quarta-feira, novembro 25, 2015

Doce Poesia - 4º Episódio

Ela encheu o seu peito de ar e coragem, e aos seus vinte e poucos anos, entregou sua vida a Bento.
B: Vamos.
Bento deu um largo sorriso.
B: Eu só preciso de um tempo para arrumar minhas coisas, não achei que viria tão depressa e... (foi interrompida)
 Ben: Não. Nada disso será necessário.
Compraremos tudo novo. Nada mais será como antes, quero que se esqueça dessa casa, desse lugar e de tudo antes de mim. Vamos ser felizes. Te farei a mulher mais feliz desse mundo. Eu prometo.
Ao terminar tais palavras, Bento a puxou para um abraço.
Quente e aconchegante, mostrando a Beatriz que a protegeria de tudo e de todos.
Aquele dia sempre ficará na memória de Beatriz. Fez como Bento a instruiu, deixou tudo para trás...Tudo.
Algum tempo passou, o casamento não fora um evento tão grande e chamativo por vontade de Beatriz, porque por Bento, o casamento deles ficaria marcado na história da pequena cidade.
Como tudo na vida, as coisas mudam, as vezes para melhor, as vezes para pior, as vezes só deixam de ser tão importantes.
As poesias diminuíram, não a recebia mais como antes, agora ganhava somente aos finais de semana. Bento dizia que era por ter mais inspiração quando viajava.
Mesmo assim ela gostava. E as guardava todas em uma delicada caixa.
Os anos foram se passando, Beatriz nunca mais viu seu pai, ouviu rumores por alguns meses depois de seu casamento, mas logo depois... Nem isso.
-
Enfim a grande notícia, Bento já havia perdido as esperanças. Mas Beatriz, nunca.
Ela estava esperando chegar de mais uma de suas viagens.
Sentava confortável em sua poltrona no escritório.
Ele chegou feliz, trazia boas notícias da capital.
Ao entrar, assustou-se com sua bela mulher o esperando no escritório.
Ben: Boa noite, meu amor. O que faz acordada a essa hora?
B: Estava te esperando.
Ben: Eu disse que chegaria tarde.
B: Me trouxe poesias dessa viagem?
Ben: Mas é claro que sim. Está em uma das malas.
Beatriz continuava olhando-o em silêncio.
Não era o que costumava a fazer quando Bento anunciava a vinda de uma nova poesia.
Ben: O que foi, meu amor? Perdeu o interesse nas poesias? (sorrindo)
B: Não, é que eu...
A voz começava a ficar embargada.
Ben: Aconteceu algo quando eu não estava? Você está bem? O seu pai, ele... (foi interrompido)
B: Eu estou gravida! (sorrindo)
Ben: Grávida? Não... (sorrindo)
B: Sim! (sorrindo)
No mesmo instante, Bento a segurou em seus braços e a beijou docemente.
Os lábios movimentavam ao sabor salgado das lágrimas dela.
B: Eu te amo, te amo!
Ben: Eu sou o homem mais feliz do mundo.
Beatriz sabia o quanto queriam aquela criança, desde o primeiro instante esse bebê fora desejado.
Ele a segurou pela nuca, e a puxou contra seus lábios, enfim teria o seu maior desejo realizado, um herdeiro.
Para seguir com os negócios da família.
Seriam os maiores joalheiros que já se ouviu falar.
Ali, naquele lugar um tanto escuro, Beatriz comemorava junto ao marido a vinda do novo membro da família.
As cortinas do escritório eram pesadas, e iria abafar o som daquela comemoração.
Ele a ergueu em cima da mesa, não era delicado, mas Beatriz não se incomodou com isso.
As mãos de Bento já acariciavam as coxas dela, que já se entrelaçavam em seu tronco a medida em que sua língua se encaixava com a de Beatriz.
Embora já tivessem quase seus quarenta anos, não se sentiam assim.
Sentiam-se cada vez mais jovens.
Os cabelos estavam a essa altura soltos e jogados para trás.
Os olhos fechados para que pudesse se concentrar apenas nas sensações que seu corpo lhe mandava.
Os lábios dele caminhavam lentamente por toda a extensão de seu colo.
Sentia o arrepio percorrer todo o seu corpo.
Ele voltou a altura de seus lábios e a beijou novamente.
As mãos agora, apertavam sem cuidado algum a cintura de Beatriz.
O sutiã já se encontrava jogado em cima da mesa, e seu vestido descia cuidadosamente por suas pernas.
Ele acariciou seu rosto, e com sua ajuda a posicionou de uma maneira perfeita.
A encarou em um profundo olhar, e a puxando para si, a penetrou, arrancando dela um gemido deliciosamente provocador.
Que só fez com que ele intensificasse seus movimentos.
O som da voz dela pronunciando tais ruídos, era maravilhoso... Delicioso.
Ele a mordiscou na orelha, e aprimorou ainda mais seus movimentos chegando com toda a velocidade um quente e delirante gozo.
Ainda sem parar seus movimentos, a beijou nos lábios segurando neles mais um gemido.
