mas que adora as poesias que
recebe e que sente que pode sentir algo a mais por ele.
Mas como
escrever isso?
O início da
madrugada chegou, junto com o cansaço e sono de Beatriz, que deixou a carta que
escrevera como estava.
Dizia o que
pensava, e tentou não parecer grossa ou insensível.
-
No dia
seguinte, Beatriz olhou o pai jogado no sofá. O mesmo não saberia explicar como
foi parar no sofá pela madrugada.
Ela aguardou
o garoto chegar e assim que ele apontou na rua, ela correu espera-lo no portão.
B: Bom dia,
será que pode levar essa carta a pessoa que te entrega estas? (mostrando-a com
um sorriso)
O garoto
assentiu e pegou a carta de sua mão.
Ela foi
apaixonando-se, dia a dia... Poesia a Poesia. Exatos quatro meses haviam
passado desde então.
Ela como
sempre esperou o garoto das cartas, tinha até comprado os biscoitos que
prometera a ele, mas dessa vez ele não apareceu... E assim continuou pelos
próximos três dias.
Até que no
dia em que Beatriz estava decidida a ir até a casa de Bento, o garoto chegou
com mais um envelope, e sério, disse:
_Oi, Bia. Pediram
pra esperar uma resposta, porque essa é a última.
B: A última?
Como assim?
_Eu não sei,
só pediram pra dizer isso.
Beatriz
abriu a carta e não havia poesia alguma, apenas a seguinte pergunta:
"Aceita
se casar comigo? Sim ou não?"
Era certo de
que tempo demais se passou desde a "aposta" e que uma decisão era
inevitável.
Mas não
saberia dizer se estava pronta ou não.
Só sabia que
os próximos dias seriam os mais tristes sem as poesias e maravilhosas
declarações que recebia.
Ela sentiu o
coração acelerar, as mãos ficarem trêmulas.
B: Eu vou
responder a carta. Aguarde um minuto.
Beatriz
entrou às pressas em casa, e respondeu a carta.
Ao entregar
ao garoto, sorriu:
B: Obrigada
por esperar.
Começaria
ali, uma vida de princesa, deixaria naquela casa, o pai bêbado e todas as
lembranças ruins que existia em seu mais profundo ser.
O garoto
fora rápido, antes mesmo do entardecer Bento estava em sua casa.
Vestia um
terno elegante, parecia que estava a caminho de um baile de gala.
O pai de
Beatriz continuava desacordado, agora debruçado junto a mesa da cozinha.
Ela estava
sem jeito, a situação era constrangedora, fora prometida de uma forma nojenta,
mas se apaixonara da forma mais linda que pudera se apaixonar.
Ela sorria
de maneira delicada, o que a fazia corar as bochechas.
B: Por
favor, sente-se. Gostaria de um chá? Uma água ou... (foi interrompida)
Ben: Você.
Eu quero você, vim te buscar pra te fazer minha mulher.
Ela ficou
envergonhada da maneira direta com que Bento disse tais palavras.
Ben: Você
escreveu que estava pronta. Você disse que...
B: Eu sei o
que disse, Sr. Bento.
Ele não
entendia porque as malas já não estavam na sala a sua espera.
Ben: Então?
0 comentários:
Postar um comentário