B: Que isso,
não é para tanto. Mordomo... (Rindo) Achei que isso nem existisse.
Ele
continuava encarando-a, um leve sorriso esboçava em seu rosto.
-
Desculpe-me, Senhora. Minha intensão não foi aborrecê-la, eu sinto muito.
Ao dizer
isso, Dan abaixou-se em frente a ela, como uma reverencia.
Beatriz
pensou por um momento que aquele homem talvez não tivesse um juízo perfeito.
B: Por
favor, levante-se, não precisa fazer... (foi interrompida)
Ben: Dan!!! Venha até o meu escritório!
Ben: Dan!!! Venha até o meu escritório!
A voz de
Bento era autoritária, e até um leve sobressalto o corpo de Dan esboçou ao
ouvir seu nome.
Ele sequer
parou para pensar, a encarou nos olhos e virou-se em direção ao escritório de
Bento.
A porta fora
trancada, pelo jeito Bento não queria que Beatriz soubesse o que andava
ordenando aos empregados.
Andava lentamente
pela grande sala, era tudo impecavelmente lindo, o cheiro da madeira do
assoalho a deixava nas nuvens.
Pensava em
como Bento pode esconder aquele lugar por tanto tempo.
E tudo
indicava que ele vinha ali frequentemente, os objetos e a rotina da casa era
familiar, e isso ao mesmo tempo que a fazia sentir-se em casa, a assustava,
pois ultimamente, sentia aquele lugar como qualquer coisa, menos sua casa.
Resolveu
então subir as escadas, ao tocar no corrimão, lembrou-se de horas atrás, quando
acabou caindo por uma escada muito parecida com aquela.
Certo
arrepio invadiu seu corpo ao pensar nisso.
Começou a
subir, sequer sabia onde seria seu quarto, mas estava seguindo. Logo encontrou
um corredor, em um deles já ouvia a pequena Ana Beatriz pulando e fazendo
barulho em seu novo quarto, de certo deveria estar cheio de novidades da cidade
grande, como Notebook, ou o tão sonhado Ipad, que Ana Beatriz empenhava-se
constantemente em conseguir um do pai.
Ao fim do
corredor, ela pode ver uma porta, a única que ficava de frente para o corredor,
a porta era diferente das demais, parecia um tanto mais escura e com um aspecto
antigo.
O impulso a
fez tocar na maçaneta e iria abrir, se não fosse o fato da filha abrir a porta
do quarto gritando.
O grito era
ensurdecedor, e o corredor produzia um eco horrível.
B:Bia! Pelo
amor de Deus, o que é isso? Que gritaria é essa?
A: Um bicho!
Horrível, mãe. Chame o papai, ele vai tirá-lo daí.
B: Seu pai
está no escritório conversando com o mordomo, deixe-me ver antes.
Beatriz
entrou um tanto receosa no quarto da filha, afinal, era um território estranho,
não sabia que tipo de animais costumavam aparecer naquela casa.
Ao entrar,
percebeu que não se tratava de nada a mais e nada a menos que uma borboleta
pousada em sua cama.
B: Bia, é só
uma borboleta, e uma linda borboleta, não é pra tanto.
Nesse mesmo
instante, Bento adentrou o quarto. Estava um tanto afoito.
Ben: O que
foi filha?
A:Um bicho
horrível, pai. (abraçando-o)
Bento logo seguiu em direção a cama da filha, olhou a colorida borboleta pousada sobre a mesma, e com apenas um tapa, a desmanchou por entre os dedos.
Bento logo seguiu em direção a cama da filha, olhou a colorida borboleta pousada sobre a mesma, e com apenas um tapa, a desmanchou por entre os dedos.
A frase de
que “ não foi nada demais”, ficou presa na garganta de Beatriz;
B: O que
está pensando?
Benn: Era um
bicho, não vou deixar que minha filha tenha medo de ficar aqui por causa de um
bicho.
Beatriz não
ousou discutir, era inútil.
Benn: Dan!