E somente depois de ver a respiração dela voltar aos poucos ao normal, ele parou os movimentos e a deixou descansar toda aquela adrenalina.
Após se recomporem, Beatriz o abraçou.
B: Obrigada por tudo, por me fazer tão feliz.
Ben: Desde que te conquistei... Essa é minha razão de viver, te fazer feliz.
Ela o beijou, haviam tentado tanto tempo. Para Beatriz se tornar uma mulher completa, era somente isso que faltava em sua vida, um filho.
Bento era o homem que qualquer mulher pediria aos céus.
-
Era uma gravidez de risco, Beatriz tinha pressão alta e precisava de repouso absoluto. O que não foi nada difícil, afinal, na imensa casa em que moravam, os empregados a rodeavam de serviços e cuidados. Nunca precisou fazer nada, ainda mais agora.
O tempo passou, Beatriz agora tinha uma linda e saudável barriga de 7 meses.
A pequena Ana Beatriz estava a caminho, e Bento estava mais ansioso e desesperado do que a própria Beatriz.
Estava arrumando as roupinhas de sua filha no enorme jardim de sua casa. Era lindo, cheio de pequenos campos de flores, Bento mandou encher de flores quando descobriu que elas encantavam Beatriz. Que podia passar horas e horas apenas observando-as, o dia estava lindo, a brisa trazia para junto dela o delicado perfume das rosas brancas ao lado.
Sentava em um banco de madeira, que já machucavam suas costas pelo tempo que lá estava. A Barriga estava grande demais, e uma posição confortável em um banco de madeira era praticamente impossível. Acariciou mais uma vez sua barriga, e começou a imaginar o rosto do anjo que estava a caminho de sua vida. Cheirava as roupinhas do cesto ao seu lado, tinham cheiro de bebe sem ao menos ter vestido um. O pensamento estava longe quando sentiu um pequeno desconforto.
B: Bia? O que foi filha?
As mãos cuidadosamente passeavam sobre a barriga.
B: O que está sentindo? Quer ouvir mais uma poesia do papai? (sorrindo)
Com certa dificuldade, levantou-se no banco para pegar o cesto e entrar, mas antes de sequer pegar o mesmo.
Foi surpreendida.
S: Olá, filha.
Beatriz recuou de imediato, encostando no banco que estava atrás.
S: Eu vim aqui, porque preciso de dinheiro;
O cheiro de cachaça fazia Beatriz sentir fortes enjoos. Mas o pior, era ver o próprio pai naquela situação.
Estava deplorável, a barba estava tão comprida que chegava a quase alcançar o peito.
As roupas surradas e sujas, provavelmente andara vomitando.
B: O que quer aqui?
S: Você sabe o que eu quero. Sabe o porquê está aqui. Está aqui graças a mim, agora tem tudo do bom e do melhor, é rica, vai até ter um filho.
Ao dizer isso, Sebastião chegou a esticar as mãos para encostar na barriga dela.
Nunca, nunca deixaria aquelas mãos imundas chegarem tão perto do ser mais puro que poderia ter;
B: Você me vendeu, como se eu fosse um bicho, um objeto qualquer.
A expressão de Beatriz era de nojo. As vezes pensava como sua mãe aguentou por tanto tempo aquela situação;
Sebastião segurou forte nos braços de Beatriz.
S: Desgraçada, sequer trouxe seu pobre pai para morar com você. Me deixou naquele lugar imundo que um dia sua mãe chamou de lar. Tudo que tens é graças a mim...
B: Me solta! Está me machucando.
As lagrimas começavam a cair sobre o rosto. Estavam incontroláveis, estava com medo, muito medo. Como quando sua mãe apanhou na sua frente e não pudera fazer nada.
S: Me dá logo o dinheiro! (Gritando)
B: Não! (Gritando meio a lagrimas)
O bêbado deu-lhe um forte tapa no rosto, fora tão forte que Beatriz chegou a cair, não foi um tombo tão grave, ou melhor... Não seria se ela não estivesse grávida de 8 meses e nervosa daquela maneira.
No mesmo instante ela sentiu a forte fisgada em sua barriga.
Sebastião a segurou nos ombros e a sacudiu bruscamente.
S: Não me ignore, sua moleca! (Gritando)
Ela só viu o vulto, Bento passou por ela e jogou-se por cima de seu pai, ela viu os dois caídos ao chão.
Os socos eram fortes, Beatriz via as mãos de Bento ficarem vermelhas. Sua voz não tinha mais tanta força, a dor estava ficando insuportável.
B: Pare... (Sussurrando)
Beatriz começou a ser amparada pelas empregadas, ouviu quando uma delas pediu agua e panos.
B: Minha filha. Por favor... Não deixem que...
_: Por favor senhora, precisa ficar calma.
Ela ainda via Bento ajoelhado no gramado.
B: Bento... Pare...
A voz não o alcançava, parecia não alcançar sequer as empregadas que a amparavam.
B:Por favor....
A dor intensificava.
B:Para!!!!
O grito agora alcançava a todos.
Ele largou o velho ao chão e correu em sua direção;

