Ela não
entendeu muito bem a colocação do pai, casaria um dia quem sabe, mas sabia que
o pai não iria falar nessa colocação.
B: Diz logo!
Sabe que não namoro ninguém, que não vou me casar agora, porque está di...
S: Você sabe
que eu tenho uma certa dificuldade em perder nos jogos e que – interrompido-
B: Eu não
estou gostando disso, essa conversa está torta. Diga logo o que foi que fez.
S: Eu
apostei você e perdi.
Ela levantou
e riu incrédula.
B:Só pode estar
brincando. Eu não sou nenhum objeto pra que possa me apostar em um jogo com os
seus amigos bêbados e velhos.
S: Terá uma
vida boa, ele é rico e...
B: Você só
pode estar muito bêbado mesmo. Como pode achar que eu concordaria com um
absurdo desses? Sou maior de idade e não irei me casar com ninguém.
S: Isso não
é uma escolha, já está decido.
B: Quem
decide a minha vida sou eu, e não um homem que se titula pai.
S: Ele vai
cobrar essa dívida, precisa se casar com ele.
B: A dívida
é sua e não minha, pague-a como quiser, mas me deixe longe disso.
Era o fim da
conversa, Beatriz deixou claro sobre o que decidiu sobre esse absurdo.
Não sabia
que as coisas não seriam tão fáceis assim.
Ainda
naquele dia, Beatriz se deparou com a última coisa que imaginou passar naquele
dia.
As despesas
do funeral da mãe, foram um pouco maiores do que esperava.
Passou a
tarde toda pensando em como poderia resolver isso, naquele dia conseguiu
faxinar duas casas, o dinheiro daria para pagar as despesas, mas em
compensação... Mal teria o que comer nos próximos dias.
Antes de
anoitecer ela foi pagar as despesas e teve a surpresa, a mesma estava
totalmente quitada. E não precisaria de uma bola de cristal para saber de que
fora o tal homem rico quem ganhara.
Ao chegar em
casa estava cansada, mas teria que conversar com o pai, que para seu espanto,
continuava sóbrio desde aquela manhã.
Ela
aproximou-se do seu pai, estava sentada em frente a TV. Não assistia nada,
apenas olhava para a mesma.
S: O que
quer?
B: Sabe o
que quero, precisamos conversar.
S: Não
precisamos conversar, sabe o que deve fazer. A dívida não é mais minha. Sabe
como pagar, agora só me deixe fora disso.
Tal frase
continuou ecoando na cabeça da filha de Cecilia, como fazer com essa situação?
Ela não
conseguiu encontrar uma saída, mas para sua surpresa, o tal homem rico sequer
se manifestou naquela noite, nem naquela e nem pelas próximas duas semanas que
se passaram.
Isso em vez
de deixar Beatriz tranquila apenas a apavorou ainda mais.
Para aceitar
uma aposta como aquela, é claro que seria para levar o prêmio. Ela deixou como estava, não procurou saber de
nada, apenas tentou levar a vida como se nada disso tivesse acontecido.
O Pai já
voltara com a bebedeira assim que decidiu por si que a dívida agora pertencia a
Beatriz e a ninguém mais.
O Primeiro
envelope chegou tímido por debaixo da porta. Ela acordou naquela manhã fria
para ir trabalhar no casarão da Rua Oito.
Ao abrir a
porta o pé pisou em cima daquele papel um pouco volumoso, ela abaixou e
lentamente pegou a carta, o papel era grosso e logo o que viu o brasão lacrando
o envelope, entendeu do que se tratava.
Era do
homem, enfim se pronunciara, provavelmente queria saber quando teria o seu
prêmio.
Ela estava
com medo de ler o que estava escrito ali, o medo era maior que a curiosidade,
por isso foi até seu quarto e a largou por ali.
Não queria
pensar nisso agora, ele não a obrigaria a nada, era livre e dona de si.
Saiu para o
trabalho e esqueceu-se daquilo pelo resto da tarde.
Mas era algo
que não se tinha como ignorar por muito, e foi o que aconteceu. As cartar
começaram a chegar ainda com mais frequência, havia dias em que mais de uma
aparecia em sua caixa de correios, e isso começou a assusta-la.
Alguns dias
se passaram.
Beatriz
estava cansada de chorar, cada envelope que era entregue em seu portão, uma
lagrima em seu rosto caia.
Lembrava-se
de que não viria mais a sua mãe, que teria que deixar a casa que morou e todas
as lembranças que nela ainda continha.
Talvez teria
uma coisa boa nisso tudo, nunca mais precisaria ver aquele homem que um dia
chamou de pai, que deixava a casa fedendo a cachaça.
Era o fim do
jogo. Fora vendida a um homem que nunca viu na vida, como uma moeda de troca.
O garoto que
vinha todos os dias em seu portão, era jovem, deveria ter lá os seus 17 anos.
Jogava o
envelope em sua caixa de Correios e saia.
Hoje já
fazem 20 dias desde que seu pai anunciou que ela agora pertencia a Bento e que
iria casar-se e viver com ele para todo o sempre.
O primeiro
pensamento, foi fugir. Mas pra onde? Com que dinheiro? Não conhecia nada nem
ninguém.
Passou os
primeiros dias após a visita, pensando em como faria para livrar-se desse
maldito casamento.
Naquela
manhã, Beatriz terminava o almoço. Claro que almoçaria sozinha, como sempre.
Mas cozinhar, a deixava com a sensação de que sua mãe ainda estava com ela. Que
existia alguma coisa boa naquela casa.
O barulho
forte da porta batendo, anunciou o pai bêbado adentrando a casa.
Ele chegou
na cozinha e logo apoiou-se no batente da porta, a voz um tanto
incompreensível, mas cheia de notícias, não boas... Claro.
S: Vista uma
roupa decente, faça uma boa comida e espere o Senhor Bento, ele quer te
conhecer.
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