Ela o olhou
de canto, percebeu que ele estava ali desde o começo. Em silêncio, como se
estivesse apenas aguardando as ordens de Bento.
Benn: Troque
os lençóis da cama, ou melhor... Troque essa cama imediatamente. Mande as
empregadas limparem todo o quarto novamente.
Ele abaixou
a cabeça como já era de costume e completou.
Dan: Senhor
o quarto foi limpo há uma hora e...
Benn: Está
questionando minha ordem?
Dan: De
maneira alguma, Senhor.
Benn: Assim
espero, você não passa de um empregado, e nada mais. Que isso fique bem claro.
Beatriz
queria intervir, mas sua posição não era lá grandes coisas.
A garota
fingia um susto, soluçava forçadamente aos braços do pai.
A: Eu fiquei
com tanto medo, papai.
Benn: Não
precisa ter medo, filha. Papai sempre estará aqui pra te proteger. Agora o que
quer que eu faça pra te ajudar a ficar melhor.
A: Eu queria
sorvete.
Benn: Pois
bem. O papai vai te levar pra tomar o maior e mais gostoso sorvete da cidade.
Ana Beatriz
soltava gritinhos de alegria, e como em um passe de mágica, as lagrimas e o
soluço sessaram.
Beatriz
ficou sozinha no quarto, nem Bento e nem Ana cogitaram a possibilidade de leva-la
ao passeio na cidade.
Estava
cansada demais de tudo aquilo, agora essa mudança de cidade. Porque? Ao menos
onde moravam havia a lembrança do tempo que foi feliz, feliz com sua mãe e
feliz até mesmo com Bento.
Não era o
homem com quem se casara. E sentia falta de sorrir, falta de ser feliz.
Deixou o
quarto de Ana e voltou ao corredor, a porta que quase abrira minutos atrás
parecia chama-la.
Ela
aproximou-se novamente dela. As mãos tocaram a maçaneta, fechou os olhos para
encarar o medo, e ao girar sentiu mesma trancada, antes de abrir os olhos, o
tecido tocou em cima da sua mão.
Ela abriu os
olhos e o viu, os olhos azuis a faziam perder-se nas horas ou lugar.
Era um toque
gostoso, delicado, sentia –se bem. Tudo em um apto de segundo.
Beatriz
puxou a mão.
Dan: Não
deve entrar aí.
B: Porque?
Dan:
Porque...
O mordomo
levou as mãos até seu rosto, e deslizou de forma carinhosa. Beatriz fechou os
olhos e sentiu aquele carinho.
Parecia sair
desse mundo. Quem era aquele homem? Porque ela não conseguia ser autoritária
com ele e perguntar como ele ousa tocá-la de tal maneira.
Porque
sentia como se seus pés levitassem ao sentir o toque de suas mãos.
As palavras
enfim formaram uma frase em sua boca, mas antes de dizê-la, foi interrompida.
Dan: Eu
queria tanto te conhecer, queria tanto olhar nos seus olhos e dizer o quão
lindo são eles.
B: O que...
Algumas
empregadas apontaram no corredor, a nova cama e a faxina já foram
providenciadas pelo Mordomo.
Ele sorriu
pra ela e seguiu os demais empregados, certeza de que ia supervisionar o
trabalho deles.
Agora olhou
novamente a porta e a pergunta se formou em sua mente, o que poderia ter por
detrás daquela porta? O porque ela não podia, ficou preso na garganta de Dan.
Saiu de
perto da porta e seguiu para as demais, e enfim encontrou um quarto onde suas
bagagens encontravam-se, ficou feliz em saber que a cama era de solteiro e que
Bento não a obrigaria a deitar-se com ele.
-
A tarde
passou rapidamente, e antes mesmo que pudesse pensar em o que mais poderia
explorar naquele casarão, Beatriz ouviu o barulho do carro de Bento chegando e
em seguida os gritos de alegria de Ana Beatriz.
Ela apontou
nas escadas, Ana gritava de alegria. Não poderia ser só pelo sorvete que foram
tomar.
B: O que foi
que aconteceu, filha?