Ben: Porque? O que estão fazendo? Ainda não é a hora.

terça-feira, novembro 17, 2015

Doce Poesia - 3º Episódio

É claro que isso a apavorou, mas mal se importou, apenas esperou o relógio anunciar a hora.
Não fez comida alguma e sequer se arrumou, e para a sua surpresa a visita que teve em sua a casa, fora de um empregado apareceu dizendo que por ordem de Bento, ainda não moraria no casarão.
Ele queria conquistá-la, e esperaria até que ela viesse por livre e espontânea vontade.
No começo, Beatriz pensou ser algum tipo de brincadeira.
Como podia deixar que ela escolhesse ir com ele?
Nunca!  Nunca se casaria com um homem que aceitou uma aposta valendo sua preciosa liberdade com o pai caindo de bêbado.
Para ela, Bento era como o próprio pai, não passava de um aproveitador.
-
Mas aquele dia foi diferente, um garotinho veio entregar o envelope, e com um doce sorriso, não deixou a caixa de Correios até que ela mesma pegasse o envelope de suas mãos.
B: Olá. Como se chama?
O garoto das bochechas rosadas, respondeu:
_ Cupido. E vim te entregar, isso. (Estendendo-lhe as mãos gordinhas com o envelope)
Beatriz achou graça no garoto, e riu quando viu que ele continuava olhando-a.
B: O que foi?
_Abre.
B: Eu irei abrir quando entrar, pode? (sorrindo)
_Não, tem que abrir agora.
Mesmo pronunciando as palavras um tanto erradas, Beatriz entendeu. Bento dessa vez fora esperto.
Foi então que ela abriu o envelope que recebera tantas vezes.
E nele, continha a Poesia mais linda que já havia lido.
E no fim do papel, uma pequena pétala era colada.
Ela deu um beijo na bochecha do garotinho, e disse para que ele fosse pra casa.
Beatriz não conteve a curiosidade de entrar as pressas em seu quarto e abrir as tantas cartas ao lado de sua cama.
Mal percebeu as horas voarem como as pétalas coladas ao pé da folha de cada linda poesia que leu naquela tarde.
Eram lindas, como se tivessem sido escritas por um anjo.
Sentia o amor aumentar em cada poesia.
Podia agora sentir seu próprio coração pular ao ler a última. Será que receberia mais? Será que deveria responde-las?
O pai chegou e caiu bêbado na sala, mas Beatriz sequer ouviu o barulho da porta ou do corpo se deixando cair.
Estava entretida demais tentando desesperadamente escrever uma resposta delicada o suficiente para Bento.
Queria dizer que não estava pronta para casar-se com ele, mas que adora as poesias que recebe e que sente que pode sentir algo a mais por ele.
Mas como escrever isso?
O início da madrugada chegou, junto com o cansaço e sono de Beatriz, que deixou a carta que escrevera como estava.
Dizia o que pensava, e tentou não parecer grossa ou insensível.
-
No dia seguinte, Beatriz olhou o pai jogado no sofá. O mesmo não saberia explicar como foi parar no sofá pela madrugada.
Ela aguardou o garoto chegar e assim que ele apontou na rua, ela correu espera-lo no portão.
B: Bom dia, será que pode levar essa carta a pessoa que te entrega estas? (mostrando-a com um sorriso)
O garoto assentiu e pegou a carta de sua mão.
Ela foi apaixonando-se, dia a dia... Poesia a Poesia. Exatos quatro meses haviam passado desde então.
Ela como sempre esperou o garoto das cartas, tinha até comprado os biscoitos que prometera a ele, mas dessa vez ele não apareceu... E assim continuou pelos próximos três dias.
Até que no dia em que Beatriz estava decidida a ir até a casa de Bento, o garoto chegou com mais um envelope, e sério, disse:
_Oi, Bia. Pediram pra esperar uma resposta, porque essa é a última.
B: A última? Como assim?
_Eu não sei, só pediram pra dizer isso.
Beatriz abriu a carta e não havia poesia alguma, apenas a seguinte pergunta:
"Aceita se casar comigo? Sim ou não?"
Era certo de que tempo demais se passou desde a "aposta" e que uma decisão era inevitável.
Mas não saberia dizer se estava pronta ou não.
Só sabia que os próximos dias seriam os mais tristes sem as poesias e maravilhosas declarações que recebia.
Ela sentiu o coração acelerar, as mãos ficarem trêmulas.
B: Eu vou responder a carta. Aguarde um minuto.
Beatriz entrou às pressas em casa, e respondeu a carta.
Ao entregar ao garoto, sorriu:
B: Obrigada por esperar.
Começaria ali, uma vida de princesa, deixaria naquela casa, o pai bêbado e todas as lembranças ruins que existia em seu mais profundo ser.
O garoto fora rápido, antes mesmo do entardecer Bento estava em sua casa.
Vestia um terno elegante, parecia que estava a caminho de um baile de gala.
O pai de Beatriz continuava desacordado, agora debruçado junto a mesa da cozinha.
Ela estava sem jeito, a situação era constrangedora, fora prometida de uma forma nojenta, mas se apaixonara da forma mais linda que pudera se apaixonar.
Ela sorria de maneira delicada, o que a fazia corar as bochechas.
B: Por favor, sente-se. Gostaria de um chá? Uma água ou... (foi interrompida)
Ben: Você. Eu quero você, vim te buscar pra te fazer minha mulher.
Ela ficou envergonhada da maneira direta com que Bento disse tais palavras.
Ben: Você escreveu que estava pronta. Você disse que...
B: Eu sei o que disse, Sr. Bento.
Ele não entendia porque as malas já não estavam na sala a sua espera.

Ben: Então?

quarta-feira, novembro 04, 2015

Doce Poesia - 2º Episódio

Ela não entendeu muito bem a colocação do pai, casaria um dia quem sabe, mas sabia que o pai não iria falar nessa colocação.
B: Diz logo! Sabe que não namoro ninguém, que não vou me casar agora, porque está di...
S: Você sabe que eu tenho uma certa dificuldade em perder nos jogos e que – interrompido-
B: Eu não estou gostando disso, essa conversa está torta. Diga logo o que foi que fez.
S: Eu apostei você e perdi.
Ela levantou e riu incrédula.
B:Só pode estar brincando. Eu não sou nenhum objeto pra que possa me apostar em um jogo com os seus amigos bêbados e velhos.
S: Terá uma vida boa, ele é rico e...
B: Você só pode estar muito bêbado mesmo. Como pode achar que eu concordaria com um absurdo desses? Sou maior de idade e não irei me casar com ninguém.
S: Isso não é uma escolha, já está decido.
B: Quem decide a minha vida sou eu, e não um homem que se titula pai.
S: Ele vai cobrar essa dívida, precisa se casar com ele.
B: A dívida é sua e não minha, pague-a como quiser, mas me deixe longe disso.
Era o fim da conversa, Beatriz deixou claro sobre o que decidiu sobre esse absurdo.
Não sabia que as coisas não seriam tão fáceis assim.
Ainda naquele dia, Beatriz se deparou com a última coisa que imaginou passar naquele dia.
As despesas do funeral da mãe, foram um pouco maiores do que esperava.
Passou a tarde toda pensando em como poderia resolver isso, naquele dia conseguiu faxinar duas casas, o dinheiro daria para pagar as despesas, mas em compensação... Mal teria o que comer nos próximos dias.
Antes de anoitecer ela foi pagar as despesas e teve a surpresa, a mesma estava totalmente quitada. E não precisaria de uma bola de cristal para saber de que fora o tal homem rico quem ganhara.
Ao chegar em casa estava cansada, mas teria que conversar com o pai, que para seu espanto, continuava sóbrio desde aquela manhã.
Ela aproximou-se do seu pai, estava sentada em frente a TV. Não assistia nada, apenas olhava para a mesma.
S: O que quer?
B: Sabe o que quero, precisamos conversar.
S: Não precisamos conversar, sabe o que deve fazer. A dívida não é mais minha. Sabe como pagar, agora só me deixe fora disso.
Tal frase continuou ecoando na cabeça da filha de Cecilia, como fazer com essa situação?
Ela não conseguiu encontrar uma saída, mas para sua surpresa, o tal homem rico sequer se manifestou naquela noite, nem naquela e nem pelas próximas duas semanas que se passaram.
Isso em vez de deixar Beatriz tranquila apenas a apavorou ainda mais.
Para aceitar uma aposta como aquela, é claro que seria para levar o prêmio.  Ela deixou como estava, não procurou saber de nada, apenas tentou levar a vida como se nada disso tivesse acontecido.
O Pai já voltara com a bebedeira assim que decidiu por si que a dívida agora pertencia a Beatriz e a ninguém mais.

O Primeiro envelope chegou tímido por debaixo da porta. Ela acordou naquela manhã fria para ir trabalhar no casarão da Rua Oito.
Ao abrir a porta o pé pisou em cima daquele papel um pouco volumoso, ela abaixou e lentamente pegou a carta, o papel era grosso e logo o que viu o brasão lacrando o envelope, entendeu do que se tratava.
Era do homem, enfim se pronunciara, provavelmente queria saber quando teria o seu prêmio.
Ela estava com medo de ler o que estava escrito ali, o medo era maior que a curiosidade, por isso foi até seu quarto e a largou por ali.
Não queria pensar nisso agora, ele não a obrigaria a nada, era livre e dona de si.
Saiu para o trabalho e esqueceu-se daquilo pelo resto da tarde.
Mas era algo que não se tinha como ignorar por muito, e foi o que aconteceu. As cartar começaram a chegar ainda com mais frequência, havia dias em que mais de uma aparecia em sua caixa de correios, e isso começou a assusta-la.
Alguns dias se passaram.
Beatriz estava cansada de chorar, cada envelope que era entregue em seu portão, uma lagrima em seu rosto caia.
Lembrava-se de que não viria mais a sua mãe, que teria que deixar a casa que morou e todas as lembranças que nela ainda continha.
Talvez teria uma coisa boa nisso tudo, nunca mais precisaria ver aquele homem que um dia chamou de pai, que deixava a casa fedendo a cachaça.
Era o fim do jogo. Fora vendida a um homem que nunca viu na vida, como uma moeda de troca.
O garoto que vinha todos os dias em seu portão, era jovem, deveria ter lá os seus 17 anos.
Jogava o envelope em sua caixa de Correios e saia.
Hoje já fazem 20 dias desde que seu pai anunciou que ela agora pertencia a Bento e que iria casar-se e viver com ele para todo o sempre.
O primeiro pensamento, foi fugir. Mas pra onde? Com que dinheiro? Não conhecia nada nem ninguém.
Passou os primeiros dias após a visita, pensando em como faria para livrar-se desse maldito casamento.
Naquela manhã, Beatriz terminava o almoço. Claro que almoçaria sozinha, como sempre. Mas cozinhar, a deixava com a sensação de que sua mãe ainda estava com ela. Que existia alguma coisa boa naquela casa.
O barulho forte da porta batendo, anunciou o pai bêbado adentrando a casa.
Ele chegou na cozinha e logo apoiou-se no batente da porta, a voz um tanto incompreensível, mas cheia de notícias, não boas... Claro.