A: Olha,
mãe. Eu ganhei do papai.
Logo Beatriz
entendeu, o Ipad que tanto ela queria, estava nítido que não demoraria muito,
Bento sempre faz o que ela quer.
Beatriz
apenas sorriu forçadamente como se aprovasse tal presente e continuou a descer
as escadas.
Procurava
encontrar o mordomo, queria fazer-lhe algumas perguntas. Talvez pudesse saber o
que Bento fazia naquela casa, o porquê decidiu morar aqui com a família.
-
Ela
atravessou a sala com a inocência de que poderia passar ao outro cômodo
despercebida ou não questionada por Bento.
Benn: Onde
está indo, Beatriz?
B: Vou à
cozinha, quero ter certeza de que o jantar sairá bem.
Benn: Os
empregados cuidam disso.
B:Bento, não
podemos deixar tudo nas mãos dos empregados, não acha?
Ela
continuou andando em direção a cozinha.
Benn: Eu já
disse que os empregados cuidam disso, Beatriz.
A mesma
parou onde estava, não tinha mais argumentos para continuar, na verdade nunca
teve.
Benn: Não
quero você perto dos empregados, eu dito as regras, eles obedecem, qualquer
mudança reporte a mim, e eu mudarei as regras. Faça o que eu mando, ou terá
problemas.
Como sempre,
apenas virou-se em direção a escada e começou a subi-las, o mais estranho de
tudo isso, é que sua filha nunca questionava o pai, nunca entrou no meio de uma
briga ou discussão.
Era criança
mas é claro que já ouviu o pai humilhar a mãe, os choros de Beatriz eram
inconfundíveis através das paredes da casa.
E mesmo
assim nenhuma pergunta era feita ao pai.
Voltou ao
quarto e respirou fundo, nada mudaria. Tudo continuaria exatamente como sempre
foi.
-
Naquela
noite, Bento resolveu não perturbar Beatriz.
Era uma
cidade linda e provavelmente cheia de prazeres para um homem como ele, deveria
estar satisfeito.
Estranhou o
fato de não estar amarrada e nem trancada naquela casa, o que poderia ser
diferente ali? Será que por ser uma casa afastada da cidade de nada adiantaria
fugir? Correria e correria pelos campos a sua volta e não chegaria a lugar
nenhum?
Ou Bento
apenas estará dando sorte para o azar.
Já era
madrugada e Beatriz ainda não conseguira dormir.
Mesmo no
escuro continuava com os olhos fixados no teto. A casa era antiga demais, Bento
deveria ter gasto muito dinheiro para reforma-la. Mas algumas coisas ainda se
notada.
Como a
alguns riscos no assoalho de madeira, alguns eram bem grossos.
Ela se
levantou, queria saber que segredos eram escondidos naquela casa.
Talvez Bento
nunca ficasse sabendo que saíra naquela madrugada para explorar a casa, Rubens
ó fiel escudeiro de Bento já não existe mais para privá-la.
Aproximou-se
da porta e ao fechar os olhos e contrair a boca, girou lentamente a maçaneta.
Levemente
puxou a porta que infelizmente ainda tinha as dobradiças um tanto enferrujada,
e mesmo que devagar, ecoou certo barulho no silencio daqueles corredores.
Apontou a
cabeça no corredor e certificando-se de que não havia nada e nem ninguém, ela
arriscou o primeiro passo.
E logo algo
chamou sua atenção. A pequena fresta por debaixo da porta misteriosa estava
acesa, alguém estava lá. Seria Bento?
O primeiro
impulso de voltar para o seu quarto antes que alguém a pegasse ali, passou
rapidamente.
Era curiosa
demais, aproximou-se em passos silenciosos, os pés descalços a ajudavam no
silencio.
Enfim em
frente a porta, suava, o coração palpitava freneticamente, parecia que a certa
hora sairia pela boca.
Estava com
medo, mas muito curiosa ao mesmo tempo, a adrenalina de saber que não poderia
ser pega a fazia sorrir de leve.
_ O que está
fazendo aqui?