S: Vista uma roupa decente, faça uma boa comida e espere o Senhor Bento, ele quer te conhecer.

quarta-feira, novembro 25, 2015

Doce Poesia - 4º Episódio

Ela encheu o seu peito de ar e coragem, e aos seus vinte e poucos anos, entregou sua vida a Bento.
B: Vamos.
Bento deu um largo sorriso.
B: Eu só preciso de um tempo para arrumar minhas coisas, não achei que viria tão depressa e... (foi interrompida)
 Ben: Não. Nada disso será necessário.
Compraremos tudo novo. Nada mais será como antes, quero que se esqueça dessa casa, desse lugar e de tudo antes de mim. Vamos ser felizes. Te farei a mulher mais feliz desse mundo. Eu prometo.
Ao terminar tais palavras, Bento a puxou para um abraço.
Quente e aconchegante, mostrando a Beatriz que a protegeria de tudo e de todos.
Aquele dia sempre ficará na memória de Beatriz. Fez como Bento a instruiu, deixou tudo para trás...Tudo.
Algum tempo passou, o casamento não fora um evento tão grande e chamativo por vontade de Beatriz, porque por Bento, o casamento deles ficaria marcado na história da pequena cidade.
Como tudo na vida, as coisas mudam, as vezes para melhor, as vezes para pior, as vezes só deixam de ser tão importantes.
As poesias diminuíram, não a recebia mais como antes, agora ganhava somente aos finais de semana. Bento dizia que era por ter mais inspiração quando viajava.
Mesmo assim ela gostava. E as guardava todas em uma delicada caixa.
Os anos foram se passando, Beatriz nunca mais viu seu pai, ouviu rumores por alguns meses depois de seu casamento, mas logo depois... Nem isso.
-
Enfim a grande notícia, Bento já havia perdido as esperanças. Mas Beatriz, nunca.
Ela estava esperando chegar de mais uma de suas viagens.
Sentava confortável em sua poltrona no escritório.
Ele chegou feliz, trazia boas notícias da capital.
Ao entrar, assustou-se com sua bela mulher o esperando no escritório.
Ben: Boa noite, meu amor. O que faz acordada a essa hora?
B: Estava te esperando.
Ben: Eu disse que chegaria tarde.
B: Me trouxe poesias dessa viagem?
Ben: Mas é claro que sim. Está em uma das malas.
Beatriz continuava olhando-o em silêncio.
Não era o que costumava a fazer quando Bento anunciava a vinda de uma nova poesia.
Ben: O que foi, meu amor? Perdeu o interesse nas poesias? (sorrindo)
B: Não, é que eu...
A voz começava a ficar embargada.
Ben: Aconteceu algo quando eu não estava? Você está bem? O seu pai, ele... (foi interrompido)
B: Eu estou gravida! (sorrindo)
Ben: Grávida? Não... (sorrindo)
B: Sim! (sorrindo)
No mesmo instante, Bento a segurou em seus braços e a beijou docemente.
Os lábios movimentavam ao sabor salgado das lágrimas dela.
B: Eu te amo, te amo!
Ben: Eu sou o homem mais feliz do mundo.
Beatriz sabia o quanto queriam aquela criança, desde o primeiro instante esse bebê fora desejado.
Ele a segurou pela nuca, e a puxou contra seus lábios, enfim teria o seu maior desejo realizado, um herdeiro.
Para seguir com os negócios da família.
Seriam os maiores joalheiros que já se ouviu falar.
Ali, naquele lugar um tanto escuro, Beatriz comemorava junto ao marido a vinda do novo membro da família.
As cortinas do escritório eram pesadas, e iria abafar o som daquela comemoração.
Ele a ergueu em cima da mesa, não era delicado, mas Beatriz não se incomodou com isso.
As mãos de Bento já acariciavam as coxas dela, que já se entrelaçavam em seu tronco a medida em que sua língua se encaixava com a de Beatriz.
Embora já tivessem quase seus quarenta anos, não se sentiam assim.
Sentiam-se cada vez mais jovens.
Os cabelos estavam a essa altura soltos e jogados para trás.
Os olhos fechados para que pudesse se concentrar apenas nas sensações que seu corpo lhe mandava.
Os lábios dele caminhavam lentamente por toda a extensão de seu colo.
Sentia o arrepio percorrer todo o seu corpo.
Ele voltou a altura de seus lábios e a beijou novamente.
As mãos agora, apertavam sem cuidado algum a cintura de Beatriz.
O sutiã já se encontrava jogado em cima da mesa, e seu vestido descia cuidadosamente por suas pernas.
Ele acariciou seu rosto, e com sua ajuda a posicionou de uma maneira perfeita.
A encarou em um profundo olhar, e a puxando para si, a penetrou, arrancando dela um gemido deliciosamente provocador.
Que só fez com que ele intensificasse seus movimentos.
O som da voz dela pronunciando tais ruídos, era maravilhoso... Delicioso.
Ele a mordiscou na orelha, e aprimorou ainda mais seus movimentos chegando com toda a velocidade um quente e delirante gozo.
Ainda sem parar seus movimentos, a beijou nos lábios segurando neles mais um gemido.
E somente depois de ver a respiração dela voltar aos poucos ao normal, ele parou os movimentos e a deixou descansar toda aquela adrenalina.
Após se recomporem, Beatriz o abraçou.
B: Obrigada por tudo, por me fazer tão feliz.
Ben: Desde que te conquistei... Essa é minha razão de viver, te fazer feliz.
Ela o beijou, haviam tentado tanto tempo. Para Beatriz se tornar uma mulher completa, era somente isso que faltava em sua vida, um filho.
Bento era o homem que qualquer mulher pediria aos céus.
-
Era uma gravidez de risco, Beatriz tinha pressão alta e precisava de repouso absoluto. O que não foi nada difícil, afinal, na imensa casa em que moravam, os empregados a rodeavam de serviços e cuidados. Nunca precisou fazer nada, ainda mais agora.
O tempo passou, Beatriz agora tinha uma linda e saudável barriga de 7 meses.
A pequena Ana Beatriz estava a caminho, e Bento estava mais ansioso e desesperado do que a própria Beatriz.
Estava arrumando as roupinhas de sua filha no enorme jardim de sua casa. Era lindo, cheio de pequenos campos de flores, Bento mandou encher de flores quando descobriu que elas encantavam Beatriz. Que podia passar horas e horas apenas observando-as, o dia estava lindo, a brisa trazia para junto dela o delicado perfume das rosas brancas ao lado.
Sentava em um banco de madeira, que já machucavam suas costas pelo tempo que lá estava. A Barriga estava grande demais, e uma posição confortável em um banco de madeira era praticamente impossível. Acariciou mais uma vez sua barriga, e começou a imaginar o rosto do anjo que estava a caminho de sua vida. Cheirava as roupinhas do cesto ao seu lado, tinham cheiro de bebe sem ao menos ter vestido um. O pensamento estava longe quando sentiu um pequeno desconforto.
B: Bia? O que foi filha?
As mãos cuidadosamente passeavam sobre a barriga.
B: O que está sentindo? Quer ouvir mais uma poesia do papai? (sorrindo)
Com certa dificuldade, levantou-se no banco para pegar o cesto e entrar, mas antes de sequer pegar o mesmo.
Foi surpreendida.
S: Olá, filha.
Beatriz recuou de imediato, encostando no banco que estava atrás.
S: Eu vim aqui, porque preciso de dinheiro;
O cheiro de cachaça fazia Beatriz sentir fortes enjoos. Mas o pior, era ver o próprio pai naquela situação.
Estava deplorável, a barba estava tão comprida que chegava a quase alcançar o peito.
As roupas surradas e sujas, provavelmente andara vomitando.
B: O que quer aqui?
S: Você sabe o que eu quero. Sabe o porquê está aqui. Está aqui graças a mim, agora tem tudo do bom e do melhor, é rica, vai até ter um filho.
Ao dizer isso, Sebastião chegou a esticar as mãos para encostar na barriga dela.
Nunca, nunca deixaria aquelas mãos imundas chegarem tão perto do ser mais puro que poderia ter;
B: Você me vendeu, como se eu fosse um bicho, um objeto qualquer.
A expressão de Beatriz era de nojo. As vezes pensava como sua mãe aguentou por tanto tempo aquela situação;
Sebastião segurou forte nos braços de Beatriz.
S: Desgraçada, sequer trouxe seu pobre pai para morar com você. Me deixou naquele lugar imundo que um dia sua mãe chamou de lar. Tudo que tens é graças a mim...
B: Me solta! Está me machucando.
As lagrimas começavam a cair sobre o rosto. Estavam incontroláveis, estava com medo, muito medo. Como quando sua mãe apanhou na sua frente e não pudera fazer nada.
S: Me dá logo o dinheiro! (Gritando)
B: Não! (Gritando meio a lagrimas)
O bêbado deu-lhe um forte tapa no rosto, fora tão forte que Beatriz chegou a cair, não foi um tombo tão grave, ou melhor... Não seria se ela não estivesse grávida de 8 meses e nervosa daquela maneira.
No mesmo instante ela sentiu a forte fisgada em sua barriga.
Sebastião a segurou nos ombros e a sacudiu bruscamente.
S: Não me ignore, sua moleca! (Gritando)
Ela só viu o vulto, Bento passou por ela e jogou-se por cima de seu pai, ela viu os dois caídos ao chão.
Os socos eram fortes, Beatriz via as mãos de Bento ficarem vermelhas. Sua voz não tinha mais tanta força, a dor estava ficando insuportável.
B: Pare... (Sussurrando)
Beatriz começou a ser amparada pelas empregadas, ouviu quando uma delas pediu agua e panos.
B: Minha filha. Por favor... Não deixem que...
_: Por favor senhora, precisa ficar calma.
Ela ainda via Bento ajoelhado no gramado.
B: Bento... Pare...
A voz não o alcançava, parecia não alcançar sequer as empregadas que a amparavam.
B:Por favor....
A dor intensificava.
B:Para!!!!
O grito agora alcançava a todos.
Ele largou o velho ao chão e correu em sua direção;

Ben: Porque? O que estão fazendo? Ainda não é a hora.

terça-feira, novembro 17, 2015

Doce Poesia - 3º Episódio

É claro que isso a apavorou, mas mal se importou, apenas esperou o relógio anunciar a hora.
Não fez comida alguma e sequer se arrumou, e para a sua surpresa a visita que teve em sua a casa, fora de um empregado apareceu dizendo que por ordem de Bento, ainda não moraria no casarão.
Ele queria conquistá-la, e esperaria até que ela viesse por livre e espontânea vontade.
No começo, Beatriz pensou ser algum tipo de brincadeira.
Como podia deixar que ela escolhesse ir com ele?
Nunca!  Nunca se casaria com um homem que aceitou uma aposta valendo sua preciosa liberdade com o pai caindo de bêbado.
Para ela, Bento era como o próprio pai, não passava de um aproveitador.
-
Mas aquele dia foi diferente, um garotinho veio entregar o envelope, e com um doce sorriso, não deixou a caixa de Correios até que ela mesma pegasse o envelope de suas mãos.
B: Olá. Como se chama?
O garoto das bochechas rosadas, respondeu:
_ Cupido. E vim te entregar, isso. (Estendendo-lhe as mãos gordinhas com o envelope)
Beatriz achou graça no garoto, e riu quando viu que ele continuava olhando-a.
B: O que foi?
_Abre.
B: Eu irei abrir quando entrar, pode? (sorrindo)
_Não, tem que abrir agora.
Mesmo pronunciando as palavras um tanto erradas, Beatriz entendeu. Bento dessa vez fora esperto.
Foi então que ela abriu o envelope que recebera tantas vezes.
E nele, continha a Poesia mais linda que já havia lido.
E no fim do papel, uma pequena pétala era colada.
Ela deu um beijo na bochecha do garotinho, e disse para que ele fosse pra casa.
Beatriz não conteve a curiosidade de entrar as pressas em seu quarto e abrir as tantas cartas ao lado de sua cama.
Mal percebeu as horas voarem como as pétalas coladas ao pé da folha de cada linda poesia que leu naquela tarde.
Eram lindas, como se tivessem sido escritas por um anjo.
Sentia o amor aumentar em cada poesia.
Podia agora sentir seu próprio coração pular ao ler a última. Será que receberia mais? Será que deveria responde-las?
O pai chegou e caiu bêbado na sala, mas Beatriz sequer ouviu o barulho da porta ou do corpo se deixando cair.
Estava entretida demais tentando desesperadamente escrever uma resposta delicada o suficiente para Bento.
Queria dizer que não estava pronta para casar-se com ele, mas que adora as poesias que recebe e que sente que pode sentir algo a mais por ele.
Mas como escrever isso?
O início da madrugada chegou, junto com o cansaço e sono de Beatriz, que deixou a carta que escrevera como estava.
Dizia o que pensava, e tentou não parecer grossa ou insensível.
-
No dia seguinte, Beatriz olhou o pai jogado no sofá. O mesmo não saberia explicar como foi parar no sofá pela madrugada.
Ela aguardou o garoto chegar e assim que ele apontou na rua, ela correu espera-lo no portão.
B: Bom dia, será que pode levar essa carta a pessoa que te entrega estas? (mostrando-a com um sorriso)
O garoto assentiu e pegou a carta de sua mão.
Ela foi apaixonando-se, dia a dia... Poesia a Poesia. Exatos quatro meses haviam passado desde então.
Ela como sempre esperou o garoto das cartas, tinha até comprado os biscoitos que prometera a ele, mas dessa vez ele não apareceu... E assim continuou pelos próximos três dias.
Até que no dia em que Beatriz estava decidida a ir até a casa de Bento, o garoto chegou com mais um envelope, e sério, disse:
_Oi, Bia. Pediram pra esperar uma resposta, porque essa é a última.
B: A última? Como assim?
_Eu não sei, só pediram pra dizer isso.
Beatriz abriu a carta e não havia poesia alguma, apenas a seguinte pergunta:
"Aceita se casar comigo? Sim ou não?"
Era certo de que tempo demais se passou desde a "aposta" e que uma decisão era inevitável.
Mas não saberia dizer se estava pronta ou não.
Só sabia que os próximos dias seriam os mais tristes sem as poesias e maravilhosas declarações que recebia.
Ela sentiu o coração acelerar, as mãos ficarem trêmulas.
B: Eu vou responder a carta. Aguarde um minuto.
Beatriz entrou às pressas em casa, e respondeu a carta.
Ao entregar ao garoto, sorriu:
B: Obrigada por esperar.
Começaria ali, uma vida de princesa, deixaria naquela casa, o pai bêbado e todas as lembranças ruins que existia em seu mais profundo ser.
O garoto fora rápido, antes mesmo do entardecer Bento estava em sua casa.
Vestia um terno elegante, parecia que estava a caminho de um baile de gala.
O pai de Beatriz continuava desacordado, agora debruçado junto a mesa da cozinha.
Ela estava sem jeito, a situação era constrangedora, fora prometida de uma forma nojenta, mas se apaixonara da forma mais linda que pudera se apaixonar.
Ela sorria de maneira delicada, o que a fazia corar as bochechas.
B: Por favor, sente-se. Gostaria de um chá? Uma água ou... (foi interrompida)
Ben: Você. Eu quero você, vim te buscar pra te fazer minha mulher.
Ela ficou envergonhada da maneira direta com que Bento disse tais palavras.
Ben: Você escreveu que estava pronta. Você disse que...
B: Eu sei o que disse, Sr. Bento.
Ele não entendia porque as malas já não estavam na sala a sua espera.

Ben: Então?

quarta-feira, novembro 04, 2015

Doce Poesia - 2º Episódio

Ela não entendeu muito bem a colocação do pai, casaria um dia quem sabe, mas sabia que o pai não iria falar nessa colocação.
B: Diz logo! Sabe que não namoro ninguém, que não vou me casar agora, porque está di...
S: Você sabe que eu tenho uma certa dificuldade em perder nos jogos e que – interrompido-
B: Eu não estou gostando disso, essa conversa está torta. Diga logo o que foi que fez.
S: Eu apostei você e perdi.
Ela levantou e riu incrédula.
B:Só pode estar brincando. Eu não sou nenhum objeto pra que possa me apostar em um jogo com os seus amigos bêbados e velhos.
S: Terá uma vida boa, ele é rico e...
B: Você só pode estar muito bêbado mesmo. Como pode achar que eu concordaria com um absurdo desses? Sou maior de idade e não irei me casar com ninguém.
S: Isso não é uma escolha, já está decido.
B: Quem decide a minha vida sou eu, e não um homem que se titula pai.
S: Ele vai cobrar essa dívida, precisa se casar com ele.
B: A dívida é sua e não minha, pague-a como quiser, mas me deixe longe disso.
Era o fim da conversa, Beatriz deixou claro sobre o que decidiu sobre esse absurdo.
Não sabia que as coisas não seriam tão fáceis assim.
Ainda naquele dia, Beatriz se deparou com a última coisa que imaginou passar naquele dia.
As despesas do funeral da mãe, foram um pouco maiores do que esperava.
Passou a tarde toda pensando em como poderia resolver isso, naquele dia conseguiu faxinar duas casas, o dinheiro daria para pagar as despesas, mas em compensação... Mal teria o que comer nos próximos dias.
Antes de anoitecer ela foi pagar as despesas e teve a surpresa, a mesma estava totalmente quitada. E não precisaria de uma bola de cristal para saber de que fora o tal homem rico quem ganhara.
Ao chegar em casa estava cansada, mas teria que conversar com o pai, que para seu espanto, continuava sóbrio desde aquela manhã.
Ela aproximou-se do seu pai, estava sentada em frente a TV. Não assistia nada, apenas olhava para a mesma.
S: O que quer?
B: Sabe o que quero, precisamos conversar.
S: Não precisamos conversar, sabe o que deve fazer. A dívida não é mais minha. Sabe como pagar, agora só me deixe fora disso.
Tal frase continuou ecoando na cabeça da filha de Cecilia, como fazer com essa situação?
Ela não conseguiu encontrar uma saída, mas para sua surpresa, o tal homem rico sequer se manifestou naquela noite, nem naquela e nem pelas próximas duas semanas que se passaram.
Isso em vez de deixar Beatriz tranquila apenas a apavorou ainda mais.
Para aceitar uma aposta como aquela, é claro que seria para levar o prêmio.  Ela deixou como estava, não procurou saber de nada, apenas tentou levar a vida como se nada disso tivesse acontecido.
O Pai já voltara com a bebedeira assim que decidiu por si que a dívida agora pertencia a Beatriz e a ninguém mais.

O Primeiro envelope chegou tímido por debaixo da porta. Ela acordou naquela manhã fria para ir trabalhar no casarão da Rua Oito.
Ao abrir a porta o pé pisou em cima daquele papel um pouco volumoso, ela abaixou e lentamente pegou a carta, o papel era grosso e logo o que viu o brasão lacrando o envelope, entendeu do que se tratava.
Era do homem, enfim se pronunciara, provavelmente queria saber quando teria o seu prêmio.
Ela estava com medo de ler o que estava escrito ali, o medo era maior que a curiosidade, por isso foi até seu quarto e a largou por ali.
Não queria pensar nisso agora, ele não a obrigaria a nada, era livre e dona de si.
Saiu para o trabalho e esqueceu-se daquilo pelo resto da tarde.
Mas era algo que não se tinha como ignorar por muito, e foi o que aconteceu. As cartar começaram a chegar ainda com mais frequência, havia dias em que mais de uma aparecia em sua caixa de correios, e isso começou a assusta-la.
Alguns dias se passaram.
Beatriz estava cansada de chorar, cada envelope que era entregue em seu portão, uma lagrima em seu rosto caia.
Lembrava-se de que não viria mais a sua mãe, que teria que deixar a casa que morou e todas as lembranças que nela ainda continha.
Talvez teria uma coisa boa nisso tudo, nunca mais precisaria ver aquele homem que um dia chamou de pai, que deixava a casa fedendo a cachaça.
Era o fim do jogo. Fora vendida a um homem que nunca viu na vida, como uma moeda de troca.
O garoto que vinha todos os dias em seu portão, era jovem, deveria ter lá os seus 17 anos.
Jogava o envelope em sua caixa de Correios e saia.
Hoje já fazem 20 dias desde que seu pai anunciou que ela agora pertencia a Bento e que iria casar-se e viver com ele para todo o sempre.
O primeiro pensamento, foi fugir. Mas pra onde? Com que dinheiro? Não conhecia nada nem ninguém.
Passou os primeiros dias após a visita, pensando em como faria para livrar-se desse maldito casamento.
Naquela manhã, Beatriz terminava o almoço. Claro que almoçaria sozinha, como sempre. Mas cozinhar, a deixava com a sensação de que sua mãe ainda estava com ela. Que existia alguma coisa boa naquela casa.
O barulho forte da porta batendo, anunciou o pai bêbado adentrando a casa.
Ele chegou na cozinha e logo apoiou-se no batente da porta, a voz um tanto incompreensível, mas cheia de notícias, não boas... Claro.

S: Vista uma roupa decente, faça uma boa comida e espere o Senhor Bento, ele quer te conhecer.
 

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